A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

quinta-feira, 8 de março de 2018

Açaí, sorvete e Dayana

Delícia de açaí

Um gostoso sorvete de chocolate

Dayana abraçando a filha no parquinho do orfanato Fundana (fonte: Folha de São Paulo, 15/02/18)
       Gosto de escrever textos divertidos para alegrar o leitor. Por exemplo, comentando um vídeo que recebi.  Nele, uma mulher de uns 30 anos, bem morena, rosto redondinho, lábios carnudos e bem maquiada, falando indignada, séria e com voz cristalina, mais ou menos assim: "ôu, esse trem de homem malhado não presta. Ele só te chama pra tomar açaí. O problema é que ele paga o dele e eu pago o meu. E tem mais,  é só açaí com banana, senão engorda.  Ele fica vigiando pra ver se a gente vai colocar  leite condensado e leite em pó, e nem é ele que vai pagar. Hoje o que eu gosto é de homem barrigudo e gordinho, são os melhores que se tem. Ele te chama pra tomar uma e toma todas. E você pode pedir porção de batata com queijo, mandioquinha, peixe, torresmo. Quando você fala que vai embora, ele chama pra tomar a saideira.  Depois paga tudo e ainda te leva em casa. Hoje tá na moda é homem gordinho. Quando vejo homem sarado eu corro".
            Eu ri muito desse vídeo, principalmente porque adoro açaí com leite condensado e leite em pó. Lembrei-me de um texto da Danuza Leão, em que ela fica indignada quando vai a restaurantes e o garçom traz uma bola bem pequenina do seu sorvete preferido. Quanto mais caro o restaurante, menor a bola. Ela escreve sobre vários prazeres que a gente deixa de ter, com tantos deveres, tantas preocupações em acertar, tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação. E  aí a vida vai ficando sem tempero e sem graça. Termina pedindo ao garçom, entre outras, cinco bolas de sorvete de chocolate. Enfim, concordo  com as duas de que é bom demais comer o que a gente gosta.
         Mas daí fico pensando em tantas pessoas que passam fome, e não tem como deixar de escrever sobre as tristezas da vida. Como o caso de Dayana e seus quatro filhos. Li sobre ela numa matéria da Folha de São Paulo, de 15/02/2018. O repórter Anthony Faiola, do Washington Post, contou de sua visita ao maior orfanato da Venezuela, em Caracas. O pátio era uma pista de obstáculos de crianças abandonadas. A assistente social que o acompanhava ia explicando sobre as crianças. Passou por ele um menininho robusto em um triciclo, apelidado de "El Gordo", mas quando foi deixado no orfanato meses atrás era pele e osso. E a menininha de vestido florido quase não falava mais. A mãe a tinha abandonado em setembro em uma estação de metrô, com uma bolsa de roupas e um bilhete suplicando que alguém a alimentasse. Centenas de pais têm feito isso na Venezuela, onde a fome e a miséria crescem sem parar. Não têm como alimentar seus filhos e os estão entregando. Não porque não os amem, mas porque os amam (quer coisa mais triste?). E os bebês, que antes eram facilmente adotados, não o são mais, pois os pais adotivos não conseguem arcar com as despesas. No país, cerca de  71% das crianças com menos de cinco anos não têm alimentação  adequada. A fome obriga as famílias a fazer escolhas dolorosas, como no caso de Dayana, 28 anos . Em novembro passado ela perdeu seu emprego de faxineira e entregou seus dois filhos menores para o orfanato. Como a entidade não aceita crianças maiores, ele ainda está tentando alimentar o de 8 e de 11 anos em casa. O orfanato oferece a ela leite, macarrão e sardinha, mas não é suficiente. Contou ao repórter que depois do jantar , os meninos pedem: "Mãe, quero mais". Mas ela não tem mais nada pra dar a eles.
            Acho que eles iriam adorar ter como sobremesa açaí com  leite condensado  ou  sorvete de chocolate. 

sábado, 3 de março de 2018

Para as mulheres, com carinho







            Em  oito de março comemora-se o Dia Internacional das Mulheres. Escrevo então um texto para elas, de presente, com algumas passagens que achei muito lindas.
       Sempre que perguntavam a Einstein se ele acreditava em Deus, respondia que acreditava no Deus de Spinoza. Quem não conhecia Spinoza ficava sem entender. Ele, Spinoza, foi um filósofo holandês do século XVII e que escreveu um texto como se Deus estivesse falando com os homens,  com trechos assim: "O que eu quero é que saias pelo mundo e desfrutes da sua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que fiz para ti. Minha casa está nas montanhas, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e expresso meu amor por ti. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho...Não me encontrarás em nenhum livro!Para de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem  te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor. Para de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz...Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso te castigar por seres como és, se sou Eu quem te fez?Que tipo de Deus pode fazer isso? Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho de mar. Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações? Não me procures fora! Não me acharás...Procura-me dentro...Aí é que estou, batendo em ti".
          Outro texto que gostei foi do Rubem Alves. No seu livro "Ostra feliz não faz pérola", ele conta que de vez em quando lhe perguntam se acredita em Deus. Ele responde que  acredita mais que a maioria das pessoas e que tem até 33 nomes para Ele. É só falar o nome, sentir na imaginação o que o nome diz e a alma se enche de tanta alegria que isso só pode ser um pedaço de Deus. Mas é preciso falar devagarzinho e ir pensando...Por exemplo: o mar de manhã. O perfume do capim. O olhar e tudo o que ele olha. O sono na cama. A cadela e os cãezinhos. Um relâmpago silencioso. O silêncio entre dois amigos. Morder uma jabuticaba. O canto do sabiá. A terra boa. Ele cita vários outros pedaços de Deus que conhece . Acrescenta que a marca do Divino é o milagre cotidiano que é este mundo: a vida, o olho, a asa de uma libélula, a chuva, a sopa de fubá, o pão quentinho, o perfume do jasmim, a teia de aranha, um poema, o amor entre duas pessoas. Conclui , assim como Spinoza, que não precisamos de mais milagres, Deus já espalhou muitos pelo mundo.
       Assim, neste dia dedicado às mulheres, desejo que o Deus de puro amor proteja e abençõe a todas. E que cada uma consiga, todo dia e à sua maneira, encontrar os pedaços de Deus  ao longo desta vida que, por si só, já é um milagre.