A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A briga

Meu irmão, o Fá (diminutivo carinhoso de Luiz Flávio): meu herói e meu ídolo


             Brigas fazem parte do cotidiano, acontecem com todos. Conflitos sempre existiram, são da natureza humana. Há mulheres que brigam com os maridos só pela emoção e prazer de fazer as pazes. Irmãos que vivem como cão e gato, mas não ficam um sem o outro. Vizinhos que trocam palavrões por causa da árvore na calçada ou porque simplesmente não gostam da cara um do outro. Brigas na escola, na rua, no trabalho, no “lar doce lar”, por todo lado.
            Até eu, que sou adepta da paz e da calma, certa vez participei de uma briga homérica. Estávamos o marido, eu e sete crianças (cinco filhos e dois vizinhos) viajando de camionete para as férias na praia de Guarapari. Paramos em Belo Horizonte, para dormir no apartamento do meu irmão. Ele é um homem grandalhão, de mais de cem quilos, de coração bondoso e alma de criança. À noite, meus três filhos, os dois vizinhos e dois primos, todos entre oito e treze anos, desceram para o hall do prédio. Os inquilinos estavam comemorando o aniversário de um dos moradores, no salão. Os sete “penetras” queriam salgadinhos e a meninada da festa não quis dar. Aí, jogaram uma sandália havaiana na cabeça de um dos filhos do aniversariante. Estava armada a confusão. Quando desci para chamar a turma para dormir, encontrei uma pilha humana de meninos se debatendo, uns por cima dos outros. Cabelos arrancados, camisas rasgadas, sapatos perdidos, gritos de “arregaça a cara dele”. Horrorizada, comecei a puxar algumas pernas para dissolver a montanha humana. Os dois primos, espertos, só do lado de fora, atiçando a briga. Nisso, os convidados da festa viram a briga e acudiram em massa. Os penetras saíram em disparada e eu fiquei sozinha no meio da turba assassina. Quase apanhei, mas mantive a dignidade, a postura e a coragem (mas de pernas bambas e trêmulas) e defendi a retaguarda para a fuga dos sete. Assustados, eles se esconderam no quarto e ficaram quietinhos, como santos. No apartamento, todas as outras pessoas dormiam, não viram nada.
            Repentinamente, na calada da noite, soou a campainha. Tremi. Era o aniversariante em pessoa, exigindo a presença do síndico no salão de festas, para as devidas explicações (o síndico era o meu irmão). Fui com ele, para prestar depoimento do que se passou. Rodeada pelos convidados furiosos, comecei a contar o que vi. Um homem enorme, de mais de 120 kg, bêbado, pulou na minha frente e vociferou: “é mentira, não foi assim!”. O meu irmão, do tamanho dele, também pulou na minha frente e bradou, em voz grossa e decidida: “ninguém chama minha irmã de mentirosa!”. Emocionei-me com tal defesa. Seria um duelo de gigantes, de titãs. Mas aí entrou a turma do “deixa disso” e levou cada um para um lado. No final, pedi desculpas pelas crianças terem atrapalhado a festa e ainda tive a audácia de dar os parabéns ao aniversariante. Porém, temendo represálias, acordei meu marido às cinco da manhã (ele não sabia de nada, dormia o sono dos justos) e deixamos o prédio de fininho.
            Bem, toda briga deixa uma lição. Nessa, descobri que meu irmão é um herói. A partir daí, se tornou o meu ídolo.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Um enigma chamado mulher






