As gaivotas são aves marinhas que apresentam estrutura social altamente
desenvolvida e comportamentos complexos. São capazes de detectar as correntes
térmicas que se formam acima do mar e de utilizá-las no voo. Usam o voo principalmente
para encontrar alimento. Menos Fernão Capelo Gaivota.
A história dessa gaivota está no livro "Fernão Capelo
Gaivota", de Richard Bach. Uma
gaivota que foi banida do seu grupo por entender que voar era muito mais
importante que comer. Enquanto o bando
de mil gaivotas mergulhava na água em busca de comida, Fernão treinava seus
voos rasantes. Pairava no céu sozinho, longínquo, esfomeado, feliz, aprendendo.
O seu tema era a velocidade. Batia as asas com força e lançava-se em vertiginosa
descida em direção às ondas. Em seis segundos, estava a 120 km/h, velocidade
que desequilibra a asa no arranque para a subida. Quando tentava subir outra
vez, o corpo girava como um parafuso e ele acabava como uma massa de penas que
se esmagava no mar. Tentou dar o mergulho a 600m de altura e estabeleceu um
recorde de velocidade para gaivotas. Mas
no instante em que modificou o ângulo das asas, esmagou-se num mar duro como
tijolo. Quando voltou a si, jurou que seria uma gaivota normal e esqueceria aquela loucura do voo perfeito.
Não haveria mais desafios nem fracassos. Se fosse destinado a voos rápidos,
teria as asas curtas do falcão. Era isso, asas curtas! Tudo o precisava era
fechar as asas o mais que pudesse e voar só com as pontas. Voltou a treinar e atingiu
320 km/h. A velocidade era poder, alegria e beleza pura. Sabia que qualquer
falha o reduziria a fragmentos de gaivota. Fechou os olhos, passou pelas
gaivotas do Bando de Alimentação como
uma bala, fez a curva, espetou o bico para cima e foi reduzindo até conseguir
abrir as asas. Na sua mente latejava o triunfo. Partiu para um mergulho a 2400m
e descobriu que se movesse mais de uma pena, era disparado em movimento
giratório como uma bala de espingarda. E Fernão fez assim as primeiras
acrobacias de uma gaivota viva. Quando se juntou ao bando, estava tonto,
cansado e realizado. Pensou que elas ficariam
loucas de alegria, pois agora haveria uma razão para viver. Mas ele foi banido
do bando pela desastrada
irresponsabilidade, por violar a tradição das gaivotas e por esquecer que as
gaivotas estão no mundo para comer e se manterem vivas. Gritou para o bando :
"quem é mais responsável do que uma gaivota que descobre um significado,
um propósito mais elevado para a vida? Agora temos uma razão para aprender,
para descobrir, para sermos livres!" Todas as gaivotas lhe deram as
costas. A partir dai, viveu solitário e aprendendo cada vez mais. Foi levado
para o paraíso por duas gaivotas brilhantes, onde fazia experimentos de
aeronáutica avançada. Aprendeu com a gaivota mais velha, Chiang, a se
transportar para qualquer lugar do mundo apenas com a força do pensamento.
Ficou preparado para voar no além e conhecer o significado das palavras bondade
e amor. Sentiu saudades do seu grupo na Terra e
voltou como uma gaivota brilhante que voava sem mexer uma
pena. Passou a treinar o Francisco Gaivota, que fora expulso do bando porque
queria alcançar a perfeição no voo. Começaram com o voo planado.
O livro é dedicado ao verdadeiro Fernão Capelo Gaivota que
vive em cada um de nós. Porque, na verdade, todos nós procuramos a liberdade, a
perfeição, o amor, a bondade e o paraíso. Alguns poucos encontram, muitos
outros não.