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quarta-feira, 27 de abril de 2011

O gato preto

O gato preto

Comprei uma casa no quarteirão ao lado de onde moro e coloquei na imobiliária para alugar, para não ter desgaste com inquilinos. Mas eu não sabia do gato preto...
Acontece que os inquilinos tem dez gatos: brancos, malhados, marrons, pretos. Gatos no sofá, na cozinha, no muro, no quintal.Até ai tudo bem, o problema era um gato preto. Toda noite o felino saía sorrateiro, lépido, pisando macio, corpo elástico, olhinhos brilhando no escuro. Ia atormentar a vizinhança. Entrava na cozinha da D. Tetê (nome fictício, para proteger a personagem) e atava a comida de quatro gatos filhotes, indefesos perante a audácia do gatuno, que, além de tudo, ainda batia neles. D. Tetê, indignada, foi brigar com a vizinha (minha inquilina).
O gato preto, alheio a tudo, continuava na rua, ora na casa da D. Tetê, ora na casa da minha amiga, batendo no Toninho e na Princesa, seus gatos de estimação. Como se não bastasse, subia no fogão e comia nas panelas destampadas, lambendo os beiços de satisfação. Minha amiga passou a deixar a porta da cozinha fechada, mesmo quando o calor estava insupotável. Culpa do gato preto.
Um dia, D. Tetê veio na minha porta. Desfiou um rosário de lamentações sobre as traquinagens do felino. Queria providências imediatas (fiquei com medo dela ter um ataque cardiaco). Sugeri encurralar o gato na cozinha, colocar num saco e soltar bem longe (fazer o que?). Ela ficou estupefata com a sugestão, disse que eu não sabia como era perigoso um gato encurralado. Até me ofereci para ajudar, mas não chegamos a nenhum acordo (como bióloga, eu jamais poderia sugerir algo mais drástico).
Passeando com minhas cachorrinhas, que felizmente nunca foram atacadas pelo malvado, encontro-me com a D. Tetê. Ela me pergunta o que vou fazer. Sem saída, telefono para a imobiliária e conto o caso do gato. A atendente ri da história, diz que nunca receberam reclamação deste tipo e promete consultar o departamento jurídico. Enquanto isto, o gato preto, gordo de tanto atacar a comida alheia, continua atormentando.
Mas numa manhã, indo para a padaria, vejo o gato preto estendido na beirada do passeio, morto, mortinho. Sem nenhum arranhão, sem sangue, sem “tripa pra fora”, sem nada. Os pelos brilhando, olhinhos fechados, patinhas encostadas, bem arrumadinho. Meu primeiro pensamento foi: “A D. Tetê matou o gato!”. Não sei se fiquei aliviada, abismada ou condoída.
Chego em casa, conto o ocorrido. Minha amiga liga avisando que o gato preto morreu. A D. Tetê toca a campainha e pergunta se já sei da novidade. Olho bem para ela, tentando decifrar seus pensamentos. Os olhos estão marejados, a voz entrecortada. Não, não pode ter sido ela (a não ser que seja uma excelente atriz). Mas, olhos marejados como, se detestava o gato?
A vizinhança faz especulações. Teria sido o gato preto envenenado na calada da noite, com veneno de rato? Teria levado uma paulada ou uma pedrada? Ou foi atropelado por um motoqueiro distraído? Por um carro desgovernado? Mas, como foi parar no passeio, tão arrumadinho? Mistério. O gato preto se foi, mas não sei se deixou saudades.

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