A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

terça-feira, 12 de março de 2013

O prato de nhoque

O prato de nhoque na mesinha da cabine 


            Em fevereiro agora, juntamente com familiares e amigos, fizemos um cruzeiro em um navio luxuoso. Treze andares com escadarias e elevadores dourados, salões diversos, teatro, cassino, corredores compridos atapetados, restaurantes finos, piscinas de todo tipo, comida à vontade, muitos shows e diversão. A bordo, 3500 passageiros (alguns vomitando) e quase 1000 tripulantes de várias nacionalidades, singrando os mares. O mar, meu Deus, o mar! Uma imensidão azul, se encontrando no horizonte com o céu, lindo.
            Em meio a tudo isso, o Zé, meu marido, e eu. Ele, dizendo que o navio era um regime de engorda, só comer e dormir. E eu, querendo aproveitar cada minuto e conhecer tudo. Nesse contexto, certa noite fui jantar com o meu grupo. Éramos sempre seis pessoas na mesa, mas nesta noite faltava o Zé. Ele estava com dores no corpo e preferiu ficar na cabine (o que mais gostou no navio foi da cabine, de ficar esparramado na cama larga). Eu estava faminta, esfomeada, nervosa de fome e resolvi pedir quatro pratos: uma massa enroladinha de entrada, salada, nhoque e o prato principal, lagarto fatiado com arroz e legumes (felizmente não pedi sobremesa). Deliciei-me com o primeiro e o segundo pratos, mas quando o garçom trouxe o nhoque, desanimei. Estava bonito e apetitoso, com muito molho e queijo ralado por cima, os pedacinhos de nhoque caprichosamente dispostos no prato. Mas eu pensava no prato principal, que ainda teria que comer, e fiquei angustiada. Tentei empurrar o prato pra alguém da mesa. Não deu certo. Sugeri dividir um pouquinho pra cada um. Não quiseram. Fiquei então num dilema, não poderia desperdiçar um prato daqueles, tão gostoso e com tanta gente passando fome no mundo. Daí,tive uma idéia genial: levar o prato pro Zé, que estava sozinho e abandonado na cabine, decerto com fome. Mas não sabia se podia sair de um restaurante tão distinto, carregando um prato de nhoque. Ainda mais no famoso dia do jantar do comandante, com as mulheres de vestidos longos, cheias de colares, e os homens de terno e gravata.  Os companheiros da mesa me apoiaram e resolvi arriscar. Tampei o prato de nhoque com outro prato e fui saindo de fininho. No que dei três passos, fui cercada por dois garçons e pelo “chef de cuisine”. Vergonha total, eu me sentindo uma assassina, gente olhando. Perguntaram o que eu ia fazer, expliquei que meu marido estava doente e que ia levar o nhoque pra ele. Disseram que não podiam permitir, pois eu poderia cair com o prato, me cortar toda, perder muito sangue, quebrar a perna e culpar o restaurante. O “chef” falou grosso, com um sotaque estranho, que tinha gente pra fazer isso, anotou o número da minha cabine e tomou o prato das minhas mãos, nem pude fazer nada. Voltei cabisbaixa pra mesa. Pensei: “mesmo se quiserem entregar, nunca vão conseguir acordar o Zé batendo na porta”. Comi o prato principal, dei umas voltas pelo navio e até me esqueci do incidente.
          Mais tarde, quando abri a porta da cabine, fiquei surpresa: eles tinham mesmo levado o nhoque e conseguido acordar o Zé! Ele estava sem camisa, sentado na cama e saboreando o prato de nhoque, que estava numa mesinha dourada. Contou que bateram “muuuito” forte na porta, ele abriu e entrou um asiático alto, que falou “bueno apetito”. O Zé ficou feliz e emocionado por eu ter me lembrado dele. Na verdade, não foi bem assim, mas valeu, pois ele disse que foi o melhor prato que comeu no navio.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Criatividade



Gosto de textos criativos e divertidos. Por exemplo, “Crônica da loucura”, de Luis Fernando Veríssimo e textos que circulam na internet, como a análise psicológica da música “Esse cara sou eu” e o texto sobre a criação, onde Deus e Satanás travam uma batalha.
Na “Crônica da loucura”, Veríssimo afirma que o melhor da terapia é ficar observando os colegas loucos na sala de espera do analista (que é mais louco que todos eles). Um dia, estavam na sala: ele; um crioulinho bem vestido; um senhor de terno preto; uma velha gorda. Começou a imaginar qual seria o problema de cada um, partindo do princípio de que todos eram loucos como ele. O pretinho tinha um olhar cansado, os tênis gastos e carregava uma mala. Concluiu que dentro deveria estar o corpo da namorada esquartejada. Ou, então, apenas a cabeça. Ele deveria ser um assassino ou um suicida. Perigoso.  Já o senhor de terno tinha um pequeno tique no olho esquerdo. Roia as unhas. Insegurança total, mal amado, medo de viver. Deveria ser um corno. Manso. Ou seria um homossexual? Não, ninguém beijaria um homem com um bigode daqueles. Tingido. Mas a melhor mesmo, a mais louca, era a gorda baixinha. Como sofria. Não devia fazer amor há mais de 30 anos. Seria uma velha masturbadora? Não, pois tirou um terço da bolsa e começou a rezar. O problema era mais grave do que ele pensava. Na conversa com o analista, contou da “viagem” dele na sala de espera. O analista riu, riu muito. Explicou que o Ditinho era o seu “office-boy”, o de terno preto um representante de laboratório e a gordinha era a sua mãe. E o analista concluiu: “e você, não vai ter alta tão cedo...”
Na análise psicológica da canção “Esse cara sou eu”, o autor  cita cada trecho e comenta. Por exemplo: “o cara que pensa em você toda hora, que conta os segundos se você demora, que está todo tempo querendo te ver”, indica um cara obcecado, grudento, com fortes indícios de ciúme doentio. No trecho “está do seu lado pro que der e vier, o herói esperado por toda mulher, por você ele encara o perigo”, indica que o cara tem a síndrome do super herói, se posicionando como um salvador e dominando a mulher. Quando diz quatro vezes “esse cara sou eu, esse cara sou eu”, mostra dificuldades de afirmação. O autor conclui que o cara é passional, obsessivo, com grande potencial para violência e aconselha: “Fuja dele”.
No terceiro texto, “A criação”, o autor conta que tudo que Deus fazia para o bem do homem, Satanás atrapalhava. Por exemplo: “No início, Deus criou o Céu e a Terra, e povoou a Terra com brócolis, couveflores e espinafres, para que o Homem e a mulher tivessem vida longa e saudável. Então Satanás criou os sorvetes cremosos da Parmalat e da Haagen-Dazs. E Satanás disse: “Vocês querem que eu acrescente calda de chocolate?” O Homem e a mulher quiseram, engordaram cinco quilos e Satanás sorriu”. Deus então criou a carne magra grelhada, e Satanás criou a rede de McDonald´s e seus cheesburgers gigantes. E por ai foi, até que o Homem teve uma parada cardíaca. Então Deus criou o marcapasso e os stents e Satanás criou o Sistema Único de Saúde, o SUS e Amém!
Mas criativas mesmo são as pessoas mostradas em uma foto na internet, intitulada “Fila na Bahia”. Elas enfileiraram seus sapatos, chinelos e sandálias e ficaram sentadinhas, de braços cruzados e descalças, esperando o clichê abrir, com os sapatos marcando o lugar de cada uma. Acabaram com as filas...