A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Os piolhos e o colchão

Pediculus humanus capitis, o famigerado piolho

Colchão de ótima qualidade,
            Existem pessoas  especialistas em todos os tipos de assuntos, e algumas especialidades são inacreditáveis. Por exemplo, descobri que nos States existe especialista em acabar com os piolhos do couro cabeludo, quando a minha netinha apareceu com piolhos. Ela era apenas uma entre milhões de pessoas que anualmente pegam piolho no mundo inteiro, esse inseto ectoparasita e cosmopolita. Apesar de não ter asas e não pular, movem-se rapidamente de uma cabeça para outra quando os cabelos estão em contato direto. E basta uma fêmea fecundada pra povoar uma cabeça inteira, pois cada fêmea, que vive em torno de um mês, pode colocar cerca de 100 ovos. Assim, minha netinha deve ter encostado o cabelo em algum "piolhento", ou usado o boné de alguém que tinha piolho, e pronto. Começou a coceira característica e a sensação de pezinhos caminhando entre os cabelos. Como o processo de retirar piolhos e lêndeas é demorado e tedioso (um pouco nojento também), minha filha optou por chamar uma especialista, por sessenta e cinco dólares a hora. A especialista só usou produtos naturais (nada disto de pulverizar Neocid, enrolar uma toalha na cabeça e deixar a pessoa coçar até chegar á beira da loucura). Ela tirou piolho por piolho, lêndea por lêndea, repassou fio por fio e falou sem parar sobre os piolhos, pois conhecia profundamente o assunto. A netinha ficou  três horas sentada na cadeira, assistindo TV e maravilhada com uma pessoa mexendo e lavando seus longos cabelos (mas saiu caro).
            Também eu passei agora por uma experiência com uma especialista, mas em colchão . O meu colchão de casal estava bem velho, com um afundado no local onde o Zé, meu marido, dorme. Fui então em três lojas fazer uma pesquisa de mercado para comprar outro. Tive que investigar as melhores marcas e os preços. Deitei-me em vários colchões, para experimentar: de lado, de costas, com e sem travesseiro; macio, firme, duro. Com tanto tipo e marca, fiquei confusa e me encaminharam para uma especialista em colchão. Piorou. Como a profissional dos piolhos, falou demais: sobre molejo, pillow, tecnologia suíça, Instituto Nacional de Estudos de Repouso (nunca pensei que existisse), mola ensacada, ação bactericida, densidade da espuma, qualidade, garantia etc. Eu só queria mesmo era um colchão gostoso para dormir. Depois de muita indecisão, optei por um de 38 cm de altura, com seis selos de certificação, aprovado em todos os quesitos e em promoção. Tinha até bordas de aço com alto teor de carbono, active protection, poly board e ISO 9001. Mas quando foi colocado na cama ficou altíssimo e a cabeceira da cama desapareceu. O Zé começou a falar que tinha que escalar o colchão para deitar. Que ia mandar cortar o pé da cama ou arrumar uma escada. Que se caísse da cama, no mínimo quebraria a perna. Que teria que treinar algum salto para descer de uma vez. Que ele nunca mais conseguiria calçar a botina sentado na cama. Que estava difícil descer do segundo andar para o térreo. Que preferia o colchão antigo, mesmo afundado. Depois de quatro dias dessa ladainha insuportável, fui até à  loja pedir à especialista para trocar o colchão. Aleguei que ela explicou tudo, menos que o colchão ficaria tão alto, inadequado para dois velhinhos. Consegui trocar por um de 28 cm, sem tantos selos de certificação.
              E assim, com a ajuda das especialistas, estamos todos felizes: minha netinha sem piolhos e o Zé e eu dormindo o sono dos justos.



Nenhum comentário:

Postar um comentário