            Em uma loja, encontrei uma mulher jovem, vestida de maneira simples, carregando nos braços uma menina de cerca de seis anos, com deficiência física. Os bracinhos muito finos e as pernas tortas, a cabeça tombada para o lado, os olhos perdidos, o vestido da moda, estampadinho de flores. A mãe envolvendo-a com firmeza e carinho, carregando-a por todo lado, enquanto separava algumas roupas para levar no caixa da loja.
            Fiquei então pensando na grandeza daquela mãe, uma mulher de verdade. E resolvi escrever sobre as mulheres: Marias, Terezas, Patrícias, Antônias. Mulheres que fazem de tudo: lavam, passam, cozinham, pintam, arrumam armários, limpam geladeiras, juntam roupas e brinquedos, carregam compras, colocam flores nos vasos, fazem malabarismo com o orçamento doméstico. Ensinam o filho a andar e a falar, a deixar a chupeta, a não brigar com os irmãos. Beijam, abraçam, contam histórias, colocam de castigo, puxam as orelhas. Levam e buscam o filho na escola, ensinam os deveres e os valores morais. Passam noites acordadas, esperando o filho adolescente chegar. Conhecem os medos e os sonhos secretos de cada um. Trabalham fora o dia todo e ao chegar em casa, encontram a família faminta de comida e de amor. Dançam, cantam, se apaixonam muitas vezes, nem que seja pelo mesmo homem. Outras trocam de amores, pois concluem que o amor é eterno, o que muda são os amantes. Sofrem e choram às escondidas, mas enxugam as lágrimas quando percebem uma luz no fim do túnel. São capazes de rir até às lágrimas lendo histórias em quadrinhos da Mônica e do Cebolinha. E também de se derreterem em lágrimas assistindo novelas e filmes românticos. Capazes ainda de grandes gestos de abnegação e de amor, como passar toda uma vida cuidando de filhos deficientes. Misto de força e ternura.
            Enquanto umas lavam roupa para fora, outras preparam aulas, operam pacientes, dirigem empresas, varrem as ruas, pilotam aviões. Tropeçam nas pedras ao longo do caminho e caem, mas levantam, sacodem a poeira e dão a volta por cima. E entre uma coisa e outra, se depilam, se maquiam, passam cremes, fazem dieta, malham, compram roupas novas. Querem ser bonitas.
            Tentando entender as mulheres, vários autores escrevem livros sobre o assunto, como: “Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor?”, de Allan e Barbara Pease. Os autores comparam homem e mulher, utilizando a Biologia Evolutiva e pesquisas sobre o cérebro humano. Citam fatos interessantes do comportamento feminino, como: as mulheres nunca chegam aos lugares certos pelo caminho mais lógico, pois não tem habilidade espacial como o homem. São capazes de perceber uma meia suja no chão à distância, mas não enxergam a luzinha vermelha do motor do carro piscando. Adoram manter contato e tocar nas pessoas, mas não gostam de quem “gruda”. Possuem um sexto sentido capaz de entender a linguagem dos bebês, prever fins de relacionamentos, conversar com animais, descobrir a verdade. O cérebro feminino é programado para ouvir choro de criança à noite e para fazer várias coisas ao mesmo tempo: lê, fala e ouve, enquanto o homem só faz uma. Falam mais que os homens, pensam em voz alta, tem mais facilidade de se comunicarem. São mais resistentes à dor.
            Enfim, a mulher está colocada onde começa o céu.  

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Grilos recheados

Louva - a - Deus: além da beleza da camuflagem, pode ser um bom petisco no prato.

            Quando o assunto é inseto, logo se pensa em mosca, mosquito da dengue, barata, pernilongo. Mas ao lado dos insetos nocivos ao homem (poucos, quando se considera que existem mais de um milhão de espécies de insetos), existem centenas de espécies benéficas. Citando alguns exemplos: o incrível avanço da genética nos últimos anos se deve em parte aos estudos com a mosquinha da banana, a Drosophila; a maioria das plantas que floresce no mundo depende de insetos como abelhas, vespas, moscas e besouros para a polinização; os insetos saprófagos decompõem cadáveres de plantas e animais; os insetos do solo promovem  aeração e aumento da matéria orgânica; produtos derivados dos insetos, como mel e seda, movimentam industrias milionárias.
Alem disso, insetos servem de alimento para muitos animais e para o homem. A entomofagia, hábito de comer insetos, surgiu com os primeiros hominídeos. O povo asteca já se alimentava com dezenas de espécies de insetos: assados, fritos, ao molho, fervidos, secos. Atualmente, são consumidos por diferentes povos em diferentes regiões do mundo. Por exemplo, pupas do bicho da seda são consumidas na China e Japão como biscoito e vespas adultas, na forma de churrasquinho. Ovos de percevejo são o caviar dos mexicanos e os percevejos adultos servem como condimento do alimento, torrados e moídos com pimenta. Lagartas de mariposas são comidas normalmente no Zaire e dez delas são suficientes para suprir as necessidades diárias de um adulto. Gafanhotos africanos cozidos em água salgada são vendidos nos mercados de Marrocos. Tanajuras torradas são usadas como tira gosto em Pernambuco. Larvas assadas de vespas são comidas com farinha pelos índios brasileiros. Insetos enlatados são vendidos nos mercados americanos (mas o preço é alto). As lagartas fritas são comidas como cereal e os gafanhotos fritos são usados em pizza. 
Mas muitas pessoas possuem aversão por comer insetos (inclusive eu), o que é muito mais cultural do que cientifico ou racional. Afinal de contas, outros invertebrados, como ostras e scargots, escorregadios e gosmentos, fazem parte da dieta humana. E a “carne” dos insetos tem os mesmos componentes das outras carnes, mas tem muito mais proteína e vitaminas, representando uma poderosa fonte alimentar para o mundo que passa fome.
Como tudo é uma questão de hábito, pesquisas mostram que as pessoas podem comer insetos, desde que apresentados em alguma forma disfarçada. Estudantes de entomologia comeram prontamente insetos cobertos com chocolate e brigadeiros com farelos de grilo. Por outro lado, comemos insetos (ou seus fragmentos) todos os dias: alface e couve possuem pulgões diminutos; o arroz é altamente infestado por insetos; a farinha do pão possui pequeninos e inúmeros fragmentos de insetos; massa de tomate, catchup, goiabada, sucos de tomate, maçã, manga e goiaba e outros produtos possuem insetos triturados dentro de um índice aceitável pela saúde publica (isso aumenta o valor nutritivo dos produtos).   
Assim, como todos nós já comemos inseto, segue uma receita picante de grilo recheado. Ingredientes: uns dez grilos e amendoins. Retire a cabeça dos grilos e o final do abdômen. Remova o intestino. Insira amendoins torrados no abdômen. Frite os grilos limpos e recheados na manteiga ou no óleo. Polvilhe com sal e sirva (retirar as asas e pernas antes de comer). Enfim, bom apetite!
           

