A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Lídice

Monumento em homenagem às crianças de Lídice mortas pelo nazizmo


           Moro em Uberlândia, no bairro Lídice, há 46 anos. Meus filhos nasceram e foram criados nesse bairro e somente agora descobri o porque do nome Lídice. Várias cidades e locais do mundo inteiro têm este nome em homenagem a uma vila da  antiga Tchecoslováquia, para que ela nunca seja esquecida. A vila foi totalmente destruída pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial e se tornou símbolo da crueldade nazista .
           É uma história muito triste, conforme pesquisei. Tudo foi uma vingança pela morte de Reinhard Heydrich, um comandante nazista, segunda maior autoridade do Serviço Secreto (SS) e também um dos mais cruéis. Era um seguidor fiel de Hitler, seu protegido especial e nomeado Protetor do Terceiro Reich. No dia 27 de maio de 1942, ele se dirigia da vila onde morava para seu escritório no centro de Praga, capital do país e sob domínio dos alemães. O carro onde viajava foi emboscado a tiros por dois integrantes da resistência tcheca, que haviam sido treinados na Inglaterra e que desceram de para-quedas no país. Atingido pelos tiros, Heydrich morreu uma semana depois, no hospital, de infecção generalizada.
                Enraivecido, Hitler ordenou que se fizesse de tudo e que não se poupassem vidas para achar os responsáveis pela morte do oficial nazista e para se vingar dos tchecos. Aconteceu uma retaliação sangrenta e generalizada das tropas nazistas contra a população civil tcheca. E Lídice, uma pequena vila próxima à capital e que se dedicava à mineração, foi interpretada como  hostil aos  alemães e como ponto de reunião dos assassinos de Heydrich. Assim, foi escolhida para ser massacrada. Em 10 de junho, foi cercada por tropas nazistas, que impediram a saída de seus moradores. Os habitantes homens com mais de quinze anos foram separados, colocados em um celeiro e fuzilados em pequenos grupos. As mulheres e crianças  foram enviadas para o campo de concentração onde a maioria morreu de tifo e exaustão pelos trabalhos forçados. A vila inteira foi demolida por explosivos e a terra foi aplainada por tratores. Os alemães espalharam grãos pelo chão de toda a área para transformá-la em pasto e a riscaram dos mapas da Europa. Cerca de 340 habitantes de Lídice morreram no massacre alemão, entre homens, mulheres e crianças. Também outra pequena aldeia de Lezaky foi destruída e seus habitantes executados. A vingança alemã causou em torno de 1500 mortes em toda a Tchecoslováquia e os resistentes que atiraram em Heydrich acabaram se suicidando em Praga, quando estavam prestes a serem presos pela SS.

           Os nazistas sempre ocultavam os crimes de guerra. Mas no caso do massacre de Lídice, fizeram questão de divulgar, para que servisse como uma ameaça para a população cativa da Europa ocupada pela Alemanha. O fato causou uma onda de terror e indignação mundial. Atualmente, o local onde Lídice existia foi transformado em um campo santo e em memorial nacional, onde queima um fogo eterno. Existe lá um memorial especial, esculpido para as cerca de 88 crianças que foram mortas. Estão todas de pé, em roupas simples, sérias, enfileiradas, algumas de mãos dadas. É tenebroso pensar que foram todas, em sua inocência, mortas por vingança em uma guerra. 
            Em 1949 até reconstruiram a vila, nas proximidades daquela que foi retirada do mapa, mas nada apaga da história da humanidade a tragédia que aconteceu com Lídice. E resta a nós, moradores do bairro Lídice de Uberlândia, fazer ao menos uma prece silenciosa por tantos que morreram vítimas do nazismo.






Os piolhos e o colchão

Pediculus humanus capitis, o famigerado piolho

Colchão de ótima qualidade,
            Existem pessoas  especialistas em todos os tipos de assuntos, e algumas especialidades são inacreditáveis. Por exemplo, descobri que nos States existe especialista em acabar com os piolhos do couro cabeludo, quando a minha netinha apareceu com piolhos. Ela era apenas uma entre milhões de pessoas que anualmente pegam piolho no mundo inteiro, esse inseto ectoparasita e cosmopolita. Apesar de não ter asas e não pular, movem-se rapidamente de uma cabeça para outra quando os cabelos estão em contato direto. E basta uma fêmea fecundada pra povoar uma cabeça inteira, pois cada fêmea, que vive em torno de um mês, pode colocar cerca de 100 ovos. Assim, minha netinha deve ter encostado o cabelo em algum "piolhento", ou usado o boné de alguém que tinha piolho, e pronto. Começou a coceira característica e a sensação de pezinhos caminhando entre os cabelos. Como o processo de retirar piolhos e lêndeas é demorado e tedioso (um pouco nojento também), minha filha optou por chamar uma especialista, por sessenta e cinco dólares a hora. A especialista só usou produtos naturais (nada disto de pulverizar Neocid, enrolar uma toalha na cabeça e deixar a pessoa coçar até chegar á beira da loucura). Ela tirou piolho por piolho, lêndea por lêndea, repassou fio por fio e falou sem parar sobre os piolhos, pois conhecia profundamente o assunto. A netinha ficou  três horas sentada na cadeira, assistindo TV e maravilhada com uma pessoa mexendo e lavando seus longos cabelos (mas saiu caro).
            Também eu passei agora por uma experiência com uma especialista, mas em colchão . O meu colchão de casal estava bem velho, com um afundado no local onde o Zé, meu marido, dorme. Fui então em três lojas fazer uma pesquisa de mercado para comprar outro. Tive que investigar as melhores marcas e os preços. Deitei-me em vários colchões, para experimentar: de lado, de costas, com e sem travesseiro; macio, firme, duro. Com tanto tipo e marca, fiquei confusa e me encaminharam para uma especialista em colchão. Piorou. Como a profissional dos piolhos, falou demais: sobre molejo, pillow, tecnologia suíça, Instituto Nacional de Estudos de Repouso (nunca pensei que existisse), mola ensacada, ação bactericida, densidade da espuma, qualidade, garantia etc. Eu só queria mesmo era um colchão gostoso para dormir. Depois de muita indecisão, optei por um de 38 cm de altura, com seis selos de certificação, aprovado em todos os quesitos e em promoção. Tinha até bordas de aço com alto teor de carbono, active protection, poly board e ISO 9001. Mas quando foi colocado na cama ficou altíssimo e a cabeceira da cama desapareceu. O Zé começou a falar que tinha que escalar o colchão para deitar. Que ia mandar cortar o pé da cama ou arrumar uma escada. Que se caísse da cama, no mínimo quebraria a perna. Que teria que treinar algum salto para descer de uma vez. Que ele nunca mais conseguiria calçar a botina sentado na cama. Que estava difícil descer do segundo andar para o térreo. Que preferia o colchão antigo, mesmo afundado. Depois de quatro dias dessa ladainha insuportável, fui até à  loja pedir à especialista para trocar o colchão. Aleguei que ela explicou tudo, menos que o colchão ficaria tão alto, inadequado para dois velhinhos. Consegui trocar por um de 28 cm, sem tantos selos de certificação.
              E assim, com a ajuda das especialistas, estamos todos felizes: minha netinha sem piolhos e o Zé e eu dormindo o sono dos justos.