A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Gente mais ou menos

Casinha branca

        O Padre Fábio de Melo fará um show em Uberlândia no dia 13 de dezembro. Acredito que será emocionante. Gosto muito dos seus textos,  músicas, pregações e palestras. Por exemplo, a palestra intitulada "Gente mais ou menos", que circula na internet.                                                              Ele começa chamando atenção para o fato do aumento de um tipo de gente que é mais ou menos. Para  qualquer pergunta- como vai a vida, como vai o namoro, como vai a mulher, como vai a saúde- a resposta é sempre a mesma: "-Mais ou menos". Assim a pessoa vive mais ao menos e vai multiplicando o mais ou menos pela vida afora. E são muitas as situações  em que podemos nos sentir mais ou menos: aprendemos inglês mais ou menos, namoramos mais ou menos,  ficamos mais ou menos doentes. Daí procuramos um médico que é mais ou menos porque fez uma faculdade mais ou menos. E ele faz uma cirurgia mais ou menos na gente. Ou seja, começamos a sentir os problemas do mais ao menos quando precisamos de alguém competente. Ou quando alguém procura um marido e acha um mais ou menos, porque ele foi mais ao menos amado dentro de casa. Daí ele ama de qualquer jeito e de qualquer jeito vai embora. E se ficar, também vai ser um pai mais ou menos e ter um filho mais ou menos.                      Continuando, ele afirma que isso tudo é muito triste. Não podemos deixar as pessoas entrarem na nossa vida de qualquer jeito, pois somos preciosos. A gente pode até achar algumas coisas mais ou menos, como a casa onde moramos, a rua, a cidade, o transporte, o governo. Ou a cama onde dormimos, a comida. Até acreditar mais ou menos no futuro. Mas a gente não pode, nunca, é amar mais ou menos. Ou sonhar, ser amigo, namorar, ter fé, acreditar. Tem que ser por inteiro. Gente que quer fazer a diferença na vida não pode ser mais ou menos. E a solução para deixarmos de ser mais ou menos está nas coisas simples da vida. Como na música  Casinha Branca.  No começo dessa música, se fala de solidão, da falta de prazer, da felicidade cada vez mais longe, dos sonhos da mocidade não realizados. Mas de repente chega o refrão, com um sonho bem simples:  "eu queria ter na vida simplesmente um lugar de mato verde pra plantar e pra colher, ter uma casinha branca de varanda, um quintal e uma janela, só pra ver o sol nascer..." Assim, a solução do mais ou menos não está em grandes coisas. Ele, o Padre Fábio de Melo, conta que nunca viu ninguém chorar por não ter um iate ou uma casa grande e bonita. Pode até reclamar, mas não chora. Mas quando precisamos de amor e não temos, aí a gente chora. Ou porque não temos um pai e uma mãe dentro de casa. Ou quando o pai ou a mãe olham pra gente de qualquer jeito, quando perderam a intimidade com o filho. Quando olham com tanta pressa e não são capazes de olhar nos olhos. Porque a única forma de deixar de ser pai ou mãe mais ou menos, não é a forma de falar, é a forma de olhar.  Não adianta ser uma pessoa competente se o pai (ou a mãe) não consegue deixar um sorriso no filho que gerou. Numa casa onde só existem pessoas mais ou menos, não há felicidade e não há herança para deixar. Porque o importante não é a casa que você constrói e sim, o que você coloca lá dentro. Daí vale pensar no sonho da casinha branca: o que vale são as coisas simples e pequenas. O pai que pega na mão, que olha sem gritos e acusações, acreditando que o filho pode ser melhor. Que para de colocar defeitos e que conta para o filho o que acha de bonito nele e que nunca teve coragem de falar. Pode ser que o filho, sabendo o que tem de bonito dentro dele, passe a fazer as coisas bonitas mais vezes.                   Enfim, são coisas tão pequenas, tão miúdas, esforços simples que podemos fazer todos os dias e que podem nos levar a ser inteiros, a deixar de ser mais ou menos e a fazer a diferença no mundo.




