A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Classificando objetos

O vestido de noiva de 45 anos

O ponto rococó do vestido de noiva que eu mesma fiz

O bonecão e a Tânia

As camisas de estimação do Zé, meu marido

       A necessidade de classificar objetos, animais e plantas,  sempre fez parte da natureza humana. Assim, além da classificação científica dos seres vivos, existem inúmeras outras que variam de acordo com cada classificador, dependendo do contexto em que são criadas. Quando era professora de zoologia, gostava particularmente de uma que aparece em certa enciclopédia chinesa. Os animais foram classificados em: 1) pertencentes ao imperador 2) embalsamados 3) domesticados 4) leitões 5) sereias 6) fabulosos 7) cães em liberdade 8) incluídos na presente classificação 9) que se agitam como loucos 10) inumeráveis 11) desenhados com pincel muito fino de pelo de camelo 12) etc 13) que acabam de quebrar a bilha 14) que de longe parecem mosca. Acho-a genial;  penso que foi o imperador quem a fez e agrupou no primeiro item a maioria dos animais. Os que não sabia, colocava no "etc" ou no "inumerável".
          Agora, estou passando por um momento histórico e necessito classificar milhares de objetos, por motivo de mudança de casa para apartamento. Deveria ser uma coisa simples, mas é mais difícil do que escalar o monte Everest. Como o imperador, estou classificando os objetos em: 1)Levar para o apartamento 2)Reformar e levar 3) Doar para o "cata treco" da prefeitura 4) Doar para reciclagem 4) Doar para as escolas 5) Doar para algum museu ou brechó 6) Doar escondido do Zé, meu marido 7) O  que faço com isso 8) Fotografar e colocar em site para vender 9) Abandonar na casa 10) Deixar na calçada pra alguém catar 11) Levar pra fazenda 12) Usar a criatividade e transformar em presente 13) Colocar no carro e sair perguntando quem quer.
       Dando alguns exemplos : dia destes, conforme item "colocar no carro", enchi o mesmo de eletrônicos e sai perguntando nas lojas de conserto se queriam  aproveitar as peças. Ninguém queria, mas apareceu um senhor que estava montando uma escolinha e levou tudo. Em "doar para as escolas", levei duas caixas de papelão imensas, com livros de ensino médio para uma escola estadual. No item "reformar e transportar", está um catre de 200 anos, que foi da minha bisavó, vou fazer pátina nele. Em "transformar em presente", descobri as cartas do meu filho, escritas há 22 anos, quando ele estava em Londres. Interessantíssimas e detalhadas. Organizei em um fichário e dei de presente pra ele, nunca receberá outro igual. No item "doar pra algum museu", está o meu bonecão de louça que ganhei  do meu pai, quando o de papelão derreteu. Em "o que faço com isso", está a caixinha com os dentinhos de leite dos seis filhos e o meu vestido de noiva, feito de crochê rococó, pontinho por pontinho. E a Tânia, uma boneca única, que teve seus grandes olhos azuis arrancados pelo filho em briga com a irmã (foram recolocados). Em "doar escondido do Zé", estão as camisas do time querido dele, o XV de Novembro, extinto há séculos.
     Existem ainda milhares de objetos para dar um destino a eles. Não sei porque guardamos e temos tanta tranqueira. Lembro-me que, quando minha filha fez o Caminho de Santiago, passou 40 dias caminhando e carregando uma pequena mochila com poucos pertences. Uma das lições que aprendeu na peregrinação foi que precisamos de muito pouco para viver. Além de tudo, o marido e o filho estão fazendo um complô para não nos mudarmos.Qualquer coisa, altero minha lista para "Classificação de objetos e pessoas", tiro fotos deles e coloco no site de vendas.