A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A balsa do São Francisco

A balsa

Singrando o Velho Chico

O neto Théo, Júlia e o filho Luiz Cláudio na beiro do rio


          O rio São Francisco esteve em destaque na mídia devido à novela "Velho Chico" e ao fim trágico de um dos atores. Eu acompanhava alguns capítulos para ver as cenas com o rio bonito, majestoso, largo e perigoso.
           Gosto desse rio e já passei por muitas aventuras ao atravessá-lo de balsa, para chegar até a fazenda que temos na margem esquerda, no município de Buritizeiro. A balsa pertence à essa prefeitura e carrega de uma vez até 10 carros. Navega da margem direita para a esquerda nos horários ímpares (Ponto Chique para Cachoeira do Manteiga) e faz o trajeto inverso nos horários pares. Assim, a viagem deve  ser programada de acordo com esses horários, para ficar na fila. O drama é que a balsa quase sempre está estragada, com problemas no motor, na hélice ou no casco. Ou então o rio está raso demais e a balsa encalha, como  aconteceu com a camionete do Zé, meu marido. Ele ficou 2h encalhado olhando pro rio. Também há acidentes. Um dia a balsa carregava um caminhão e ele caiu no rio. Na época da chuva, os carros atolam no barreiro e todos têm que empurrar.  E as pessoas também atolam, eu e meus netos inclusive. Mesmo assim, é um alivio quando a balsa está funcionando. Caso contrário, temos que dar volta pela estrada chamada Poeirão (nem precisa explicar o porque do nome) ou atravessar no barquinho do Di, que cobra R3,00 por pessoa e vai singrando corajosamente as águas do Velho Chico. Nesse caso a camionete não atravessa, é preciso descarregar tudo e colocar cada pacotinho no barco, uma luta. Há tempos, nem o Di quis nos levar, pois ventava muito, o rio estava revolto e o barquinho poderia virar (e mesmo se ele quisesse o Zé não iria, não quer morrer afogado).
             Além de tudo, a travessia é demorada quando o rio está muito raso. Os barqueiros precisam ir sondando o leito do rio para passar nos locais mais fundos. Conversaram com o Zé sobre isso, freguês assíduo da balsa e que sempre tem boas ideias. Concluíram que era preciso mudar o sistema de impulsão da balsa, acoplando a ela um rebocador, que mudaria a direção da  balsa nos trechos rasos. Mas, para isso, era preciso calcular qual o peso da balsa quando estava vazia e quando estava cheia, para então saber qual a  potência do motor do rebocador. O Zé armou a resolução do problema, usando o principio do empuxo de Arquimedes (peso do corpo igual ao volume de líquido deslocado). Chamaram o João, gente boa, que trabalha na nossa fazenda e tem muita disposição e vontade de aprender. Ele usou uma vara, mediu a largura e o comprimento da balsa. Mediu o quanto ela submergia quando estava vazia e quando estava com a lotação completa. O Zé fez os cálculos e concluiu que a potência do motor seria de 200 cv. Levaram para o prefeito de Buritizeiro, que engavetou o processo. Não adiantou a descoberta do Arquimedes, nem a boa vontade do João, nem os cálculos do Zé. Faltou vontade política, como, aliás, se vê muito por aí.
           Mas o Zé continua a associar  a teoria com a prática: há pouco tempo , ensinou os funcionários da fazenda a fazerem ângulos retos para construir um galpão,  usando o teorema de Pitágoras. Certa vez, adaptou um freezer para usar  potencial hidráulico ao invés de energia elétrica. O freezer ficava no meio do mato, perto da roda dágua  e fazia 60kg de gelo da noite para o dia, um espanto. Mas isso já é outra história...
      Enquanto isso, continuamos torcendo pra balsa não encalhar. Quem sabe alguma fórmula do Einsten resolve o problema.