A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

terça-feira, 21 de abril de 2020

Índios brasileiros





Dia 19 de abril comemorou-se o Dia do Índio. Lembro-me que, há tempos atrás, foi divulgado na TV um possível caso de canibalismo praticado por índios de uma tribo do Amazonas. Filmaram a aldeia e mostraram os costumes dos índios. Interessei-me pelo assunto e procurei  uma coleção de fotos incríveis que tenho, de índios de aldeias no interior do Amazonas, perto da Bolívia. Foram tiradas anos atrás, por minha filha, quando ela lá esteve durante um mês, com uma equipe da Funai, participando dos trabalhos como assistente de dentista. Na época, ela contou-me tudo o que aprendeu e vivenciou.
Partiram de uma cidade chamada São Gabriel da Cachoeira, em um barco, até chegarem no interior da selva. Dormiam em redes dentro do barco e comiam o que levaram. Na outra etapa, entrou em uma canoinha com a dentista, dois ajudantes indígenas e embrenharam-se no meio dos igarapés. Desceram da canoinha e continuaram o caminho à pé, andando dentro da selva, à noite, cortando galhos com facão ( tipo aquele seriado “Lost”),  até alcançarem uma aldeia de etnia hupda.
Os indígenas que moram nessa aldeia têm pouco contato com os brancos, não falam português, usam poucas roupas e não comem açúcar. Vivem em palhoças com parede de barro e existe uma maior, comunitária, onde se juntam para comer biju e peixe. A alimentação é baseada na mandioca. As mulheres trabalham duro, mesmo as grávidas e as idosas. Cuidam da lavoura, plantam, colhem, capinam, carregam coisas, descascam mandioca, fazem farinha. Os homens pescam, fazem redes e canoas. Quando o peixe é abundante, ele é defumado e se transforma em peixe “muqueado”. Em datas festivas, cada família faz a sua bebida alcóolica, em panela própria, de mandioca fermentada, chamada caxiri. Trocam a bebida entre eles, para ver qual está melhor e bebem na cabaça. É um rito social. Ficam bêbados, dançam, pulam e cantam, uma loucura e uma bebedeira geral.
            Os idosos, quando não podem mais contribuir com as atividades da aldeia, são deixados para morrer. Não são tratados e ninguém tenta curá-los. Por sua vez, eles entendem que já cumpriram seu papel e aceitam a morte com naturalidade. Minha filha viu uma velhinha que passava o tempo todo numa rede, numa palhoça afastada, e que só recebia uma sopa ralinha uma vez por dia e mais nada. Ficou chocada, mas compreendeu que o entendimento que os índios têm do fim da vida é muito diferente do entendimento do "homem branco".
            O tratamento dentário é precário, consistindo na extração de dentes e em demonstrações coletivas de técnicas de escovação. Olhei fotos interessantes de todos os indígenas escovando os dentes, mas sem pasta dental. Eles ganham as escovas do projeto da Funai e aprendem também a limpar os dentes com um fio vegetal.
            As crianças indígenas são fascinantes, dóceis e independentes. Nas fotos, há crianças maiores cuidando das menores. Um grupo de meninos e meninas peladinhos, nadando no rio. Correndo na água. Pulando das árvores e mergulhando no rio. Remando sozinhas na canoa. Sentadas na grama. Mamando no peito. Dando birra e rolando no chão. Rostinhos bonitos, parecendo bolivianas. Muitas barrigudinhas, provavelmente cheias de vermes intestinais. Mas o fato incrível e maravilhoso é que as crianças indígenas não apanham de seus pais. Nas aldeias, elas não são castigadas e ninguém bate nas crianças (esse exemplo deveria ser seguido pelos homens “civilizados”).
Ainda sobre costumes em tribos: em certa tribo da África, cada criança que nasce tem uma canção. Cantam a canção para ela em várias ocasiões importantes. Recordam a beleza da pessoa quando ela se sente feia, sua totalidade quando se sente quebrada, sua inocência quando se sente culpada e seu propósito quando está confusa.
Eu gostaria de ter uma canção assim.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Aaatchim!!! Saúde!



