A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

sábado, 2 de junho de 2018

Sobre potes e universos

Potes de plástico
Stephen Hawking


            Estava eu envolvida nos meus afazeres domésticos, guando me deparei com a necessidade de guardar o feijão cozido na geladeira.  Procurei um pote de plástico, de preferência daqueles de sorvete. Incrível como os potes são dinâmicos, parece que têm vida própria. As tampas somem como por encanto ou então aparecem várias tampas sem os potes. Ou de repente aparece uma tampa, vindo não sei de onde, que se encaixa direitinho em um pote guardado há anos sem a  tampa. Ou, sem mais nem menos, passam a existir apenas potes quadrados e tampas redondas. Um mistério. O pior é quando a gente pega um pote de sorvete na geladeira pra esquentar um pouco de feijão e o que tem dentro? Sorvete!
    Consegui guardar o feijão e continuei os meus inúmeros afazeres miudinhos. Fui trocar os jornais com os quais forro o chão pra Duda, minha cachorrinha, fazer xixi.  Sempre uso a "Folha de São Paulo" e como geralmente dou uma olhada no que está escrito, vi um artigo intitulado "Hawking deixou um último estudo sobre o "multiverso." Comecei a ler com interesse. O estudo, resultado de 20 anos de pesquisa, foi enviado para publicação dez dias antes dele morrer, em março agora (nem sabia que ele tinha morrido) e indica um caminho para a busca de universos paralelos. O Big Bang não teria criado apenas um universo, mas incontáveis. Alguns seriam bem parecidos com o nosso, talvez com planetas semelhantes à terra e indivíduos como os daqui; outros poderiam ser totalmente diferentes . Céus, se eu já me sentia menor que um grão de areia no oceano, quando pensava no universo, como me sentir agora, com infinitos universos? Comecei a divagar, pensando na genialidade deste grande físico inglês, Stephen Hawking. Ele foi diagnosticado aos 21 anos com esclerose lateral amiotrófica e lhe deram três anos de vida, mas viveu mais de 50 com a doença. E ainda casou-se duas vezes, teve três filhos, viajou pelo mundo todo e tinha muito senso de humor. Ao longo dos anos, perdeu a voz e todos os movimentos do corpo, até se tornar basicamente um cérebro brilhante em cima de uma cadeira de rodas. Ele tinha uma voz eletrônica e por meio de um sintetizador escolhia as palavras na tela do computador, usando o movimento das bochechas (e eu a, uma reles mortal, contrariada porque meus joanetes não estão cabendo nos meus sapatos). Mesmo com tantas limitações físicas, foi um dos cientistas que mais contribuiu com a física quântica, com os estudos sobre a origem do universo e as radiações dos buracos negros (e eu, sem conseguir encaixar uma tampa redonda num pote quadrado pra guardar o feijão na geladeira).
         Enfim, recortei o artigo sobre o Hawking e guardei, não poderia deixar a Duda fazer xixi num artigo tão importante.  E pra me consolar sobre minha pequenez dentro  destes universos infinitos, fui ouvir a música "Detalhes" do Roberto Carlos: "detalhes tão pequenos de nós dois, são coisas muito grandes pra esquecer e a toda hora vão estar presentes, você vai ver..."  Continuando, ele fala do ronco barulhento do seu carro, da velha calça desbotada, dos erros do seu português ruim. Consolei-me com essa canção tão bonita sobre coisas miudinhas e fui organizar a prateleira dos potes plásticos, já que não tenho mesmo a genialidade do Hawking.