A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Não é bem assim

Luiz Cláudio puxando o cavalo com a Maíra, Vitória e Breno

Zé na varanda olhando o gado e a chuva chegando

        Fazenda lembra leite e queijo fresquinhos, gado no curral, cheiro de mato, canto de passarinhos,  jabuticaba no pé, comida no fogão de lenha, céu estrelado. Natureza, paz e amor. Mas não é bem assim.
        Por exemplo, só a viagem para chegar até a fazenda pode se transformar em uma epopeia. Como da última vez que fui com o Zé (meu marido) dois filhos, dois netos, três  cachorras e uma tranqueira.  Começou com o planejamento: quem vai, no carro de quem, quantos cabem, sai e volta qual dia, quanto de bagagem (item que  inclui desde pneu de trator até veneno de rato). Os filhos médicos  só poderiam sair a tarde e o Zé não concordou. Nunca transitaria á noite nos buracos enormes, tipo cratera, que existem na BR 365 nas proximidades de Pirapora, perigoso  demais. Fomos e o Zé ficou, justo quem mais precisava ir. Iria à noite, de ônibus, pois assim passaria pelos buracos de manhã. Levamos a bagagem dele, só ficou um saquinho com os seus remédios pra ele levar. Fomos bem, no carro Kia de sete lugares, com a cachorras perdigueiras Dama e a Fiona quietinhas dentro da gaiola, a Duda latindo esporadicamente e o Breno, de dois anos, puxando o cabelo e dando uns beliscões na Maíra, de oito. Chegamos às 22 h na fazenda Água Verde, onde dormimos para continuar a viagem para a fazenda Olhos Dágua no dia seguinte. Arrumei as camas, ajeitei a casa, as crianças e as bagagens. Os dois filhos saíram de madrugada, em outro carro, para uma fazenda onde eles têm um reflorestamento de eucaliptos, dormiriam por lá.  Fiquei sozinha com os netos e com a incumbência de buscar o Zé na rodovia às seis horas, quando o ônibus passaria na porteira da fazenda. Acordei os  netos e peguei a estradinha de terra. Esperamos um bom tempo e ele não chegou. Daí consegui receber uma mensagem do filho (lá não tem sinal de celular), avisando que não precisava esperar porque o ônibus havia batido! Felizmente complementou que o Zé estava bem. E só, mais nada.  O Zé chegou às 11h, de carona, nem sei como. Desceu do carro abatido e mancando. Perguntei: "Nossa, Zé, você machucou? " E ele: "Não, é a gota". Puxa vida, foi a primeira vez em 30 anos que ele foi de ônibus, o ônibus desta linha nunca tinha batido, bateu em outro numa reta com asfalto bom e a gota ainda atacou o joelho dele! Muito azar, e tudo porque se negou a ir de carro conosco. Ainda por cima, levou o saquinho de remédios errado, trocou tudo.
          Continuando a saga, fiz almoço com o que tinha e fiquei por ali com os netos para o Zé dormir e descansar antes de seguirmos para pegar a balsa, atravessar o São Francisco e chegar ao destino final. Coloquei o Breno e a Maíra em cima de um trator velho. O Breno esbarrou o braço em uma caixa de marimbondos atrás do banco e foi um ataque em massa. Ele despencou, aos gritos, lá de cima. Eu fui muito ágil e consegui aparar a queda. Mas só no bracinho ele levou 27 ferroadas. Eu levei várias também. A Maíra correu como nunca e levou só uma, mas gritou como se fossem 50 (um perigo, se o Breno fosse alérgico, teria morrido). Coloquei-o debaixo do chuveiro e dei novalgina, fazer o que . Com o berreiro, o Zé nem dormiu. Resolvemos seguir viagem e pegar a balsa das 15h.  Colocamos as tranqueiras no carro novamente e lá fomos, com o Breno apaixonado e choroso, mostrando com o dedinho o local das ferroadas, coitadinho.   Tivemos que parar em uma cidadezinha pro Zé comprar os remédios, demorou muito e quase perdemos a balsa. Durante a travessia, quando estávamos quase na outra margem, olhei para o horizonte e vi uma tempestade escura chegando. Tão rápida quanto pude, coloquei os netos dentro do carro e a cachorrinha. Mas a chuva foi mais rápida e como era uma chuva de pedras,  levei umas boas pedradas antes de conseguir entrar no carro.
            Depois, pegamos uma estradinha de terra, com o Zé todo feliz por estar chovendo na fazenda. Quando chegamos, nem deu tempo de pensar: "até que enfim!", pois a casa estava toda inundada, tinha goteira pra todo lado, descia água pelas paredes. A casa da sede é agradável e bonita, a Globo até filmou lá o curta metragem "Dia de Reis". Mas neste dia estava um caos.
            Tudo isso foi apenas para chegar. Teve muito mais. Por exemplo, a Dama tem medo de boi e vaca. Encontrou alguns pelo pasto e saiu em disparada, desapareceu. Foi uma tristeza geral e muita busca, até que um dia, como mágica, ela apareceu na varanda, esfomeada. E a Fiona parece que pegou alguma virose por lá e morreu 15 dias depois que voltamos. Quando estava doente, nem tinha ânimo de sair atrás dos ninhos de galinha de Angola que existem no condomínio onde meu filho mora. Pois a Dama encontrou um ninho, pegou um ovo com a boca e levou para a Fiona. Foi o último ovo que ela comeu. Coisas de cortar o coração.
            Bem, agora é tomar fôlego para a próxima viagem à fazenda. Sossego, só em sonhos.