segunda-feira, 7 de outubro de 2019

A praça

Garrafas retiradas do jardim

Dia da Cavalgada


         Um dos filmes mais conhecidos de Alfred Hitchcock, o gênio do suspense, é "Janela Indiscreta". Nele, um fotógrafo, que se recupera de sua perna quebrada, acompanha com um binóculo a vida dos seus vizinhos do prédio, observando as suas janelas. Desconfia que tenha ocorrido um assassinato e o filme se desenrola em meio a romance, drama e suspense.
         Ando me sentindo como este fotógrafo. Sempre que posso, olho a vida pelas janelas do meu apartamento na Praça do Rosário, no terceiro andar, bem no coração da cidade.  De uma das janelas da sala, vejo a Av. Floriano Peixoto e acompanho os desfiles e passeatas.  O  Sete de Setembro, as passeatas pró e contra Bolsonaro,  a passeata LGBTQ+, os ternos da festa do Congado. Em um dia de tempestade, estava eu olhando quando dois galhos enormes do cedro da praça se quebraram.  Caíram em cima de uma fila de carros que passava devagar e um carro pequeno ficou esmagado. Após longos minutos dramáticos, com a chegada do socorro, saiu do carro um homem, sem ferimentos. Viveu de novo.
        Da outra janela da sala, vejo a praça em frente à sorveteria Bicota. Durante algumas tardes, assisto às apresentações de um grupo de capoeira, com músicas gostosas. Vejo os catadores de recicláveis tentando separar os materiais nos cinco containers de lixo em frente. Os funcionários dos bares próximos despejando centenas de garrafas de vidro nos containers, com um barulho ensurdecedor. Os varredores de rua, toda manhã, sem nunca desistir, retirando o lixo da praça que fica imunda nos finais de semana.  Nas noites de quinta a domingo, aprecio a multidão. Tem de tudo. Música ao vivo  misturada com pessoas tomando sorvete nas mesinhas. Jovens tatuados, de piercings, de preto, bebendo cerveja na garrafa. Casais  heterossexuais, homossexuais, indefinidos.  Pessoas bem vestidas e bonitas. Outras com cabelos loucos e coloridos. No dia do Halloween, por exemplo, foi um desfile de vampiros bem debaixo da minha janelas (mas também tinha alguns vestidos com saias de bailarina e asas de borboleta). No meio da praça  ficam os policiais, tentando colocar um pouco de ordem. Dia desses,  passou um carro com música estrondosa. Sempre passam por aqui, fazendo as janelas do prédio tremerem. Só que nesse dia o motorista deu azar, passou justo pertinho dos policiais. Eles foram ágeis, pararam e levaram o carro, junto com o motorista espantado. Tenho um neto de seis anos que gosta de olhar o agito também, mas tem medo da polícia. Fica atrás da cortina, olhando de soslaio. Certa vez, estava nessa posição quando meu filho chegou, deu uma espiada pela janela e falou: "Oh, chegou a polícia civil!" E o neto, quase arrancando a cortina de susto: "O que, a polícia me viu???"
         Da janela do meu quarto, vejo outro ângulo da praça: a Igreja do Rosário, com a cruz lá no alto e a pracinha na frente (faço o sinal da cruz antes de olhar). Assisto  as apresentações dos ternos do Congado. Os tambores retumbam dentro do meu quarto e escuto o leilão de prendas de dez reais. É bonito de se ver as mulheres segurando fitas e dançando em volta das bandeiras, os homens com chapéus enfeitados e chocalhos nas pernas, as roupas de cetim em amarelo dourado, verde, azul e branco; os cantos pra Nossa Senhora. Também observo casamentos aos sábados. Convidados bem arrumados, noivas chegando em carrões antigos, madrinhas com vestidos da mesma cor,  daminhas com vestidos rodados, um luxo. Durante a semana, aparecem pessoas tirando fotos em todos os ângulos, com a igreja ao fundo. Outras caminhando, passeando com cachorros, fazendo o sinal da cruz. Aos domingos, com o sino tocando, o padre fica na porta da igreja cumprimentando os fiéis antes da missa. Dia desses, à noite, vi uma limousine branca imensa estacionando na praça. Um motorista elegante, de terno e quepe azul escuro, abriu a porta para um grupo de mocinhas bem vestidas e tagarelas, que entraram no carro e lá se foram, não sei pra onde.
          Da janela de outro quarto, quase toco o ipê rosa do jardim da frente do prédio. É lindo acompanhar suas transformações ao longo do ano:  o cair e o nascer das folhas, flores e frutos e o tapete de flores rosa no chão. Pombinhas, bem- te- vi e periquitos pousam e cantam em seus galhos. No banco de cimento redondo debaixo do ipê, acontece de tudo. Pessoas sem teto colocam papelão e dormem. Casais trocam beijos apaixonados. Jovens compram drogas. Outros bebem e jogam as garrafas no jardim. Idosos de mãos dadas sentadinhos, talvez esperando a banda passar, como naquela canção de Chico Buarque: "estava à toa na vida, o meu amor me chamou, pra ver a banda passar, cantando coisas de amor". Debaixo do ipê tem um jardim, que tento cuidar. Ando elaborando uma lista do que as pessoas jogam nesse canteiro. Há itens como guardanapos e fraldas descartáveis; colheres, canudinhos, copos e tampinhas de  plástico de todas as cores; isqueiros; garrafas pet; latinhas; garrafas de pinga, de uísque, de gim, de vodka, de cerveja; palitos de picolé e muito mais. Encontrei até um cobertor azul novo, de bebê, bordado com o nome "Bruno", que vou reciclar. Por enquanto o jardim está resistindo, mas não sei até quando.
         Da janela da sala de jantar, sempre que posso , olho o sol se pondo entre os prédios, com as árvores da praça do Coreto enfeitando. E agradeço por mais um dia.
         E assim, entre janelas, a vida passa. Com suas dores e suas alegrias. E com a cruz da igrejinha e o céu azul ao fundo. E com cada por de sol lembrando que, por mais bonito que seja, amanhã pode ter outro mais lindo ainda.

