A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Uma história incrível

Casinha de barro no quilombola, onde moram os pais

Casa suspensa onde morava o genro

Travessia do rio para chegar ao quilombola       



                  
            É difícil acreditar no relato que se segue, mas tudo o que escrevo é a mais pura expressão da verdade.
            Tenho escrito sobre minha filha, que sempre viaja para a Índia, faz meditação e ioga, tem uma profunda fé em Deus, cursou Direito e passa o verão na Bahia, com sua loja de roupas indianas. Agora ela é protagonista de uma história daquelas que só acontecem nos filmes, tipo Jane e Tarzan. Acontece que, depois de ter chegado aos mais de trinta anos, resolveu que era hora de casar e ter filhos, antes que fosse tarde demais. Mas a percepção dela de homem ideal é completamente diferente da percepção de uma mulher civilizada (embora ela fale três linguas e conheça boa parte do mundo). Queria um homem simples, puro, voltado para a natureza, sem emprego em tempo integral e que ajudasse a cuidar dos filhos. Encontrou um no meio da selva, numa comunidade de quilombolas na Península de Maraú, BA. Foi paixão à primeira vista.
Para quem não sabe (eu não sabia, andei pesquisando sobre o assunto), quilombolas são comunidades negras de descendentes de escravos que viviam nos quilombos. Na Bahia existem mais de trezentas destas comunidades, algumas seculares, com cultura e histórias próprias. Geralmente sobrevivem da agricultura de subsistência e do cultivo e venda de fibras, como piaçava e do óleo de dendê. A maioria não tem certidão de nascimento, CPF, carteira de identidade, título de eleitor.
Em Ambuba, na comunidade quilombola do meu genro, a família dele vive em harmonia (uma das coisas que encantou a minha filha). O pai é branco e a mãe é negra. Ele é moreno, olhos e traços bonitos, cabelo rastafari. São dez irmãos que cultivam a terra e repartem o que colhem. Vivem em cabanas de madeira, buscam água no rio, pescam peixe e camarão pitú, caçam tatu e paca, fazem um chocolate delicioso com o cacau que cultivam. Não existe energia elétrica e cozinham em fogão de lenha (minha filha me conta tudo). Vivem praticamente sem dinheiro, o pouco que ganham é com a venda de borracha, extraida da plantação de seringueiras. Usam para comprar  óleo, carne seca, sal, café, açucar. Ele, o genro, nunca tomou uma cerveja, assistiu um filme, leu um livro, usou um computador, nada. Ela, a filha, o levou para conhecer um shopping em Itabuna. Ele ficou impressionado com tanta gente e com tanta loja. E eu, como mãe e sogra, estou abobalhada com tudo isso.   
  O casamento será na praia de Algodões, perto da casa de minha filha, em uma capelinha na beira da praia, onde só cabem quinze pessoas. Foi construida por um ricaço de São Paulo, ao lado de sua mansão. É uma réplica de uma capela da Itália. Depois do casamento, haverá um jantar na beira da praia, com vários tipos de peixes, pois será época do Festival da Tainha. O local é paradisíaco, a praia é linda, cheia de coqueiros, muito limpa e com mar morno.
            Meu marido e eu vamos conhecer o noivo e sua grande família no dia do casamento. Está também programada uma visita à comunidade. Como é muito isolada, carro não chega até lá. É preciso atravessar um mangue, com água pelos joelhos, e depois entrar em uma canoinha. Para terminar, é necessário galgar um morro com inclinação de 45°, sob o sol escaldante da Bahia. Meu marido, o Zé, disse que não vai. Eu vou. Depois conto como foi o casamento e a aventura na selva.

Um comentário:

  1. Cara Ana Maria, o título da sua história realmente se encaixa perfeitamente a ela, pois nas atuais situações que o mundo passa realmente é difícil ver um acontecimento desses. Hoje foi a primeira vez que li uma história sua, mais com certeza passarei a fazer mais visitas ao seu blog. Amanda C. Rodrigues

    ResponderExcluir