A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

sábado, 15 de outubro de 2022

O boi Diamante





                                     

            Já aceitei o fato de que jamais vou obter algum lucro da minha fazendinha. Mas terei muitas histórias para contar. Por exemplo, o caso do boi.

      Tudo começou quando precisei de um boi para cruzar com as vacas que comprei. São onze: sete já prenhas, duas com bezerros e duas entrando no cio. Não seria possível fazer inseminação artificial, pois é necessário curral adequado, com tronco, e lá não tem (não tem nada, só problema). A vaca pode ficar muito brava e dar coices no veterinário. Como as coisas andam, provavelmente isso iria acontecer. Além do mais, eu queria conhecer o boi que seria o pai de todos os bezerrinhos da fazenda. Saber se seriam  parecidos com o pai, de boa genética, etc. Inseminação artificial é muito vago, muito abstrato. E como vaca não se reproduz por partenogênese,  o encarregado e eu começamos a procurar um boi bom e barato. Um absurdo o preço de um reprodutor: de R$15.000,00 a R$20.000,00 e sem P.O. ( registro que atesta qualidade). Por sorte, encontramos uma fazendeira vizinha que precisava vender um boi. Grande, bonitão, orelhas bem compridas, nelore, todo branco, com 3 anos. Negociei por R$8.500,00,  pra pagar quando entregassem. Fiz uma votação na família para escolher o nome: Araújo, Bumbá ou Sansão. Ganhou Araújo. No entanto, a vizinha contou que ele já se chamava Diamante, era manso e atendia pelo nome. Resolvi não trocar, para não causar confusão mental no Diamante. O tempo foi passando e o boi não chegava. Avisaram que ele estava escondido no pasto do vizinho e não estavam encontrando. Um mês e meio depois da negociação, o Diamante chegou na minha fazendinha. Justo no dia primeiro de outubro, quando eu lá estava, fiquei emocionada. Ele foi sendo tocado pela estrada por dois cavaleiros e junto com duas vacas no cio. Sozinho ele não iria, de forma alguma. Prenderam o Diamante no curral e  tentaram colocar as minhas vacas com ele, para irem se enturmando. Mas as vacas dispararam e ele ficou sozinho. E depois que os cavaleiros foram embora, não tinha como buscar as vacas novamente, pois à pé o encarregado não conseguiria, já que o bendito Canarinho, meu único cavalo, tinha fugido pela oitava vez (ele passa debaixo de qualquer cerca). Apreciei o Diamante, tirei fotos de todos os ângulos; e ele sozinho, bufando no curral. E, não sei o porque, o encarregado abriu a porteira e soltou o Diamante, sem nenhum tipo de adaptação ao novo ambiente. Ele saiu trotando majestoso, olhando pra lá e pra cá, parou perto da casa da sede. Eu da varanda olhei nos olhos dele, ele olhou nos meus. Depois , vagarosamente, virou a traseira para mim e, balançando o rabo, entrou no pasto sujo, cheio de árvores e arbustos e desapareceu. Ainda falei para o encarregado: _"Tião, este boi vai sumir!".  Ele argumentou que não, que o boi iria procurar as vacas e o cocho d'água. Como meu conhecimento nesta área é zero, acreditei. E não é que o boi sumiu mesmo? Desapareceu sem deixar rastros. O pior é que , sem o Canarinho, como procurar o Diamante? Resolvi dar uma recompensa para quem devolvesse o Canarinho. Colocamos a foto dos dois em todos os grupos de whatsApp da região. Em dois dias, o Canarinho apareceu. Paguei uma recompensa de  R$300,00 . Voltou de crina feita e com os cabelos da orelha aparados, bem bonitinho. O encarregado montou nele e andou quatro dias procurando o Diamante. Com a graça de Deus, foi encontrado, junto com vacas no cio, em uma fazenda ao lado. Parece que pulou a cerca e tudo indicava que estava bem e feliz. Quando, em Uberlândia, recebi a notícia que o Diamante tinha sido encontrado, fiquei em êxtase e contei para todos que estavam torcendo para ele aparecer. Regozijo geral. Mas a alegria durou pouco, apenas 3h. Recebi várias fotos do Diamante morto, mortinho, caído no chão! E uma foto tétrica, com um furo perto do pescoço, com sangue saindo (sangraram para ver se podiam depois aproveitar a carne). Contaram que ele estava sendo tocado, junto com duas vacas paridas, para o curral. De repente, ele  começou a tremer as pernas, caiu no chão, estrebuchou, virou os olhos e morreu!! Um filme de terror. Consternação geral. Parece que teve um ataque cardíaco. Especulando-se sobre a causa da morte, foram levantadas 5 hipóteses: estresse por ter deixado as vacas no cio; excesso de ingestão de ureia com sal; paralisia respiratória causada por botulismo; picada de cobra; ingestão de ervas venenosas seguida de excesso de movimento, como corrida.  

            Analisando-se os sintomas e as circunstâncias, a mais provável "causa mortis" é a ingestão de ervas venenosas. Ou então o estresse. O Diamante mudou de fazenda, ficou perdido, deve ter passado sede, foi arrancado dos seus amores (Jesus, será que o boi morreu de paixão?). Descobri que boi pode morrer de estresse sim, tem boi bravo que morre quando é amarrado ao tronco, sofre um ataque cardíaco. Enfim, lá se foi o Diamante, não aproveitamos nem a carninha dele. E ainda fiquei traumatizada e com pesadelos. Lembrei-me do Zé, meu finado marido: mandava para o matadouro 50 bois de uma só vez e dormia feliz, sonhando com o dinheiro que iria ganhar. Eu não, só faltou receber pêsames pela morte do boi...

            Agora, não quero mais comprar boi. Vou alugar algum quando precisar.  E esperar o meu bezerro, o Príncipe Houdini, crescer. Ele já está com um ano, saudável, bem adaptado na fazenda e conseguindo escapar das inúmeras cobras venenosas que rastejam por lá. Quem sabe algum dia nasçam lindos bezerros e eu possa falar:   -"Parece com o pai"! A esperança é a última que morre.