terça-feira, 23 de julho de 2019

Uma noite em Cachoeira do Manteiga

Margem do rio São Francisco em Cachoeira do Manteiga


 
            A poesia "Cidadezinha qualquer", de Carlos Drummond de Andrade, é bem simples, mas expressa, com ternura e um pouco de ironia, o que é uma cidade pequena:
Casas entre bananeiras 
mulheres entre laranjeiras 
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar. 
Um cachorro vai devagar. 
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Êta vida besta, meu Deus!
                Não tem como ler essa poesia e não pensar em Cachoeira do Manteiga, um povoado na beira do São Francisco, a quatro km da nossa fazenda. Tudo lá é devagar, ninguém tem pressa e todos se conhecem. Todas bem moreninhas. Só tem uma rua asfaltada, o restante é de terra empoeirada. No centro, uma igrejinha singela e uma praça, onde as pessoas ficam sentadas nos bancos esperando o tempo passar e a meninada brinca nos aparelhos de fazer ginástica. E uma quadra coberta, onde tudo acontece: as peladas, as formaturas, a festa junina, os treinos de futebol. O técnico é o Bill, um ceguinho que anda por todo lado com um guia. Não sei como, ele apita as faltas direitinho, eu vi. Tem também o Clube Náutico, onde ficam guardados muitos barcos de pescadores que vêm de longe pescar no São Francisco, mas os peixes sumiram. E a padaria, que fica aberta só até o pãozinho de sal acabar. A escola, a creche, um ou dois barzinhos que vendem pinga, cerveja e salgadinhos .
            Nesse cenário, fomos curtir a noite do último Corpus Christi, em junho. O Zé, eu, minha filha com o marido e os três filhos. Haveria missa na igrejinha, com o padre que veio de fora. Depois, a procissão, passando pelas ruas de chão batido que foi decorado com desenhos caprichados feitos de serragem, folhas e materiais coloridos. A igrejinha estava lotada e  haveria o batizado de um menininho  de uns quatro anos, o Vinícius. O Zé, eu e os netos fomos andando pelo corredor, procurando lugar pra sentar. Só tinha no primeiro banco e lá ficamos. Acontece que era o lugar dos coroinhas e cantores e ninguém teve coragem de falar, pois o Zé é fazendeiro conhecido na região. E daí a missa não acabava. Uma moça leu um salmo enorme, ia passando folhas e folhas. Tão grande que o Vinícius dormiu de boca aberta e dois netos, pesados, foram caindo em cima de mim, de sono. Mesmo catequista, não tive outra saída e disse para o Zé que ia sair. Ele ficou indignado, disse que ficaria até o fim (claro, era conhecido e estava no primeiro banco, não era por fé não). Saímos e ele ficou. Fomos comer coxinhas e pastéis no bar da esquina, uma delícia.
            Mas a noite estava agitada na Cachoeira. Havia cinco carros de polícia correndo pra lá e pra cá. O normal é apenas um, quando tem. Requisitaram reforço policial porque um baderneiro estava dando cavalo de pau com o carro e estragando os desenhos de serragem que o povo tinha feito nas ruas. Quando o único policial foi prendê-lo, resistiu à prisão e fugiu. Daí veio o reforço. Não conseguiram prendê-lo, mas como o irmão também estava aprontando, levaram o irmão dele e a esposa ficou em prantos (tudo isso nos contaram enquanto comíamos coxinhas e os carros corriam por ali). Brinquei com o meu neto de seis anos, o Moisés, que tem muito medo de polícia. Disse-lhe pra ficar esperto, pois se o Yuri (o irmão dele) aprontar, ele é quem vai preso. Respondeu-me que isso é injusto e que ia sair correndo.
            Nisso, passou a procissão. E o Zé, todo concentrado, com a velinha acesa na mão. Não viu nada, não sabia de nada, deve ter rezado muito...Nos juntamos a ele e fomos rezando e cantando, passando pelos desenhos, alguns estragados pelo vândalo fujão.  
            Voltamos pra fazenda pra dormir em paz. De repente, olhei no espelho e vi que estava sem a correntinha de ouro e o pingente que sempre uso. Num lampejo, lembrei-me que a tirei do pescoço para desembaraçar e a deixei em cima da mesa do bar. O genro se ofereceu pra voltar lá. Foi com o Yuri, de 10 anos. Voltaram sem ela. Mas o neto, que tinha ficado escondido dentro do carro, com medo dos vários homens que estavam no bar, disse que viu um de boné vermelho com a correntinha enrolada no braço e que ele a escondeu. Valente e enfezada, peguei o carro e voltei pra Cachoeira com o Yuri. Ele, escondido, mostrou-me o moço moreninho de boné vermelho. Puxei uma cadeira e sentei-me diante dele (tipo estes filmes de faroeste). Olhei-o bem nos olhos e disse-lhe que tinha esquecido a minha correntinha em cima da mesa. Perguntei-lhe se ele não a tinha encontrado. Enrolou um pouco e disse que ia me ajudar a procurar. E no mesmo instante a encontrou caída no meio da terra. Assim a recuperei.
            Pois é, Carlos Drummond, mesmo nas cidadezinhas com bananeiras e laranjeiras e onde a vida passa devagar, muitas coisas acontecem.