terça-feira, 5 de julho de 2011

O cachorro na vida do homem

Mel sentadinha no alpendre



Rock babando e se preparando para pular a janela

Cachorro é tudo de bom

         Muita gente não gosta de cachorro.Mas não há como negar: eles estão em todos os lugares e fazem parte da vida do homem. Perambulando pelas ruas, latindo nas janelas dos carros, infernizando a vida dos vizinhos, esborrachados no sofá, no colo das madames, enforcados pelas crianças, deitados na cama do dono, fazendo cocô no passeio, atacando transeuntes, em bandos atrás de cadelas no cio.
            Abandonados ou bem cuidados, perfumados e de lacinhos, fedorentos e cheios de pulgas e carrapatos. Grandes, pequenos, cães de guarda e vira latas. De pêlo curto, comprido, anelado, alisado e pintado de cor de rosa. Tem pra todo gosto, multidões deles, pra todo lado, de todas as raças. Eles estão nos filmes (o Beethoven é demais, sempre babando), nos livros, nos outdoors, nas poesias, nas propagandas, nas páginas policiais, em fotos cativantes.
            Até mesmo na definição de qualidades humanas, como: raiva é  quando o cachorro que mora em você mostra os dentes”; ‘lealdade é uma qualidade dos cachorros, que nem todo ser humano consegue ter”. E a definiçao de amor, dada por uma menininha de quatro anos: “amor é quando seu cachorro lambe sua cara mesmo depois de você deixar ele sozinho o dia inteiro”.
            Existem histórias incríveis envolvendo cachorros. No caso Madeleine, a menina britânica que desapareceu, cães farejadores sentiram “cheiro de cadaver’ na chave de um carro (como é que pode?). Há casos de cães que se sacrificam para salvar os donos. De cães que superam desafios, como o cãozinho atropelado que perdeu as duas pernas do lado direito e conseguiu aprender a andar e correr agilmente com as duas pernas do lado esquerdo (assisti na TV, mas não entendi como se equilibrava). De donos loucos com seus cães, como a milionária americana que deserdou seus netos e deixou 12 milhões de dólares para seu cãozinho maltês branco (como ele vai gastar?). Da alemã que montou uma fábrica de roupas de pêlos de cachorros (retirados quando eram escovados, não escalpelavam os bichinhos). Infelizmente, também existem cães que atacam e matam, como os das raças Pit Bull e Rottweiller. Mas será que são vilões ou vitimas? Os filhotes não são agressivos e podem ser treinados para serem pacíficos, obedientes e dóceis.
            Um livro que se tornou best-seller é “Marley e eu: a vida e o amor ao lado do pior cão do mundo”, de John Grogan. Conta sobre John e Jenny, que levaram para casa uma bola de pêlo amarelo em forma de cachorro, que se transformou em um labrador de 43kg. Ele arrombava portas, babava nas visitas, comia roupa do varal alheio e abocanhava tudo que podia. Foi expulso da escola de boas maneiras. Mas tinha coração puro e uma lealdade incondicional. Enfim, um adorável labrador demoníaco.
            Pretendo, algum dia, também escrever um livro sobre eu e minhas duas cachorrinhas yorkshires: “Lua, Mel e eu”. Contar dos encontros com a cachorrada da vizinhança: o Tobias, o Boris, o Ian, o Mustafá, a Cindy, a Pitty e a Barbie. Das conversas como “o meu cachorro é o único que faz festa quando eu chego”. Talvez seja um livro sobre nada, mas talvez seja profundo, explorando as relações entre o homem e o cão. E capaz de mostrar como os cães sempre deixam as pessoas mais felizes.