A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Abelhas: um outro olhar

Abelha europa visitando flores de mataiba

Quem pensa em abelhas, geralmente se lembra das ferroadas e do mel. Como contado no livro “Insetos no folclore.” Apareceu no museu da USP uma senhora aflita e amedrontada, querendo fazer uma consulta sobre insetos. Disse que seu filho, já adulto, havia sido ferroado por um inseto e desejava saber se o inseto era perigoso ou não.O funcionário mostrou-lhe uma gaveta da coleção de abelhas, com vários exemplares de mamangavas. “Foi esse, foi esse”, disse alvoraçada, querendo saber se a ferroada era mortal. Recebeu a explicação de que era muito dolorosa e causava inchaço no local, mas se a vítima não fosse alérgica, não haveria perigo maior. Reconfortada e mais tranquila, explicou que o filho havia sido ferroado por uma mamangava e os colegas de trabalho garantiram que ele morreria depois de sete anos. E acrescentou: “É nesta semana que se completa o prazo...”
             Mas, além das ferroadas, as abelhas tem seu encantamento. Jataí, irapuá, mandaçaia, mamangava, uruçu, jandaíra, abelha europa, moça branca, etc: todas dignas de admiração e de respeito. Morfologicamente, apenas um pequeno inseto, a grande maioria com menos de um centímetro. Mas com coração, aorta, cérebro, gânglios nervosos, glândulas salivares. Com sofisticado sistema sensorial e neuromotor. Com olhos compostos que percebem tons que nem os olhos humanos conseguem, como o ultravioleta (uma flor azul é vista pelas abelhas em vários tons azulados e ultravioleta). Com antenas com função de tato, olfato, audição e gustação, extremamente eficientes (o zangão sente o cheiro de uma rainha virgem a 10 km de distância). Com papo de mel, onde carregam o néctar e com escopas ou corbículas para transportar o pólen. Uma perfeição.
            As abelhas também possuem um incrível sentido de orientação e sempre encontram o caminho de volta para o ninho. Algumas comunicam a fonte de alimento com dança e outras usam trilhas de cheiro até o alimento. Na reprodução, há comportamentos fascinantes. As solitárias cavam o solo, fazem túneis, aprovisionam as células, ovipositam e morrem antes das crias nascerem. Nas abelhas sociais, os zangões morrem depois da cópula (mas para eles é a glória), a rainha armazena espermatozóides viáveis por toda a sua vida (em torno de cinco anos, dependendo da espécie) e as operárias altruístas deixam de cuidar de seus próprios filhos para cuidarem dos filhos da rainha.
            Além disso, são arquitetas fantásticas. No ninho, usam cera, batume e cerume para construírem a entrada, o invólucro que mantém a temperatura constante, os potes de alimento, o depósito de detritos e a galeria de drenagem da água. Uma obra majestosa. As operárias, de acordo com a idade, são faxineiras, nutrizes, engenheiras, guardas, campeiras e morrem com cerca de 60 dias, com as mandíbulas e asas gastas de tanto trabalhar. Vivem em uma sociedade perfeita, bem mais perfeita que a humana.
            Isso tudo sem mencionar o importante papel das abelhas na polinização, na apicultura e meliponicultura. Onde houver flores, ai estarão também as abelhas. Numa  interação abelha-planta, que vem evoluindo ao longo de milhões de anos. Estudei essa maravilhosa interação na minha tese de doutorado, na esperança de contribuir para um melhor conhecimento sobre as abelhas. E quem sabe, ajudar a preservá-las, pois só se respeita e se preserva aquilo que se conhece. 

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Vacas e bezerros

       Ando preocupada com as vacas e seus bezerros, por causa de algumas coisas que ando vendo e ouvindo. Dia desses, fui à fazenda com o Zé, meu marido (minha mãe sempre dizia que mulher tem que acompanhar o marido). Mas eu não sabia que ele tinha comprado, em leilões, vários bezerros recém desmamados de suas mães, uns duzentos. Cada lote foi colocado em curral separado, em frente da casa da fazenda. Os bezerros eram da raça nelore, branquinhos, e se um disparava na frente, o bando todo ia atrás. Era até bonito de se ver. O problema é que os bezerros berravam dia e noite, bem alto, em coro, clamando pela mãe e por seu leite. Um berreiro de dar dó. À noite, a gente dormia (ou tentava) ouvindo aquele lamento grupal. Segundo o funcionário da fazenda (com total apoio do Zé), os bezerros deveriam ficar presos três dias, passando fome. Assim, quando fossem soltos no pasto, estariam tão esfomeados que só pensariam em pastar e não iriam fugir desatinados, pulando cercas e se afogando no rio, à procura do leitinho da mãe. Ou seja, era uma forma de proteger os bezerros. Achei essa técnica uma crueldade, uma forma de explorar os laços entre mãe e filho e pensei em chamar a Sociedade Protetora dos Animais. Voltei da fazenda com o coração partido e o Zé feliz da vida com seus lotes de bezerros.
            Agora, esta semana, o Zé estava explicando pra mim tudo sobre pastagem e como estava fazendo com o gado durante a seca, para ele, o gado, não passar fome (sei que um casal precisa dialogar, mas nem tanto). Se é que consegui entender, o gado de uma fazenda estava sendo salvo pela tiririca, que brota justo quando o capim braquiaria está seco e os outros tipos de capim (quais mesmo?) ainda não nasceram. O gado gosta da tiririca quando está nova e macia. Acontece que na outra fazenda não tinha tiririca (será porquê?) e os funcionários tinham que cortar um caminhão cheio de cana, todo dia, para alimentar o gado. Mesmo assim, morreram de fome e fraqueza vários bezerrinhos que foram retirados da mãe muito cedo e vendidos nos leilões (e o Zé, malvado, comprou os bezerros). Como foram desprovidos do leite materno precocemente, não suportaram a seca. Novamente, fiquei triste pelos bezerros e agora estou sempre do lado das vacas, sofrendo com elas e torcendo por elas.
            Por tudo isso, gostei de uma questão da última prova do ENEM. Nela existe o texto: “De acordo com o relatório “A grande sombra da pecuária”, feito pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, o gado é responsável por cerca de 18% do aquecimento global, uma contribuição maior que o setor de transportes.” O aluno deveria  assinalar a letra A, de forma a completar a seguinte frase: “A criação de gado em larga escala contribui para o aquecimento global por meio da emissão de metano durante o processo de digestão”. Trocando em miúdos, quando bois, vacas e bezerros soltam “puns” e arrotos, o gás metano que liberam na atmosfera contribui mais para o aquecimento global que os gases liberados por veículos. Isso já foi comprovado e não há como inocentar as vacas e seus bezerrinhos. Mas nessa questão da prova tem um desenho em quadrinhos de duas vaquinhas simpáticas conversando. Uma diz : “Colocaram a culpa do aquecimento global nas vacas”. A outra então pergunta: “E o que faremos?’. A primeira vaquinha pensa e responde: “Culparemos as galinhas”. Como agora defendo as vacas, estou com elas, a culpa é das galinhas.