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Prece fitness






           
            Existe um vídeo circulando na internet de um gordinho simpático conversando com Deus, intitulado "Como emagrecer graças a Deus".  De rosto redondo, cabelos e sobrancelhas bem pretas, está de camisa amarela ajoelhado ao lado de uma cama, de mãos postas. Fala com Deus de maneira fluente e espontânea, com voz clara e pausada. Olha pra cima e pra baixo, fecha os olhos de vez em quando, sorri, mexe as mãos várias vezes, dá umas risadinhas, pede perdão quando fala alguma asneira.
            Achei a "prece" dele criativa e divertida demais, assim como as expressões faciais. Ele fala mais ou menos isso: "Senhor, estamos aqui mais uma vez em prece. Eu estava querendo ser fitness, porque devemos ter cuidado com esse corpo físico, essa máquina maravilhosa que o Senhor nos deu para evoluir. Não sei se o Senhor tem acompanhado aí do céu, mas aqui na terra tem essa exigência, a gente tem que ser fitness. Não estou querendo dar pitacos, afinal o senhor é Deus e eu sou homem, mas acho que teve um erro de planejamento. Por que o Senhor não fez as coisas mais gostosas serem as mais saudáveis? Por que a vagem não tem gosto de lazanha? Por que a alface não tem gosto de nutella? Pensa comigo. Pra mim, alface sempre foi algo de enfeite. Não, não, sei que é um ser vivo, que brota, cresce, é bonito, foi o Senhor quem criou. Mas pensa comigo. O strogonoff tem um valor evolutivo, o homem teve que pensar muito mais para fazer um strogonoff do que para colher um pé de alface, então teria que ter alguma vantagem.
          Outra coisa, não estou me metendo, o Senhor é Deus e sabe o que faz, é só uma ideia, uma dúvida que vou lançar no ar. O corpo humano é perfeito? É perfeito, foi o Senhor quem fez. Mas tem gente que engorda só de respirar. Eu sou assim, passo perto de um fast food e engordo. Suspirei, engordei. Entra em mim por osmose, vem de fora para dentro e me inflo de peso, enquanto o senhor me infla de fé. Mas aí a roupa não vai cabendo...E tem gente que come como um desgraçado...Não, não, como uma pessoa perfeita criada por Vós. Tenho um primo assim. O Senhor sabe, ele é uma criação sua. Um vara pau, um palito. Não malha, não faz nada, é a genética. Acho lindo isso de genética.
          Senhor, e tem mais. O Senhor disse:  "Ame o próximo como a ti mesmo". Não disse ame a alface, ame as verduras, não foi claro em suas instruções. E tem outra: o Senhor multiplicou foi o pão, o carbohidrato, não foi a chia nem a quinoa, tem alguma dica aí.
          Além de tudo, eu quero estar cada vez mais empenhado em minha busca pelo bem, pelo crescimento na fé. Olha o tempo que vou perder fazendo academia, andando como um hamster, levantando peso quando poderia estar levantando vidas. Então Senhor, já que podeis tudo, pois sois Deus, eu posso dormir e acordar fitness. Não é vaidade, é uma coisa simples, não precisa ser uma beleza global, pode ser um Fábio de Melo, um Tom Cruise, uma pessoa comum. O que eu quero é saúde. Então é isso, Senhor. Estamos aqui só conversando. Gratidão por tudo. Assim seja".
            O vídeo termina com o gordinho fazendo abdominal em cima da cama, suando em bicas e com caretas horríveis. Enquanto faz abdominais, conta que descobriu a Prece Abdominal, uma maneira de falar com Deus, aproveitar o tempo e emagrecer. Depois pede a benção a Deus  e agradece por tudo. No final está exausto e gemendo. Rola sem querer e cai da cama. Fim.
            É isso aí. Cada um reza como sabe. Mas que seria bom emagrecer pela graça de Deus, lá isso seria.
           

