A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Medo de ladrão

Vista da casa onde o "ladrão" apertou o interfone

Meu marido, o Zé, tem muito medo de ladrão (de rato também). Aliás, todos nós temos medos diversos: de escuro, de altura, de perder os dentes, de ficar careca, de barata. Mas, voltando aos ladrões, certa vez aconteceu uma situação inusitada.
Por volta das 23 horas, o interfone tocou e o Zé atendeu. Era um homem pedindo comida. De imediato, o Zé deduziu que era um ladrão, pois ninguém jamais iria pedir comida a uma hora dessas. Ficou aflito, andando de um lado para o outro na varanda. Gritou ao pedinte (ou ladrão?) que iria chamar a polícia. Mas o telefone da casa estava ocupado (não existia celular). Era um dos filhos que, no andar superior, falava com o irmão, mas o Zé pensou que ele falava com a namorada. Nervoso, ficou resmungando que os namoros andavam insuportáveis. E ele ali, correndo risco de ser assaltado. Com a confusão, o homem foi embora (sem o prato de comida). O Zé, já calminho, ficou assistindo TV. O problema é que o filho, no andar de cima, ouviu as palavras “ladrão e policia” e avisou ao irmão que parecia que estávamos sendo assaltados. Como não ouviu mais nada, pensou que o Zé e eu estávamos amarrados e amordaçados. Não sabia se descia as escadas para acudir, pois poderia acabar amordaçado também. Daí, elaborou um plano com o irmão: esse deveria ligar e falar a palavra chave que tínhamos no sistema de alarme. Se estivesse tudo bem, quem atendesse (o Zé ou eu) diria a outra palavra combinada. Isso porque, quando o alarme da casa dispara (mas só nesses casos), o pessoal da segurança liga e fala “estrela”. A pessoa que atende deve responder “céu”. Assim, o filho ligou da casa dele e eu atendi. Ele falou um “mãeeeee” prolongado e a palavra “estrela”. Não entendi nada, pensei que ele não estava bem, ligando quase meia noite e falando “estrela, estrela”. A essa altura, eu nem me lembrava mais do provável ladrão. Claro que não falei “céu” e ele se desesperou do outro lado. Nisso, o outro filho veio descendo as escadas devagar, olhando de soslaio pra ver se o ladrão estava por perto. Viu o Zé sentadinho no sofá e eu ao telefone, espantada . Pegou o telefone e explicou ao irmão que não era nenhum assalto. Ele, o irmão, ficou um bom tempo esbravejando comigo, dizendo que quase teve um ataque cardíaco (no final, a culpa foi minha). Ficou indignado por eu nem saber responder “céu” e eu, mais indignada ainda, por eles terem elaborado uma estratégia tão boba, fadada ao fracasso.
Assisti a uma cena no cinema, semelhante a esse caso. Um homem de meia idade chega a uma praia isolada, deixa o carro na estrada e fica tranquilamente se bronzeando. Um carro azul e velho estaciona perto do seu e desce um jovem bem moreno, que se senta na areia e fica observando o mar. O homem de meia idade, vez ou outra, olha desconfiado para o homem moreno. Começa a imaginar coisas e a suar frio. Pega seus apetrechos, sobe a ladeirinha de areia, entra no carro e vai embora pela estrada deserta. Dirige um pouco e o pneu fura. O homem desce apressado e começa a trocá-lo. Aí, olha para longe e vê o carro azul e velho  vindo em sua direção. O coração dispara, as mãos ficam trêmulas, não consegue apertar os parafusos do pneu. Estava a ponto de desmaiar, e o carro azul se aproximando cada vez mais. Vagarosamente, o carro passou por ele e foi embora! O homem ficou encostado no carro, se recuperando do medo do provável assaltante.
Resumindo, existe mesmo ladrão pra todo lado, mas não é preciso exagerar no medo...

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Como nascem os pais



                                Djalma com Yuri, Chris com Lia e Luiz Cláudio com Pedro, Vítor e Théo


     Renato Kaufmann escreveu os livros “Diário de um grávido”, no qual aborda com humor a gravidez do ponto de vista masculino, e “Como nascem os pais”, sobre os dois primeiros anos de sua filha Lucia.
Explica que a vida de um pai é cheia de pânicos, desesperos, muito sono e lágrimas de alegria. Pensava que o desespero ia terminar quando o bebê nascesse e ele contasse os dedinhos, vinte ao todo. Mas descobriu que o parto não é uma conclusão, é só um começo que dura a vida toda. Aprendeu coisas surpreendentes, como: os bebês precisam tomar banho porque não são autolimpantes como os gatos; o choro do bebê é um som de partir o coração; o primeiro cocô, uma tal graxa preta chamada mecônio, depois vira cocô de verdade e ser pai é ter orgulho até de cocô. Ficava fascinado com os olhos da Lucia, parecidos com bolinhas de gude, bonitos como fotos de astronomia. Impressionava-se como um bebê tão pequeno podia ser tão complexo, sabendo até espirrar. E como cabia dentro dela um choro tão forte. Aos quatro meses, virava o rostinho pra ele e abria um sorriso como um sol nascente, acompanhado de uma expressão tão gostosa que dava vontade de chorar. Um sorriso completamente desprovido de interesses lácteos, pois ele não tinha leite como a mãe, a Ana. Aprendeu também que nada, nada no mundo se comparava ao jeito que Lucia olhava pra ele: “sou arrancado do eixo do meu umbigo e subitamente me vejo capaz de ouvir e de entender estrelas.”
Quando ela começou a engatinhar, tudo na casa passou a ser um perigo em potencial, incrível como os bebês são atraídos por tudo que quebra. Ela parecia um bebê de dar corda, com a corda toda, engatinhando atrás dos gatos. Um dia, ela encontrou um teclado da Hello Kitty no chão e ficou descobrindo os sons. Ele pensou: “ela era um espermatozóide entre milhões, à procura de um óvulo e agora está ai, fazendo o maior som. Uau”.
Outra coisa que aprendeu é que ser pai é cheirar a Hipoglós o tempo todo. Por isso, cegos e cachorros são os primeiros a reconhecer os pais. Quando chegou o seu primeiro dia dos pais, pensou no que iria ganhar da pequenina:”fraldas sujas e olheiras, talvez?” Ganhou um delicioso perfume, mas ficou com receio de sufocar seu cheiro de Hipoglós e não ser mais reconhecido pela Lucia.
Aos onze meses, ela aprendeu a dar abraços. E como é bom abraço de filho...Depois da festinha de um ano, ela se transformou em um bebê mais evoluído, com vários “fonábulos” novos. As descidas dos móveis se tornaram mais desesperadoras, como um campeonato de tombo ornamental. Ele descobriu que a combinação de paranóia paterna com imaginação fértil é horrível, horrível.
   Na sequência, Lucia foi para a escolinha, munida de um sorriso radioativo de apenas dois dentes (que coisa impressionante um bebê fazer dentes, soltando fios de baba).E o dia em que, ao buscar a Lucia, teve de levar um peixe ensacado pra casa? Não queria, mas a diretora insistiu. Depois ele se arrependeu de não ter aberto o saco e engolido o peixe vivo, ali, na hora.
No final, o autor escreveu: “quando você veio, eu me preocupava pensando se eu saberia lhe ensinar, e mal desconfiava quanto teria pra aprender”. Sentiu-se também maravilhado como, de todas as coisa deste mundo, ele nasceu pra ser pai da Lucia. Concluiu que esse é um processo que vai se internalizando, derrubando tudo que é árvore no caminho. As mães não, elas já vêm prontas, mas os pais são obrigados a nascer.