Yuri hoje, com dois anos e seu galo de estimação |
Yuri com os pais, com uma semana de vida |
Obama, o presidente eleito da maior potência mundial, tem muito a ver com o meu netinho Yuri, de dois meses. Por exemplo, a cor da pele e os cabelos enrolados (os cabelos do bebê, antes lisos e abundantes, caíram e nasceram rebeldes). Obama disse que é “marrom” e Yuri foi classificado como “pardo”, no hospital uberlandense onde nasceu.
No dia em que Obama foi eleito, houve uma comoção nacional nos Estados Unidos e uma vibração no mundo todo. No dia em que o Yuri nasceu, houve uma “comoção hospitalar” e o Brasil todo comemorava a independência, pois ele nasceu no dia sete de setembro. A “comoção hospitalar” ocorreu porque minha filha, Karine, ficou 34h em trabalho de parto (30h em casa, com a “doula” e eu assistindo e sofrendo). A mãe deu à luz de cócoras, numa cama de um quarto comum no hospital, sem nenhuma anestesia (gritou um pouco). A médica, muito profissional e elegante, com saltos altíssimos, andava de um lado para o outro, esperando as coisas acontecerem. Eu não sabia se ficava ou se saía. Fiquei e me emocionei junto com a equipe (a médica, a pediatra, a “doula”, as enfermeiras) quando o Yuri nasceu, com três quilos e meio, um pouco roxo (não sei se da cor da pele ou sufocado) e berrando alto. Acredito que nunca houve um parto assim nesse hospital (dizem que é um “parto humanizado”, mas eu não achei).
O Obama e o Yuri são multiculturais. A mãe do Obama era branca, antropóloga e fascinada pelos camponeses da ilha de Java. A mãe do Yuri também é branca, culta, fascinada pela vida simples, meditação, yoga e pelos quilombolas. O pai de Obama era um negro da tribo dos luos, do Quênia. O pai do Yuri é um moreno escuro, de um quilombola da Bahia. O Obama é um Ph. D. em diversidade, nasceu no Havai, viveu na Indonésia, estudou nos Estados Unidos. O Yuri terá que viver em mundos diferentes, entre Uberlândia, praia dos Algodões e comunidade quilombola. Vai aprender o linguajar dos quilombolas e o inglês, que a mãe vai ensinar. Aqui, dormiu num bercinho normal. Lá, está dormindo num casco de tartaruga gigante, já colocou os pés no mar e tomou banho no rio. O primeiro presente que vai receber do pai, agricultor, será uma enxadinha, para ir se familiarizando com a terra.
Os dois são carismáticos. Obama é jovem, com sorriso largo e franco, talentoso e com ideais nobres. O Yuri é lindo, com olhos vivos, brilhantes e expressivos, gordinho e bochechudo, dobrinhas por todo lado e sorrindo sem saber de que. Os dois têm um grande desafio pela frente: Obama é o presidente dos Estados Unidos mais inexperiente e terá que governar um país com duas querras, uma grave crise financeira e uma reputação internacional se dilacerando. O Yuri terá que viver e se adaptar a dois mundos tão diferentes em um mesmo país. Até o nome deles é interessante. Barak Hussein Obama é uma mistura de nome africano, árabe e tribal, um homem de três continentes. Yuri é um nome russo, do primeiro astronauta a viajar para o espaço, representando a capacidade do homem de ir cada vez mais longe. Pressinto que o Yuri irá alcançar altos horizontes. O Chicago Tribune descreveu a vitória de Obama como “a de um candidato improvável, realizando um sonho que já foi impossível”. Quem sabe um dia o Yuri será o presidente do Brasil.