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Não é bem assim

Luiz Cláudio puxando o cavalo com a Maíra, Vitória e Breno

Zé na varanda olhando o gado e a chuva chegando

        Fazenda lembra leite e queijo fresquinhos, gado no curral, cheiro de mato, canto de passarinhos,  jabuticaba no pé, comida no fogão de lenha, céu estrelado. Natureza, paz e amor. Mas não é bem assim.
        Por exemplo, só a viagem para chegar até a fazenda pode se transformar em uma epopeia. Como da última vez que fui com o Zé (meu marido) dois filhos, dois netos, três  cachorras e uma tranqueira.  Começou com o planejamento: quem vai, no carro de quem, quantos cabem, sai e volta qual dia, quanto de bagagem (item que  inclui desde pneu de trator até veneno de rato). Os filhos médicos  só poderiam sair a tarde e o Zé não concordou. Nunca transitaria á noite nos buracos enormes, tipo cratera, que existem na BR 365 nas proximidades de Pirapora, perigoso  demais. Fomos e o Zé ficou, justo quem mais precisava ir. Iria à noite, de ônibus, pois assim passaria pelos buracos de manhã. Levamos a bagagem dele, só ficou um saquinho com os seus remédios pra ele levar. Fomos bem, no carro Kia de sete lugares, com a cachorras perdigueiras Dama e a Fiona quietinhas dentro da gaiola, a Duda latindo esporadicamente e o Breno, de dois anos, puxando o cabelo e dando uns beliscões na Maíra, de oito. Chegamos às 22 h na fazenda Água Verde, onde dormimos para continuar a viagem para a fazenda Olhos Dágua no dia seguinte. Arrumei as camas, ajeitei a casa, as crianças e as bagagens. Os dois filhos saíram de madrugada, em outro carro, para uma fazenda onde eles têm um reflorestamento de eucaliptos, dormiriam por lá.  Fiquei sozinha com os netos e com a incumbência de buscar o Zé na rodovia às seis horas, quando o ônibus passaria na porteira da fazenda. Acordei os  netos e peguei a estradinha de terra. Esperamos um bom tempo e ele não chegou. Daí consegui receber uma mensagem do filho (lá não tem sinal de celular), avisando que não precisava esperar porque o ônibus havia batido! Felizmente complementou que o Zé estava bem. E só, mais nada.  O Zé chegou às 11h, de carona, nem sei como. Desceu do carro abatido e mancando. Perguntei: "Nossa, Zé, você machucou? " E ele: "Não, é a gota". Puxa vida, foi a primeira vez em 30 anos que ele foi de ônibus, o ônibus desta linha nunca tinha batido, bateu em outro numa reta com asfalto bom e a gota ainda atacou o joelho dele! Muito azar, e tudo porque se negou a ir de carro conosco. Ainda por cima, levou o saquinho de remédios errado, trocou tudo.
          Continuando a saga, fiz almoço com o que tinha e fiquei por ali com os netos para o Zé dormir e descansar antes de seguirmos para pegar a balsa, atravessar o São Francisco e chegar ao destino final. Coloquei o Breno e a Maíra em cima de um trator velho. O Breno esbarrou o braço em uma caixa de marimbondos atrás do banco e foi um ataque em massa. Ele despencou, aos gritos, lá de cima. Eu fui muito ágil e consegui aparar a queda. Mas só no bracinho ele levou 27 ferroadas. Eu levei várias também. A Maíra correu como nunca e levou só uma, mas gritou como se fossem 50 (um perigo, se o Breno fosse alérgico, teria morrido). Coloquei-o debaixo do chuveiro e dei novalgina, fazer o que . Com o berreiro, o Zé nem dormiu. Resolvemos seguir viagem e pegar a balsa das 15h.  Colocamos as tranqueiras no carro novamente e lá fomos, com o Breno apaixonado e choroso, mostrando com o dedinho o local das ferroadas, coitadinho.   Tivemos que parar em uma cidadezinha pro Zé comprar os remédios, demorou muito e quase perdemos a balsa. Durante a travessia, quando estávamos quase na outra margem, olhei para o horizonte e vi uma tempestade escura chegando. Tão rápida quanto pude, coloquei os netos dentro do carro e a cachorrinha. Mas a chuva foi mais rápida e como era uma chuva de pedras,  levei umas boas pedradas antes de conseguir entrar no carro.
            Depois, pegamos uma estradinha de terra, com o Zé todo feliz por estar chovendo na fazenda. Quando chegamos, nem deu tempo de pensar: "até que enfim!", pois a casa estava toda inundada, tinha goteira pra todo lado, descia água pelas paredes. A casa da sede é agradável e bonita, a Globo até filmou lá o curta metragem "Dia de Reis". Mas neste dia estava um caos.
            Tudo isso foi apenas para chegar. Teve muito mais. Por exemplo, a Dama tem medo de boi e vaca. Encontrou alguns pelo pasto e saiu em disparada, desapareceu. Foi uma tristeza geral e muita busca, até que um dia, como mágica, ela apareceu na varanda, esfomeada. E a Fiona parece que pegou alguma virose por lá e morreu 15 dias depois que voltamos. Quando estava doente, nem tinha ânimo de sair atrás dos ninhos de galinha de Angola que existem no condomínio onde meu filho mora. Pois a Dama encontrou um ninho, pegou um ovo com a boca e levou para a Fiona. Foi o último ovo que ela comeu. Coisas de cortar o coração.
            Bem, agora é tomar fôlego para a próxima viagem à fazenda. Sossego, só em sonhos.

