A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O "cola rato"


            Tudo começou quando encontrei um camundongo nadando na vasilha de beber água da Mel, a nossa cachorrinha yorkshire. O mamífero roedor, da espécie Mus musculus, com dentes incisivos desenvolvidos, orelhas e caudas longas, pêlos cinzentos e macios, tentava desesperadamente subir pelas paredes escorregadias. Olhando a cena, fiquei num terrível dilema: matar o camundongo (ratinho), salvá-lo, fingir que não vi nada, chamar a Mel para estraçalhar o roedor, esperar até ele morrer afogado. Vendo que era valente e esforçado e pensando no bem que presta à ciência como cobaia de laboratório, resolvi salvá-lo. Coloquei a vasilha na poltrona do carro e fui devagar até um terreno baldio, que já deveria mesmo estar cheio de ratos, mais um não faria diferença. A cada solavanco, a água mexia e o ratinho quase saia (se saísse, poderia me dar umas mordidas, transmitir doenças  ou eu poderia trombar o carro quando atacada). Joguei a água com o ratinho no chão e ele saiu correndo, rápido e encharcado.
Teria sido uma história com final feliz, se não tivesse aparecido vários outros ratinhos na cozinha (provavelmente vindos de um lote vago perto de casa) e se eu não tivesse contado o episódio para o Zé, meu marido. Ele tem nojo, asco, aflição, medo, pavor, histeria, repulsão e repugnância de ratazana (Rattus norvegicus), rato (R. rattus) e camundongo (Mus musculus), qualquer espécie. Ficou chocado por eu ter salvado o ratinho. Depois disso, a cada dia surgia outro na cozinha, correndo para debaixo do fogão e desaparecendo como por encanto. A Mel, a cachorrinha, entrou em desespero. Latia sem parar e passava noite e dia de tocaia, olhando debaixo do fogão e da geladeira. O filho adolescente e os netos também faziam plantão, quietinhos na cozinha, esperando os ratinhos, armados com vassouras e rodos (até acenderam o forno, para ver se torravam os pequeninos e nada). Conseguiram, com ajuda da Mel, desentocar e matar três, a pauladas, uma carnificina.  
Com tudo isso, o Zé foi ficando estressado. Saiu e voltou com um arsenal de pegar ratos: uma ratoeira, uma gaiolinha incrementada com um fundo falso (que abaixava quando o ratinho ia comer a isca), e um “cola rato”. Esse último é genial: um papelão dobrado, “made in China”, com instruções de uso e desenho de um rato enorme, com bigodinhos salientes. Dentro, uma cola poderosa, grossa e amarela (conforme descobri, colava tudo mesmo: mão, sapato, cachorro, rato). O papelão deveria ser colocado aberto no caminho dos ratinhos, de preferência com isca de queijo ou banana. Os roedores, quando passassem por cima, ficariam grudados na cola. O arsenal foi todo montado e ficamos aguardando os resultados.
A ratoeira e a gaiolinha não funcionaram, os ratinhos pressentiam o perigo e nem se aproximavam. Mas o “cola-rato”, colocado debaixo do fogão, grudou um ratinho. Ele esperneou, o papelão veio pra frente, a Mel terminou de puxá-lo com as patinhas, pulou no papelão, abocanhou o ratinho e ficou presa. Quando vi a cena, quase desmaiei, mas fui acudir. Depois de muitos gritos (meus), latidos (da Mel) e grunhidos (do ratinho), consegui desgrudá-la, mas os lindos e sedosos pêlos do lado esquerdo do corpo ficaram na cola. O ratinho foi pro lixo e a Mel foi tosada.
Bem, contei toda essa tragédia para ajudar, com essa experiência, as pessoas que talvez passem por uma invasão de ratinhos. Usem o “cola-rato”, é eficiente e custa cinco reais, mas retirem gatos e cachorros de perto.