         Ai, meu Deus, que saudades dos tempos em que a gente espirrava e as pessoas falavam saúde! Mas tudo isso vai passar. Como dizem alguns memes divertidos, '' quando tudo isso terminar, vou ficar uns 15 dias sem aparecer em casa" ou  "juntos vamos sair dessa: uns gordos, outras grávidas, outros loucos e muitos divorciados, mas vai passar".
           Felizmente o brasileiro tem muito senso de humor, capaz de inventar frases geniais sobre o drama de estar confinado em casa.  Por exemplo: "- Eu comi  11 vezes, dei cinco cochilos e ainda é hoje". "-Mais um dia como as Lojas Pernambucanas: só cama, mesa e banho.". "-Não vejo a hora de passar para o regime semi aberto". Mas a melhor é essa:     "-Hoje vou sair de casa. É minha vez de tirar o lixo. Que emoção! Nem sei que roupa vou usar".
            Também tem piadas implicando com os idosos: "cite o nome de um animal teimoso com a letra V. E o menininho responde: -véio!" E ainda estão dizendo que nos estacionamentos, onde antes estava escrito "idoso", agora está escrito "teimoso"...Até os relacionamentos estão mudando:"homem com álcool gel  procura mulher com máscara para quarentena séria."
              E existe um áudio trágico-cômico que explica bem esse momento de pandemia. Uma mulher, com o nariz entupido e fanhosa, fala de maneira fácil e espontânea: "Nossa Senhora, meu nariz tá entupido e eu tô ficando é doida. Vai trabalhar, fica em casa, morre de vírus, morre de fome; marido em casa, filho pulando, filho gritando, cachorro latindo, gato miando, tudo junto; vídeo de bióloga, vídeo de médico, vídeo de empresário, vídeo de infectologista, vídeo da enfermeira, vídeo do padre, vídeo do pastor;  vídeo do presidente, vídeo do governador, vídeo do prefeito, vídeo do caraia quatro; limpa tudo, fecha tudo, vai morrer, não vai morrer; bate panela contra, bate panela a favor, vai pra janela, faz louvor, chama a pomba gira, vai pro terreiro, joga água sanitária; bate palma pro médico, bate palma pra enfermeira, pro pessoal do supermercado; pede ajuda pro santo, pede ajuda pro orixá; lava a mão, passa álcool, bebe pinga, usa máscara, não usa máscara, vai vacinar, não vai vacinar, tira o véio da rua, joga água no véio, põe luva no véio, leva o vírus pra rua, leva o vírus pra casa..." A mulher termina essa ladainha com voz arrastada, dizendo: -"E o mundo todo acabando!!!"
            Mas bom mesmo foi no Turcomenistão, um país na Ásia Central, ex-integrante da União Soviética e um dos mais fechados do planeta. O ditador de lá resolveu o problema do vírus de uma vez: declarou que no país não existe coronavírus e baniu o uso da palavra. Aquela história de que um problema não existe se você não falar nele. Proibiu o uso pela imprensa e por indivíduos. A polícia pode prender qualquer um que usar a palavra em locais públicos, mesmo que seja em conversa entre amigos. Antes, ele já tinha banido outras palavras do  alfabeto turcomeno, como "problema". O nome do ditador é Gurbanguly Berdymukhamedov. Também, com um nome desses, ele deve pensar que pode qualquer coisa...
           Enfim, cada um tenta superar este tempo de pandemia do coronavírus  a seu modo. Em Santos, conforme li na Folha de SP, uma mulher de 23 anos ficou levemente ferida ao cair de uma janela no primeiro andar. Pular a janela foi a forma que encontrou pra sair de casa e ir visitar a mãe, pois o seu companheiro não deixava. Já Cristiane Gercina, colunista deste mesmo jornal, explica que não tem medo do coronavírus, mas quer sobreviver a ele com sanidade. Está fazendo home office, auxiliando nas aulas online das duas filhas sem ser professora e tentando atender psicólogos e blogueiros que orientam a brincar com os filhos. Enquanto isso, lava, passa, cozinha, faxina, abre mão do salário e ainda tem que pagar as contas em dia. Assim, não consegue nem lavar as mãos. O pior é que  tem malandro tentando aplicar golpes. Em Franca, golpistas pediram por telefone um depósito de R$ 4.900,00 a familiares de pessoa internada com suspeita de coronavírus, explicando que seria para realização de testes. Quando pediram a segunda vez, a família desconfiou e procurou a polícia. Tomara que sejam presos.
             Bem, tudo vai passar, um dia. E aí poderemos nos cumprimentar, abraçar, beijar e falar "saúde" bem alto quando alguém espirrar.