terça-feira, 23 de abril de 2019

Experiências em Portugal

No restaurante em Lisboa

Em Pinhão, no Vale do rio Douro

Na Igreja de São Francisco, em Porto
    

       
Em abril deste ano visitei Portugal na companhia das duas filhas. Foram 12 dias de aprendizado, com visitas a castelos, palácios, igrejas, museus, conventos, fortes e praças. Uma oportunidade de voltar ao passado e conhecer sobre as rainhas e reis portugueses, sobre as grandes navegações, os pontos turísticos, o modo de vida. De saborear o bacalhau gostoso regado a azeite, o vinho do Porto e os pastéis de Belém. E também de viver algumas aventuras.
        Começamos nossa viagem por Lisboa. Alugamos um carro e passamos por Sintra, Óbidos, Porto e fomos até Pinhão, no vale do rio Douro, onde visitamos a igrejinha onde meu avô Antônio foi batizado. Foi emocionante voltar à terra dos antepassados. Na volta para Lisboa passamos por Fátima e sentimos a presença de Nossa Senhora por lá, além de assistirmos a uma apresentação de canto gregoriano. Em Lisboa, nos encantamos com a grandeza do Rio Tejo e com as suas duas pontes enormes. A  25 de Abril, com 22 km, é  irmã gêmea da Golden Gate de São Francisco, ambas suspensas, vermelhas e muito bonitas. É gostoso andar nas margens, junto com centenas de turistas, e apreciar o rio. Há inúmeros outros pontos turísticos , como o Arco da Rua Augusta, onde subimos e tivemos uma linda vista da enorme Praça do Comércio. O Castelo de São Jorge, da época islâmica, bem no topo da colina, de onde se tem uma vista perfeita da cidade. A Torre de Belém, patrimônio da humanidade, construída em 1520 por D. Manuel I, com torres de vigia e canhoneiras para tiros de artilharia. O Museu dos Coches, com inúmeras carruagens com esculturas douradas, cheias de histórias, como a usada em 1729 para carregar a infanta portuguesa Maria Bárbara, filha de D. João V, quando foi levada para se casar com o príncipe espanhol D. Fernando. Os bairros históricos, como o Baixa Chiado, Bairro Alto e Alfama, com muitos restaurantes e cafés aconchegantes e nostálgicos, com pessoas cantando fado e com fogo de labaredas altas pra diminuir o frio. Carros elétricos amarelos, repletos de turistas,  percorrendo os trilhos e as ladeiras.
Na famosa Avenida Liberdade, no Cine São Jorge, assistimos o filme Rômulo e Remo, sobre a criação de Roma. Era um festival de filmes italianos. O diretor estava presente, apresentou o filme e foi muito aplaudido. Nossa, nunca vi tanto sangue e tanta luta, com espadadas e facadas! Queria sair no meio do filme, mas fiquei com vergonha do diretor.
      Em Sintra, ficamos em uma casinha branca com cortinas de crochê nas janelas. Visitamos o Palácio da Pena, onde viveram com suntuosidade Don Carlos I, Dona Maria II, Don Fernando II. E tantos outros, que acabei confundindo tudo (lembrei-me da minha netinha Lia: ela fala que gosta só de princesas, pois as rainhas são sempre malvadas). O Castelo dos Mouros, construído pelos muçulmanos que conquistaram a península ibérica no sec. X, é impressionante e exige um excelente preparo físico pra percorrer todas as suas muralhas. O Convento dos Capuchos, que acabou sendo uma visita um pouco aterrorizante. Os jardins com plantas medicinais eram interessantes, mas o convento era muito velho, com quartinhos minúsculos, escuros e sombrios. Ficamos com medo de entrar e desistimos, chocadas em pensar como deveria ser a vida dos monges que lá moraram.
         Em Porto, fizemos um city tour de trem ao longo do Rio Douro e atravessamos a ponte Luís I pra ter uma visão bonita, mas o frio estava de congelar. Na Estação de São Bento, tiramos muitas fotos na frente das pinturas azuis nos azulejos brancos,  verdadeiras obras de arte. Ficamos horas na Livraria Lello, folheando alguns livros da  imensa e valiosa coleção, enquanto nos escondíamos do frio e da chuva. Visitamos a Igreja de São Francisco, uma maravilhosa igreja gótica do sec. XVIII, em barroco dourado. Descemos até as catacumbas e vimos muitas gavetas de pessoas com sobrenomes em comum com os brasileiros, como Freire, Mota, Guimarães, Carvalho, Silva, Souza. Somos mesmo descendentes de portugueses.
         Em Pinhão, numa região linda, com muitos vinhedos e oliveiras e onde se produz vinho e azeite de boa qualidade, alugamos uma casinha bem no alto. O problema foi chegar até lá, numa estradinha estreita e tortuosa, de paralelepípedos, e sem nenhuma proteção lateral. Deu muito medo.
            Entre as muitas coisas que aprendemos (além de ficarmos impressionadas com a quantidade de brasileiros morando e visitando Portugal), vimos que existem muitas palavras diferentes das nossas. Exemplos: moça é rapariga; ponto de ônibus é paragem; shopping é fórum; trem é comboio; recepção é recessão; vários restaurantes juntos é restauração; aberto é abrido; aluguel é aluguer; obrigada é agradecida.
            Enfim, foi bom demais este tempo passado com as filhas, que moram tão longe, na Bahia e na Califórnia. Andamos muito, conversamos, rimos, nos divertimos , rezamos o terço todas as noites e estreitamos os laços mãe e filhas. Quem sabe um dia a gente volta.


