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domingo, 7 de abril de 2013

Redação no Enem


Obs: Texto escrito por mim, com os depoimentos do meu marido, José de Paulo.

Tenho acompanhado com atenção os noticiários sobre as correções das redações do Enem. Fui presidente da Comissão Permanente de Vestibular (COPEV) da UFU no período de 1981 a 1993, quando era obrigatória, por lei, a existência de redação no vestibular. A correção sempre foi preocupante, mesmo com examinadores capacitados, envolvidos e treinados. Embora existissem critérios de correção bem definidos, a nota variava de examinador para examinador. E diferenças mínimas de notas, em cursos concorridos, podem classificar um aluno e eliminar outro. Assim, embora seja inegável que o aluno precise escrever bem ao ingressar na universidade, a redação, em um processo seletivo, não é apropriada para avaliar isso, pois a correção não é confiável.
 Dando um exemplo concreto: os instrumentos de medições de variáveis naturais devem ter precisão, sem a qual esses instrumentos perdem suas finalidadades. Citamos repetitividade, sensibilidade, justeza, confiabilidade. Podemos ilustrar isso com o uso de termômetro para medir a temperatura de um sistema. Se o termômetro possui a característica da repetitividade, deve indicar a mesma temperatura para o mesmo sistema quantas vezes for medida; terá sensibilidade se for capaz de indicar pequenas variações reais de temperatura para o mesmo sistema; terá justeza se indicar o mesmo valor de temperatura para diferentes sistemas de igual temperatura. Ao apresentar essas três características, o termômetro então será confiável. A ausência de confiabilidade compromete instrumentos como medidores de pressão, de nível, de comprimento, de tempo, de umidade relativa, de velocidade e outros.
Fazendo um paralelo com as redações, a falta de confiabilidade na correção das mesmas compromete a redação como sendo uma maneira eficaz de avaliar o conhecimento do aluno de forma quantitativa. A nota atribuída a cada redação deveria ser confiável, aproximando-se o mais possível da confiabilidade ideal. Dessa forma, a correção criteriosa de uma redação resultaria em uma nota que seria sempre repetida, qualquer que fosse o examinador. No entanto, isso não acontece, conforme vivenciei enquanto presidente da COPEV. Na época, testava a correção enviando cópias de uma mesma redação para diferentes bancas. A redação valia trinta pontos e cada banca era composta por três examinadores. Cada um atribuía nota de zero a dez, sendo a nota final a somatória das três notas. Era preocupante como as notas de uma mesma redação variavam muito de uma banca para outra. E, mais espantoso ainda, se a mesma redação fosse corrigida duas vezes por uma mesma banca, as notas seriam diferentes.  Quando a redação deixou de ser obrigatória, propus à UFU a exclusão da redação como instrumento de avaliação do aluno no vestibular, mas não obtive êxito.
Agora, leio na Revista Veja (27/03/2013) que o Enem pode virar piada por causa da correção das redações. Receita de Miojo, hino do Palmeiras e erros grosseiros de português foram bem avaliados. Os 4,2 milhões de redações foram corrigidas por 5.596 profissionais, que gastaram cerca de 1,5 min em cada redação para avaliar itens complexos como o domínio da norma culta da língua e a capacidade de construir argumentações sólidas sobre o tema. Tudo isso vem reforçar minha opinião de que a redação é uma forma injusta de avaliar os alunos ingressantes nas universidades. Deveria ser excluída do Enem e de qualquer outro processo seletivo.

José de Paulo Carvalho




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