A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

terça-feira, 14 de junho de 2016

A família


A filha Thais com sua família tradicional: pai, mãe e filhos

                                           Zé e seus irmãos olhando com gula o porco paraguaio

                                                           Netos, a sobremesa da vida


                Sempre me intrigou o fato de Jesus ter realizado o seu primeiro milagre em uma festa, transformando água em vinho. E foi muito vinho, o que poderia embebedar muita gente...
                Até que assisti a um belo sermão do padre Olimar, na catedral de Santa Terezinha. Ele explicou que a festa, com sua fartura e aparente inutilidade, é uma necessidade da vida humana e uma afirmação de dias melhores. A vida foi feita para ser festa, não para ser sofrimento ou mesquinharia. E Deus é um Pai alegre, que gosta de alegrar o coração dos homens. O milagre foi realizado em uma festa de casamento, na união entre duas vidas e Deus, para começar uma família. Deveria então haver alegria, mas o vinho acabou. Fez um paralelo com as bodas atuais, onde frequentemente o vinho também falta e a alegria desaparece da união. O vinho do desejo, da afeição, do respeito e da compreensão passa a faltar nas taças do casal. Mas se existir Jesus na relação, a água do cotidiano pode ser novamente transformada em vinho. O milagre do recomeço se inicia com a oferta do que se tem e o vinho do final talvez seja melhor que o vinho do começo. Rezou então pelos casais felizes que passeiam de mãos dadas e por aqueles que separam as mãos e as vidas. Pelos casais que se beijam e se abraçam em amores e por aqueles que se agridem em ciúmes. E abençoou as famílias.
                Ainda sobre a família, li um livro interessante, " O arroz de Palma", de Francisco de Azevedo. Conta a história de uma humilde  família portuguesa que chegou ao Brasil cheia de sonhos. O narrador é Antônio, filho do casal imigrante e Palma é sua tia. Muito pobre, ela juntou o arroz espalhado no chão da igreja no dia do casamento do irmão, abençoou-o  e presenteou  o casal.  O arroz serve de fio condutor da história da família, em seus dramas, conflitos e alegrias. Antônio se transforma em talentoso cozinheiro e dono de restaurante. Compara a família a um prato difícil de preparar. E não precisa ter vergonha de chorar quando se coloca alho e cebola, pois família é prato que emociona. E a gente chora de alegria, de raiva ou de tristeza. Ensina que temperos exóticos alteram o sabor do parentesco, mas que se misturados com delicadeza, tornam a família mais colorida e interessante. Também é preciso cuidado com as medidas, uma pitada a mais pode ser um desastre, pois família é prato  sensível. E saber meter a colher na hora certa é  verdadeira arte, pois pode desandar a receita toda. É bobagem pensar que existe receita de família perfeita. Não há  "Família à Belle Meunière" nem "Família ao Molho Pardo", nas quais o sangue é ingrediente fundamental. Família é afinidade e tem que ser "À moda da casa". E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito. Há famílias doces e outras amargas. Algumas apimentadíssimas e outras sem gosto, tipo "diet', que a gente suporta só pra não perder a linha. É prato a ser servido quente, quentíssimo, pois família fria é impossível de se engolir. Mas é preciso saber a hora certa de apagar o fogo, pois há famílias inteiras queimadas por causa de fogo alto. O autor conclui que receita de família não se copia, se inventa. E deve ser saboreada ao máximo, passando o pão naquele molhinho que fica na louça, pois família é prato que quando se acaba, nunca mais se repete.

                A não ser que, como disse o padre Olimar, se houver Jesus na família, é possível um recomeço com os ingredientes que se tem. E quem sabe, inventar uma receita "À Moda da Casa" mais saborosa que a inicial.