quarta-feira, 20 de março de 2019

Livros são asas






             Podemos ir a qualquer lugar do mundo nas asas das palavras escritas nos livros.
            Minhas viagens começaram com a cartilha "Lalau, Lili e o Lobo", quando aprendi a ler, e com "A bonequinha preta", quando vibrei com  as aventuras da boneca que caiu da janela no cesto do verdureiro. Na adolescência, lembro-me de "Robinson Cruzoé", o náufrago que passou 28 anos em uma ilha remota, uma história bonita de dor e solidão. "0 velho e  mar", mostrando a luta pela sobrevivência, a solidão em alto mar e a captura do grande peixe. "Os três mosqueteiros", repleto de aventuras eletrizantes, lutas de espadas, intrigas e romance. O "Guarani", com Peri, o índio corajoso e valente, e Ceci, a moça bonita de olhos azuis, ameaçados pela guerra dos Aimorés. "Anna Karenina", com 864 páginas. Demorei, mas li toda a história da aristocrata russa que viveu  um romance de luz e sombras, com salões de festas repletos de vestidos de renda, música e perfumes. Emocionei-me com muitos outros romances, como "E o tempo levou", também enorme, mais de 1000 páginas, contando a impressionante saga da bela Scarlett O`Hara , que viveu uma conturbada história de amor nos tempos da Guerra Civil Norte Americana. E "Pássaros feridos", com personagens sofridos e marcantes envolvidos em um amor intenso e proibido, nas vastas extensões dos campos australianos. "Gabriela, cravo e canela", com a mulata bonita, sensual e espontânea apaixonada pelo árabe Nacib, na Ilhéus dos tempos dos coronéis. Outros, com histórias fortes  como "As vinhas da ira", ao mesmo tempo um romance e um drama, sobre uma família de migrantes que busca trabalho, comida e dignidade, no caminho para a Califórnia. Já "Comer, rezar, amar" é um livro inteligente e irônico, com a as experiências de Elizabeth Gilbert, que busca o prazer na Itália, a devoção na Índia e o amor na Indonésia.
             Além dos romances, outros que nos ensinam muito. Como "Médico de homens de almas", sobre a vida de São Lucas. "O homem que não queria ser papa", enfocando o dia-a-dia e os dilemas do papa alemão Bento XVI. "1808", que mostra como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. "O amor que acende a lua", com textos tão bonitos como: "as árvores sabem que a única razão da sua vida é viver. Vivem para viver. Viver é bom".  Ou livros com muita sabedoria, como "O arroz de Palma", no qual o Antônio, um cozinheiro de 88 anos, conta que "família é um prato difícil de preparar. São muitos os ingredientes" ou então: "um abraço de neto a cada 24h substitui perfeitamente qualquer tipo de medicamento".
            Também há livros que causam boas risadas, como "As mentiras que os homens contam" e "Casos de Minas". Deste, não me esqueço do caso do Altino, um ouvinte cativo dos programas caipiras. Tinham acabado de lançar a água sanitária Super Globo e a rádio fazia propaganda no intervalo das modas de viola. O Altino um dia entrou no Bar Polar e gritou pro Mariano, que sempre o atendia: " "Vê aí pra mim uma Super Globo bem gelada! Ligeiro, ando doido pra provar esse negócio". O Mariano enrolou como pode mas não teve coragem de contrariar o Altino, que encheu o copo e virou na boca, com vontade. Engoliu, fez uma careta horrorosa e disse :"Quá, tanta propaganda, e nem por isso"...Passou seis meses a leite e biscoito de polvilho. Perdeu o gosto por moda de viola e a fé em qualquer novidade.
              E os livros de suspense, intrigas e assassinatos? É difícil  não ir direto ao final para descobrir quem é o assassino. Como em "Escrito nas estrelas" e "Os cinco porquinhos". Nesse, nunca pensei que o assassino seria aquele que o inteligentíssimo detetive Hercule Poirot descobriu.
         Enfim, penso em Liesel Meminger, a sofrida menina da época da Alemanha nazista, personagem de "A menina que roubava livros". Ela aprendeu a ler com o livro "O manual do coveiro", que o rapaz que enterrou seu irmãozinho deixou cair na neve. Em tempos de guerra, sua vida foi salva diariamente pelas palavras escritas. Os livros deram a Liesel a capacidade de sonhar com um mundo melhor.



sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

O tênis

Zé experimentando o tênis

            Na poesia "Desejos", de Carlos Drummond de Andrade, ele deseja às pessoas coisas simples,  singelas e gostosas, que fazem parte do cotidiano e que muitas vezes a gente nem percebe. Entre outros desejos, escreveu:  "desejo a vocês fruto do mato, cheiro de jardim, namoro no portão, filme antigo na TV, ver a banda passar, noite de lua cheia, sarar de resfriado, tomar banho de cachoeira, queijo com goiabada, bater palmas de alegria, calçar um velho chinelo, sentar numa velha poltrona, ouvir a chuva no telhado, bolero de Ravel..."
            Tenho certeza de que o Zé, meu marido, se lesse essa poesia, gostaria mesmo era de sentar na velha poltrona e, principalmente, de calçar um velho chinelo. Ou uma botina velha ou  um tênis arregaçado. O problema é que o pé dele é gordinho, alto e quadradinho na frente (bico fino, nem pensar), por isso é árduo encontrar algum calçado que fique confortável. Quando encontra, usa o mesmo sapato por anos, até acabar. Certa vez, quando ainda jogava futebol duas vezes por semana, descobriu na hora do jogo que o tênis preto de lona tinha rasgado todo na lateral. Jamais deixaria de jogar por causa de um detalhe desses. Ressuscitou um tênis branco que já tinha encostado: calçou o pé direito com o tênis preto que estava bom e o pé esquerdo com o tênis branco, acreditem ou não. A turma do futebol, no começo, achou engraçado. Mas ele continuou em outras partidas com um pé branco e outro preto e eles se revoltaram. O Zé estava confundindo o time, pois na correria não sabiam se ele era um ou dois jogadores. Fizeram uma "vaquinha" e deram um tênis novo de presente pra ele.
            E agora, no Natal, aconteceu um fato inédito. Quando tudo se acalmou depois da ceia, do Papai Noel, do amigo da onça e das preces para o Menino Jesus, fui guardar alguns presentes que o Zé ganhou (o aniversário dele é nas vésperas do Natal). Retirei algumas roupas e objetos do armário para encaixar os presentes. Absorta na tarefa, deparei-me com uma caixa de sapato no chão, perto dos outros presentes do Natal. Curiosa, abri e encontrei um tênis preto, de cano alto, de material emborrachado sintético com costuras brancas em zig-zag, solado de borracha, com design bonito, novinho. Surpresa, perguntei ao Zé quem tinha dado para ele. Meio sem jeito e sem graça, respondeu que não sabia, não se lembrava. Argumentei que era muito descaso ganhar um presente bom como aquele e nem saber quem deu. Entusiasmado, ele calçou para ver se servia e ficou encantado: era macio, confortável, não machucava, dava o apoio necessário para a caminhada, daria até para correr e saltar. Andava pra lá e pra cá no quarto, impressionado como alguém adivinhou exatamente como deveria ser um tênis para ele, que tinha um pé tão difícil. Resolvemos tirar uma foto e colocar no grupo de whatsApp da família, para descobrir quem foi e agradecer. Ninguém se manifestou, apenas um filho perguntou: "será que era para ele mesmo? " Quando li isso, lembrei-me de tudo: foi o Zé quem comprou o tênis!!! Há uns seis meses atrás, eu tinha conseguido arrastá-lo a uma loja de calçados pra comprar uma sandália. Ele gostou desse tênis e insistiu em levá-lo. Eu disse pra não levar, que ele não usaria até a sandália acabar. Ele insistiu, com cinismo: "Posso? " Daí levou, guardou no armário e esqueceu. Quando desocupei o armário, o tênis veio junto e se misturou com os outros presentes. Resumindo, foi ele quem deu o presente pra si mesmo. Ele não se lembrava, nem eu.
            Assim, mesmo o Drummond desejando tantas coisas boas pra gente, só posso terminar com um texto divertido que li na internet: "não sei quem inventou essa bagaça de melhor idade...Melhor idade uma pinóia! Acho o papel e perco a caneta. Quando acho a caneta já não sei mais onde coloquei o papel. Quando consigo unir os dois, cadê "ozóculos"? E quando acho os três já não me lembro mais o que escrever...Eu heim..Ô rái!!!"