A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

sexta-feira, 29 de abril de 2022

Pequenas felicidades e a terceira idade

 

                Existem vários exemplos de pequenas felicidades que podemos ter, a cada dia e a cada hora. Como chegar em casa e calçar um sapato velho, passear com o cachorro, rir com os netos, comer goiabada com queijo ou pão quentinho com manteiga. Acordar de manhã e ver que pode dormir mais um pouco. A alegria quando o avião pousa, quando um amigo se cura, quando o médico diz que foi só um susto, quando rola um beijo, quando o abraço aperta, quando se encontra dinheiro esquecido no bolso, quando o bebê ri. Ou então o cheiro do mato molhado ou do café fresquinho; uma foto antiga no álbum, o banho gostoso no verão quente.

                Acontece que as pequenas felicidades mudam de acordo com a época da vida. Por exemplo, como estou na terceira idade (melhor idade?), fico feliz demais quando tropeço, quase caio, mas não caio! Evito assim esborrachar o rosto no chão, quebrar a perna , quebrar o braço, quebrar a cabeça do fêmur. Fico feliz também quando encontro os óculos perdidos. Ou encontro as chaves do carro,  esquecidas ou perdidas em algum canto. Aliás, tem até aquela  piada sobre esquecimento de chaves e envelhecimento.  Uma mulher  procurava a chave do carro, na bolsa, depois de umas compras no shopping. Não estava lá. Voltou nas lojas e nada. Concluiu que tinha deixado a chave na ignição do carro. O marido vivia brigando com ela para não fazer isso, pois o carro seria roubado. Mas ela achava que era o melhor lugar para não perdê-la. Correu ao estacionamento e o carro não estava lá! O marido estava certo, o carro tinha sido roubado! Ela chamou a polícia, deu todas as informações e fez a chamada mais difícil da sua vida, para o marido. Começou falando "Amooor", pois sempre falava assim em situações difíceis. Explicou toda a situação. Houve um grande silêncio do outro lado e depois um berro do marido: "-Eu deixei você no shopping!!" Envergonhada e feliz, ela pediu baixinho para  ele ir buscá-la . E ele, nervoso: "Eu vou, assim que convencer este policial que não roubei seu carro!"

                Outra pequena felicidade, em qualquer idade, é quando a dor passa. Dor de dente, de ouvido, de coluna, de joelho, de cabeça, de barriga, no nervo ciático-dor de cotovelo também. Mas na terceira idade essa felicidade é maior, pois é aquela idade em que tudo dói e o que não doi, não funciona. Dia desses mesmo, estava eu sofrendo com dores no nervo ciático. Fui mancando até o Banco do Brasil, pertinho de casa, sonhando com uma muleta ou uma bengala.  Sentei-me na primeira cadeira que encontrei , depois de pegar a senha preferencial (ao menos isso). Na frente, um cartaz com os desenhos explicando quem era preferencial. No "idoso acima de 60 anos", um homenzinho curvado, com uma bengala e a mãozinha na cintura como se estivesse sentindo dor. Ô raiva, igualzinho eu!

                Também são pequenas felicidades: apreciar o belo, ouvir e cantar lindas canções, ler textos bonitos. Como o texto do Padre Fábio de Melo, "A inutilidade e o amor". Ele escreve que muitas vezes a gente acha que o outro gosta da gente, mas não. Ele está é interessado naquilo que a gente faz por ele. Por isso a velhice é esse tempo em que a utilidade passa e aí fica só o seu significado como pessoa. Ele afirma que deseja ter alguém que olhe para ele sabendo que ele não servirá para muita coisa, mas que continuará tendo seu valor. Acrescenta que deseja ter a graça, ao final da vida, de ser olhado nos olhos e ouvir do outro: -"Você não serve para nada, mas eu não sei viver sem você!"

                 Essa graça, todos nós desejamos.