Colchão de ótima qualidade,
Existem
pessoas especialistas em todos os tipos
de assuntos, e algumas especialidades são inacreditáveis. Por exemplo, descobri
que nos States existe especialista em acabar com os piolhos do couro cabeludo,
quando a minha netinha apareceu com piolhos. Ela era apenas uma entre milhões
de pessoas que anualmente pegam piolho no mundo inteiro, esse inseto
ectoparasita e cosmopolita. Apesar de não ter asas e não pular, movem-se
rapidamente de uma cabeça para outra quando os cabelos estão em contato direto.
E basta uma fêmea fecundada pra povoar uma cabeça inteira, pois cada fêmea, que
vive em torno de um mês, pode colocar cerca de 100 ovos. Assim, minha netinha
deve ter encostado o cabelo em algum "piolhento", ou usado o boné de
alguém que tinha piolho, e pronto. Começou a coceira característica e a
sensação de pezinhos caminhando entre os cabelos. Como o processo de retirar
piolhos e lêndeas é demorado e tedioso (um pouco nojento também), minha filha
optou por chamar uma especialista, por sessenta e cinco dólares a hora. A
especialista só usou produtos naturais (nada disto de pulverizar Neocid,
enrolar uma toalha na cabeça e deixar a pessoa coçar até chegar á beira da
loucura). Ela tirou piolho por piolho, lêndea por lêndea, repassou fio por fio
e falou sem parar sobre os piolhos, pois conhecia profundamente o assunto. A netinha
ficou três horas sentada na cadeira,
assistindo TV e maravilhada com uma pessoa mexendo e lavando seus longos cabelos
(mas saiu caro).
Também eu passei agora por uma
experiência com uma especialista, mas em colchão . O meu colchão de casal
estava bem velho, com um afundado no local onde o Zé, meu marido, dorme. Fui
então em três lojas fazer uma pesquisa de mercado para comprar outro. Tive que
investigar as melhores marcas e os preços. Deitei-me em vários colchões, para
experimentar: de lado, de costas, com e sem travesseiro; macio, firme, duro.
Com tanto tipo e marca, fiquei confusa e me encaminharam para uma especialista
em colchão. Piorou. Como a profissional dos piolhos, falou demais: sobre
molejo, pillow, tecnologia suíça, Instituto Nacional de Estudos de Repouso
(nunca pensei que existisse), mola ensacada, ação bactericida, densidade da
espuma, qualidade, garantia etc. Eu só queria mesmo era um colchão gostoso para
dormir. Depois de muita indecisão, optei por um de 38 cm de altura, com seis
selos de certificação, aprovado em todos os quesitos e em promoção. Tinha até
bordas de aço com alto teor de carbono, active protection, poly board e ISO
9001. Mas quando foi colocado na cama ficou altíssimo e a cabeceira da cama
desapareceu. O Zé começou a falar que tinha que escalar o colchão para deitar.
Que ia mandar cortar o pé da cama ou arrumar uma escada. Que se caísse da cama,
no mínimo quebraria a perna. Que teria que treinar algum salto para descer de
uma vez. Que ele nunca mais conseguiria calçar a botina sentado na cama. Que
estava difícil descer do segundo andar para o térreo. Que preferia o colchão antigo,
mesmo afundado. Depois de quatro dias dessa ladainha insuportável, fui até
à loja pedir à especialista para trocar
o colchão. Aleguei que ela explicou tudo, menos que o colchão ficaria tão alto,
inadequado para dois velhinhos. Consegui trocar por um de 28 cm, sem tantos
selos de certificação.
E assim, com a ajuda das
especialistas, estamos todos felizes: minha netinha sem piolhos e o Zé e eu
dormindo o sono dos justos.
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