A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O sorriso do Moisés

Moisés com vinte dias

               Esse Moisés não é o profeta da Bíblia, que nasceu no Egito, foi colocado em um cestinho no rio Nilo e adotado pela filha do Faraó. Esse Moisés é o meu neto número 11 que nasceu em novembro, em Serra Grande, perto de Ilhéus, o terceiro rebento da minha filha.
            Ele veio ao mundo de parto natural (natural demais), assistido apenas por uma parteira de origem indígena e pelo meu genro. A filha, que não tem medo das dores, depois de dez horas de contrações e nenhuma anestesia, deu a luz de cócoras e realizou o sonho de ter um bebê quase sozinha. Aliás, parece que na Bahia isso é muito normal. O motorista de táxi, que me conduziu até a praia de Algodões, contou-me que já nasceram duas crianças dentro do seu táxi, no caminho entre Itacaré e Ilhéus. Ele fez o parto tão direitinho que a família o chamou para padrinho. Também a Elizabeth, mãe do meu genro e que tem nome de rainha, teve onze filhos, sozinha e Deus.
        Mas, voltando ao Moisés, parecia que tudo estava bem. Ele era forte, chorou ao nascer, era moreninho e a cara do pai. Apenas não tinha tanta vontade de mamar e no primeiro dia de vida já estava um pouco amarelinho. No segundo dia, assim que o conheci, a filha e eu o levamos a uma pediatra em um hospital em Ilhéus. A médica o diagnosticou com icterícia do recém nascido que ocorre antes das 24h de vida, por incompatibilidade do sistema ABO (mãe tipo sanguíneo O e Moisés tipo B) e indicou imediata internação hospitalar. Feito o exame de sangue, verificou-se que a taxa de bilirrubina dele estava em 27 mg/100ml (o normal seria em torno de 1 a 5). Muito perigoso, pois a bilirrubina pode se impregnar no cérebro, causando surdez, paralisia cerebral, retardo mental e mesmo a morte. E não é possível saber a que momento do processo isso vai acontecer. Ele estava no limite para fazer a exsanguineotransfusão, ou seja, trocar todo o sangue, um procedimento arriscado (se tivesse nascido em hospital, poderia ter sido socorrido mais cedo). Em Ilhéus, não havia como, teríamos que ir às pressas para algum hospital em Salvador. Tentou-se então a fototerapia intensiva, mas com aparelhos precários, mesmo sendo o melhor hospital de Ilhéus. Assim, a Ilhéus que vivenciei não foi aquela do Jorge Amado, da Gabriela que tinha o cheiro do cravo e a cor de canela. Passamos lá, a filha e eu, muita aflição, muita dor e muita angústia. Depois de quatro dias de fototerapia, o bebê teve alta com bilirrubina ainda de 20 (ou seja, não poderia ter saído do hospital). Enfrentamos uma estrada de chão horrível (o Moisés com seis dias e a mãe cheia de pontos, dirigindo) e fomos pra casa. Ficamos um dia apenas. Depois de contatos com outros médicos, levamos o Moisés para Salvador, mais sete horas de viagem, a mãe dirigindo. Mais angústia, sofrimento, internação hospitalar (a bilirrubina estava a 21,7) e fototerapia intensiva, porém desta vez com aparelhos apropriados. No terceiro dia, o Moisés teve alta, mas continuou amarelinho por um bom tempo.
            Hoje, com dois meses, olhos espertos cor de jabuticaba e dobrinhas pra todo lado, ele sorri um sorriso lindo que a tudo ilumina (seu nome significa “aquele que dá a luz”). Sei que não realizará grandes feitos como seu xará, o da Bíblia, o Moisés que liderou o povo judeu para fugir da escravidão, abriu uma passagem no Mar Vermelho e recebeu os 10 mandamentos. Mas, mesmo tão pequenino, o meu Moisés já venceu uma grande batalha. Que Deus o ilumine sempre e o proteja. 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Batman Joaquim


            Está circulando na internet uma foto impressionante: o ministro Joaquim Barbosa, de costas, com a toga preta esvoaçando como se fosse a capa do Batman, calça e sapatos pretos. Abaixo da foto, os dizeres: “Batman é para os fracos. O meu herói é negro, usa toga preta e está em Brasília, lutando contra os maiores vilões da história do Brasil. Obrigado, ministro.”
            Realmente, Joaquim Barbosa se transformou em um herói nacional, um ídolo de milhões de brasileiros indignados, um ministro sem medo, que faz seu trabalho com retidão. Ele tem mesmo muitas semelhanças com o Batman, o super herói das histórias em quadrinhos. Os dois não têm super-poderes, mas lutam contra o crime e querem fazer justiça. Usam armas como inteligência genial, habilidades investigativas e estratégias diversificadas. Os inimigos do Batman, entre outros, são o Coringa (o palhaço louco), o Pingüim e o Mr. Freeze, um vilão disposto a transformar a metrópole em um domínio gelado. Já o Batman Joaquim, de carne e osso, luta contra o Dirceu, o Valério, o Delúbio, o Genoino, o Duda e tantos outros que compõem os 40 réus do mensalão. Como divulgado na mídia, mais que a carência de heróís, foi a fartura de ladrões que transformou um juiz do Supremo Tribunal em campeão de popularidade.
O Batman tem muitos amigos na sua luta por justiça, como o Robin, o Superman, a Mulher Maravilha, o comissário Gordon. Já o Batman Joaquim tem a seu lado todos os brasileiros que voltaram a acreditar que o Brasil ainda tem jeito e que existem juízes que falam o que o povo tem vontade de dizer. Que analisam provas e depoimentos, que enxergam os fatos como eles são e que mostram que corrupção dá cadeia.
No entanto, em alguns aspectos, o Batman Joaquim é inferior ao Batman super herói. Esse último é um atleta incomparável, que treinou  artes marciais e técnicas de combate, sendo hábil no combate corpo a corpo. O Batman Joaquim, não. Além de não ter físico de atleta, sofre de dores de coluna. Mas, como escreveu a cronista Eliane Cantanhêde: “Joaquim Barbosa é respaldado pela toga, justificado pelas dores de coluna, perdoado pelas origens e exposto pelas transmissões ao vivo”.
Outras diferenças entre os dois: Batman é filho único, nasceu em Gotham City e ficou bilionário quando os pais morreram. Usava a identidade secreta de Bruce Waine, um empresário playboy e filantropo. Já Batman Joaquim é filho de pedreiro, primogênito de oito irmãos, nasceu em Paracatu e passou a ser arrimo de família quando os pais se separaram. Enquanto Batman viajou pelo mundo tentando compreender a mente criminosa, Batman Joaquim fez mestrado e doutorado no exterior, é fluente em francês, inglês, alemão, espanhol e toca piano e violino desde os 16 anos (tudo isso sem precisar de cotas). Batman é um gênio em disfarces e mestre na arte de fuga. Batman Joaquim não: fala ao vivo para milhões de telespectadores e não quer fugir de nada. Disseca as entranhas do governo Lula e os podres do José Dirceu e do PT. Enquanto o Batman geralmente age à noite, usando as habilidades de morcego e o codinome “Cavaleiro das Trevas’, Batman Joaquim age durante o dia, mostrando claramente quem está buscando desculpas para justificar o injustificável.
 Enquanto isso, o mensalão “embrulha” o estômago dos réus. E tem pizzaria em Brasília aproveitando a ocasião, com o slogan: “se tudo acabar em pizza, você já está no lugar certo”. Sem chances, enquanto o Batman Joaquim estiver em ação.

Obs: publicado no Jornal Correio em 14/10/2012