A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

sexta-feira, 16 de março de 2012

GenÉTICA

          
Na novela “Fina estampa”, tem despertado interesse o caso de Esther e Beatriz, que disputam o bebê Vitória, gestado no útero de Esther, mas gerado com os óvulos de Beatriz. Afinal, quem é a mãe?
            Um caso igual a esse está acontecendo na vida real (Folha de São Paulo, 26/02/2012). Um ex-casal de lésbicas disputa na justiça a guarda de um menino. As enfermeiras Gisele e Amanda viveram juntas seis anos e decidiram ter um bebê por meio da fertilização in vitro. Gisele cedeu os óvulos, que foram fecundados com o esperma de um doador anônimo e transferidos para o útero de Amanda. As duas terminaram o relacionamento e Amanda ficou com o menino. Gisele entrou com um pedido de maternidade, julgado improcedente pelo juiz, que considerou que doadora de óvulos não é parente. Gisele ficou indignada, afirmando que o menino tem os seus gens e a sua cara. Recorreu da decisão e a briga continua.
            Também mereceu destaque o nascimento de Maria Clara, o primeiro bebê brasileiro selecionado geneticamente para salvar a irmã, Maria Vitória. Essa tem cinco anos e sofre de talassemia major, doença hereditária que pode causar grave anemia, necessitando de transfusões sanguíneas freqüentes. A única forma de Maria Vitória se manter viva é receber transplante de células tronco de medula espinhal ou de cordão umbilical de um doador compatível. Na falta de doador, seus pais decidiram ter um “irmão salvador”, que deveria ser livre da doença e ter o sangue compatível com a filha doente. Com fertilização assistida, numa primeira tentativa conseguiu-se seis embriões, que foram descartados porque tinham a doença ou não eram compatíveis. Numa segunda tentativa, conseguiu-se mais 10 embriões, dois deles viáveis. Implantados no útero da mãe, um se desenvolveu e nasceu Maria Clara. Não há dúvida de que o nascimento foi emocionante, mas surgem perguntas como: ao custo de quantos embriões descartados é válido o nascimento de “irmãos salvadores”? Como fazer para resguardar a dignidade humana da pessoa gerada, para que não sinta sua existência  voltada para a cura da outra? E se no futuro essa técnica for utilizada para escolher embriões com determinadas características, como cor de olhos, estatura, beleza?
            São questões éticas decorrentes do avanço científico na área de genética e da tecnologia reprodutiva. Mayana Zats, professora e pesquisadora da USP, em seu livro “GenÉTICA: escolhas que nossos avós não faziam”, relata como a genética envolve não apenas ciência e técnica, mas também dramas humanos, filosóficos, éticos e morais. Conta das lições de vida e exemplos de grandeza que vivenciou junto a famílas com pessoas afetadas por doenças graves e sem tratamento. Conta casos como o de Sônia, casada há 10 anos e cujo pai tinha uma doença incurável, hereditária e neurodegenerativa, que se manifesta depois dos 40 anos. Ela queria ter um filho, mas temia passar-lhe o gene da doença paterna. Vivia um dilema: se fizesse o teste e desse positivo, teria de conviver com o drama de saber que desenvolveria a doença. Se não fizesse, não teria coragem de engravidar. O que a geneticista deveria aconselhar?
            Enfim, os avanços são tantos e tão rápidos que Mayana Zats coloca uma questão assustadora: quem garante que não há malucos por aí tentando gerar clones humanos às escondidas? Sem necessidade de óvulos, bastaria reprogramar uma célula adulta para se comportar como embrionária e inseri-la em um útero, que nem precisa ser humano.