A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

sábado, 12 de agosto de 2017

Não é a cegonha

Enzo e o seu pai

Lia

Maira

              Este texto é um pouco pornográfico, mas é baseado em fatos verídicos. Envolve os questionamentos de crianças que querem saber de onde vieram, de como foram feitas e os apuros das mães para explicar. Mais precisamente, trata da curiosidade do meu neto Enzo, americano, de nove anos e da solução encontrada pela minha filha para explicar tudo.
              Preocupada com tantas perguntas, ela resolveu se aconselhar com uma amiga que tem filhos da mesma idade e mora em uma fazenda de criação de porcos e ovelhas. Os seus dois filhos estavam acostumados a ver os animais cruzando e os filhotes nascendo. A amiga comprou o livro "It's not the stork" (não é a cegonha) e leu para eles. Os meninos entenderam tudinho, sem dramas e sem muitas perguntas.
               Animada, a filha comprou o livro, um bestseller sobre as diferenças entre meninos e meninas, transformações no corpo, bebês, famílias e sexo, indicado para crianças de quatro a seis anos e escrito por especialistas (isso de acordo com as informações sobre o livro). Assim, quando o Enzo começou novamente com aquelas perguntas difíceis, ela leu o livro para ele. Aliás, tentou. Foi lendo e mostrando as ilustrações (ela nem tinha aberto o livro antes para ver como era).  Chegou a netinha Lia, de seis anos, e ela continuou a ler, não tinha como parar. O Enzo ouvia todo concentrado. Nas explicações sobre diferenças entre meninos e meninas, tinha esquemas de pênis e vagina. Depois, o desenho do papai e da mamãe deitados na cama, abraçados, cobertos com um lençol. De repente, o Enzo teve um insight, ficou vermelho, começou a pular e a gritar várias vezes: -"The penis goes inside the vagina!" Minha filha pensou que ele ia ter um enfarte e queria encontrar um buraco onde se enfiar. A Lia foi mais direta ainda:-" Oh! Did the daddy put his penis in your vagina?!?" Ela, a filha, sem saber o que falar ou fazer, mandou que calassem a boca pra continuar a ler o livro, mas não foi possível. Assim, a inocência deles foi perdida para sempre.
           O pior é que ela teve que contar para o marido o acontecido. Ele até recebeu a narração dos fatos com serenidade. Apenas argumentou que o Enzo não precisava saber disso agora, pois ele ainda acredita no coelhinho da Páscoa. É verdade. Eu estava lá na última páscoa. A filha sempre coloca duas cestinhas de ovos escondidas e uma trilha de ovinhos para levar até a cestinha. Faz isso depois que ele e a Lia dormem. E o Enzo não queria dormir, pra pegar o coelhinho no flagra...
             Depois disso, a conversa dos dois girava em torno de pênis e vagina. A filha implorou para que não contassem nada na escola. A Lia seria até expulsa, falando desses assuntos com a sua turminha de cinco e seis anos. Quando estive lá recentemente, com um neto de 10 anos e outra netinha de seis, o tema ainda estava no auge. Um dia a Lia brigou com a priminha, fechou-a do lado de fora da casa e gritou (ela fala português também): "Ih, se você quiser um bebê o pênis vai na sua vagina!' A priminha, que vive em outro mundo e não sabia nada do livro, gritou de volta: "-Na minha não, na sua!"

          No meio de toda a confusão, os adultos ficam olhando angelicamente para cima, fingindo  não escutar e não ter nada a ver com isso. E provavelmente preferindo explicar para as crianças que a responsabilidade de trazer os bebês ao mundo é mesmo das cegonhas.

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