Obs: Texto escrito por mim, com os
depoimentos do meu marido, José de Paulo.
Tenho
acompanhado com atenção os noticiários sobre as correções das redações do Enem.
Fui presidente da Comissão Permanente de Vestibular (COPEV) da UFU no período
de 1981 a
1993, quando era obrigatória, por lei, a existência de redação no vestibular. A
correção sempre foi preocupante, mesmo com examinadores capacitados, envolvidos
e treinados. Embora existissem critérios de correção bem definidos, a nota
variava de examinador para examinador. E diferenças mínimas de notas, em cursos
concorridos, podem classificar um aluno e eliminar outro. Assim, embora seja
inegável que o aluno precise escrever bem ao ingressar na universidade, a
redação, em um processo seletivo, não é apropriada para avaliar isso, pois a correção
não é confiável.
Dando um exemplo concreto: os instrumentos de
medições de variáveis naturais devem ter precisão, sem a qual esses
instrumentos perdem suas finalidadades. Citamos repetitividade, sensibilidade,
justeza, confiabilidade. Podemos ilustrar isso com o uso de termômetro para
medir a temperatura de um sistema. Se o termômetro possui a característica da
repetitividade, deve indicar a mesma temperatura para o mesmo sistema quantas
vezes for medida; terá sensibilidade se for capaz de indicar pequenas variações
reais de temperatura para o mesmo sistema; terá justeza se indicar o mesmo
valor de temperatura para diferentes sistemas de igual temperatura. Ao
apresentar essas três características, o termômetro então será confiável. A
ausência de confiabilidade compromete instrumentos como medidores de pressão, de
nível, de comprimento, de tempo, de umidade relativa, de velocidade e outros.
Fazendo um
paralelo com as redações, a falta de confiabilidade na correção das mesmas
compromete a redação como sendo uma maneira eficaz de avaliar o conhecimento do
aluno de forma quantitativa. A nota atribuída a cada redação deveria ser
confiável, aproximando-se o mais possível da confiabilidade ideal. Dessa forma,
a correção criteriosa de uma redação resultaria em uma nota que seria sempre
repetida, qualquer que fosse o examinador. No entanto, isso não acontece,
conforme vivenciei enquanto presidente da COPEV. Na época, testava a correção
enviando cópias de uma mesma redação para diferentes bancas. A redação valia
trinta pontos e cada banca era composta por três examinadores. Cada um atribuía
nota de zero a dez, sendo a nota final a somatória das três notas. Era
preocupante como as notas de uma mesma redação variavam muito de uma banca para
outra. E, mais espantoso ainda, se a mesma redação fosse corrigida duas vezes
por uma mesma banca, as notas seriam diferentes. Quando a redação deixou de ser obrigatória,
propus à UFU a exclusão da redação como instrumento de avaliação do aluno no
vestibular, mas não obtive êxito.
Agora, leio na
Revista Veja (27/03/2013) que o Enem pode virar piada por causa da correção das
redações. Receita de Miojo, hino do Palmeiras e erros grosseiros de português
foram bem avaliados. Os 4,2 milhões de redações foram corrigidas por 5.596
profissionais, que gastaram cerca de 1,5 min em cada redação para avaliar itens
complexos como o domínio da norma culta da língua e a capacidade de construir argumentações
sólidas sobre o tema. Tudo isso vem reforçar minha opinião de que a redação é uma
forma injusta de avaliar os alunos ingressantes nas universidades. Deveria ser
excluída do Enem e de qualquer outro processo seletivo.
José de Paulo
Carvalho
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