A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Aventura na selva

Ladeira no caminho de Ambuba

Travessia do rio na canoinha
              
No dia anterior ao casamento da minha filha, na península de Maraú, BA, fomos conhecer a comunidade de Ambuba, onde vivem os pais e irmãos do meu genro. O Zé, meu marido, achava que lhe faltava preparo físico para a aventura. Mas penso que ficou tentado a ir, ao saber que prepararam para nós um almoço com camarão pitú e galinha caipira. Criou coragem e lá fomos nós, um grupo de oito pessoas.
Os carros ficaram parados numa “currutela” e pegamos o “caminho da roça”, um atrás do outro. Passamos por uma vegetação densa e pelo seringal. Chegamos ao manguezal escorregadio, cinzento e pegajoso. Fotos com lama até o joelho, para a posteridade. Depois, a travessia no rio, dois a dois na canoinha. A subida no morro com inclinação de 45°, usando os pés e as mãos (ou seja, de “gatinhas”). Chegamos à casinha humilde, de pau-a-pique, limpinha e aconchegante. Chão de terra, fogão à lenha, água de mina para beber. Galinhas no quintal, pés de cacau , de côco e de graviola. Conhecemos a grande família do genro: a mãe, falante e disposta, com nome de rainha: Elizabeth. O pai, oito irmãos, as sobrinhas, primos. As casinhas suspensas de madeira, tipo Tarzan, no meio da vegetação exuberante, onde os homens solteiros dormem. O rio bonito, onde tomam banho, buscam água e lavam roupa. As pinguelas roliças de dois paus, cada um rolando para um lado. O almoço gostoso debaixo de árvores, sentados nos banquinhos de “tauba”, como dizem por lá.
Depois, o retorno. Optou-se por subir o rio de canoa e chegar até nas proximidades dos carros, ao invés de voltar pelo mangue. Acontece que a canoa é simplesmente um tronco de madeira, comprido e grosso, com um buraco esculpido no centro, no sentido longitudinal. E deveria transportar oito pessoas, entre elas o Zé, que tem pavor de água e medo de morrer afogado. No que entramos cinco pessoas na canoa, a água entrou também. O Zé começou a falar: “Pára, pára, tô fora”, mas não conseguia sair porque estava bem encaixadinho no buraco talhado na madeira, ocupando todo o espaço. Pânico, gritos de “pare a canoa” (mas ela ainda nem tinha saído do lugar). Resolveu-se o problema com dois indo de caiaque, embora sem saber remar muito bem. No final, salvaram-se todos. De barriga cheia, mas suados, sujos, cansados e com pernas cortadas por capim navalha.
Um outro mundo. As moças da cidade, que foram para o casamento, passaram uma noite em Ambuba. Dormiram em uma casinha suspensa de madeira e acharam a glória passar uma noite na floresta (mas vai viver lá, vai). Uma delas escovou os dentes e passou fio dental. Toda ecológica, não querendo poluir a floresta, perguntou ao moço, dono da casinha, onde havia um cestinho de lixo. O moço ficou boquiaberto: além de não ter cestinho, jamais ouviu falar em fio dental.
Outro caso foi quando o Zé queria consertar o chuveiro da casa da minha filha e precisava de um ajudante. Perguntou para os presentes quem entendia de eletricidade. O genro respondeu: “Ninguém” (lá na comunidade vivem sem energia, acendem fogueira à noite). Mesmo assim,  genro e sogro trabalharam em uníssono, consertaram o chuveiro e ninguém morreu eletrocutado.
Este foi mais um capítulo da novela da vida da minha filha. O enredo e as tramas vão acontecendo e quando a gente percebe, mesmo sem querer, está no elenco dos atores principais. Haja coração e preparo físico.

Um comentário:

  1. Olá, Ana Maria. Td bem?

    Meu nome é Iago, e eu procurava algo sobre a comunidade de Ambuba, mas nada encontrava, até que eu achei seu post.
    De antemão, parabéns pelo casamento de sua filha. Sou da região do baixo sul baiano e sempre ouvi estórias sobre Ambuba, mas nunca tive a oportunidade de conhecer o local.
    Trabalho com Meio Ambiente, e sempre quis conhecer a cultura daquela comunidade. Quero ver como eles lidam com os recursos ambientais. Soube que eles mantém uma vida simples, e deixam até as aranhas livres em suas casas.
    Agradeço a sua iniciativa de dividir sua experiência por lá.
    Um abraço,

    Iago

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