A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Os bichos

       
Gosto de gente, de bichos e de plantas, não necessariamente nesta ordem. O comportamento, a beleza, a perfeição, a originalidade e a “sabedoria” dos animais me fascinam. O comportamento principalmente.
Por exemplo, o porco que conheci na fazenda, o Janjão. Nasceu em uma ninhada de 14 leitõezinhos, mas a mãe, infelizmente, veio a falecer. O Manoel, encarregado da fazenda, criou o Janjão na mamadeira, só ele sobreviveu. Mamava como um bezerro, mas se julgava um cachorro. Adotou o Manoel como pai e os cachorros como irmãos. Considerava um ultraje, um desaforo, ser trancafiado no chiqueiro com os seus semelhantes. Não se misturava. Fugia e ia se juntar aos cachorros, vivia esparramado na varanda da casa. Um dia, abri a porta, fui descer as escadas e pisei no Janjão, quase levei uma mordida. Estava lá, deitado, folgadão, pensando que era cachorro. Onde o Manoel ia, o Janjão ia atrás. Mesmo se saia a cavalo, o porco ia atrás, todo lépido e ligeiro. Quando o Manoel atravessava o rio na canoinha, os cachorros pulavam na água e nadavam atrás. O Janjão também, ia nadando como cachorro. Ele gostava de ficar no colo do Manoel, cochilando e recebendo um cafuné. Se outra pessoa o pegasse, não aceitava. Esperneava, mordia e saia guinchando. Colo, só mesmo o do pai. Mas o Janjão foi crescendo e muito. Ficou valente e custoso. Batia na cachorrada toda e mamava na Tigrona, uma cadela fila bem mansa. Às vezes, queria até cruzar com ela. Não teve saída, venderam o Janjão (matar e comer a carninha dele, do porco de estimação, nem pensar). Mas ele ficou na história da Fazenda Água Verde.
Outro caso interessante é um que vi na internet. Owen, um filhote de hipopótamo de 300 kg, foi salvo por uma equipe de resgate na Ásia, por ocasião do tsunami. A mãe morreu e ele adotou um macho centenário de tartaruga gigante como sua mãe. A tartaruga está bem feliz com o seu papel e o hipopótamo a segue por toda parte. Ela vai andando bem devagarzinho, como toda tartaruga, e ele também. Comem e nadam juntos. Na hora de dormir, o bebê hipopótamo coloca a cabeçorra no casco da tartaruga e dorme como anjo. Dois gigantes muito ternos.
Trabalhei em um projeto de extensão da UFU, no Museu de Biodiversidade do Cerrado, no Parque Siquierolli. Sempre que possível, atendia às escolas visitantes e explicava sobre os animais expostos. Todos taxidermizados, durinhos, com olhos de vidro, mas cada um com seu fascínio. O lobo-guará, tímido, de pernas longas, audição aguçada, ameaçado de extinção. O tamanduá-bandeira, com garras dianteiras poderosas; enxerga pouco, mas tem olfato 40 vezes mais eficaz que o do homem. O tatu-canastra, enorme, com até 60 quilos e um metro de comprimento; bem raro porque é caçado por sua carne saborosa. O bicho-preguiça, muito peludo, preguiçoso e paradão, passa o dia dormindo, dependurado nos galhos. O ouriço-cacheiro, inofensivo e lerdo, com espinhos afiados. Além dos mamíferos, aves e insetos incríveis. A arara, o tucano, o bem-te-vi: a coloração das penas é inacreditável. Insetos grandes, pequenos, coloridos, camuflados, centenas deles. Enfim, o show da vida, ali exposto na forma da diversidade dos animais do cerrado. Mostrando que o bicho-homem ainda tem muito a aprender com os outros bichos.

          
 
      

Nenhum comentário:

Postar um comentário