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terça-feira, 19 de abril de 2011

O brete

           
             Minha  santa mãe sempre dizia que mulher tem que acompanhar o marido. Assim, quando meu marido, o Zé, me convidou para ir visitar a exposição de gado em Uberaba, pensei que seria uma boa oportunidade para um passeio a dois.
            Ele iria aproveitar e “dar uma olhada em um brete”. Para quem não sabe o que é isso (eu não sabia, descobri lá ), é um aparelho de tortura utilizado para martirizar bois e vacas em pleno século XXI. É também chamado de tronco e pode ser de madeira ou de metal (vi de todo tipo). Colocam o boi  (ou a vaca) lá dentro e o apertam com umas grades laterais. Usam para vacinar, descornar (tirar os chifres) e judiar. As laterais se fecham simultaneamente quando acionadas, tirando qualquer possibilidade do animal se movimentar. Possui duas pescoceiras que prendem a cabeça do boi. Como acessórios, tem o protetor de coice, que tira a possibilidade do animal de reagir e também o kit de castração. Com esse, isolam os testículos do boi. É só vir por trás e cortar com um facão (ouvi dizer que é assim mesmo, na bruta, sem anestesia). Como um ato de misericódia, o brete tem um total sistema de segurança: se o boi cair, mesmo apertado, as travas laterais se soltam totalmente e basta levantá-lo. É todo sofisticado, com amplo espaço interno, portões vedados, mecanismo todo automático, sistema de acoplamento para balança, chassi reforçado (aprendi tudo isso ouvindo três horas de explicações e lendo os manuais).
            Como bois e vacas são animais espertos, não entram facilmente no brete. Então o  homem, em sua sabedoria, treina os bovinos: eles entram e saem, em fila, várias vezes, como se o aparelho fosse o mais inofensivo de todos. Depois, na hora certa, ficam lá, bem presos.
            Imaginem eu, uma bióloga, que considera a vaca um animal nobre, tendo que ouvir tudo isso de um aparelho de tortura. Depois, ainda teve a negociação. E nisso o Zé  é mais mineiro que todos os outros: “por este preço eu não levo”, “vou dar mais uma olhada”, “volto depois”, aquelas frases bem clássicas. Um vendedor liga para a fábrica e consegue diminuir o preço. Depois de muita lamúria, fecham o negócio. Respiro aliviada e voltamos para casa. No caminho, quase fiquei emburrada, que absurdo o Zé fazer um programa desses comigo. Mas ele estava tão, mas tão feliz com o brete e com o desconto que conseguiu, que perdi a coragem. Pra mim, ele pagou uma fortuna, mas ele achou que foi um ótimo negócio.
            Além do brete, só andei pela exposição, sozinha e abandonada, olhando os bois magníficos nos galpões e passando a mão no cocoruto deles. Assim, foi esse o nosso passeio a dois. Não bebemos nenhum suco juntos. Como disse Vinícius de Morais, “a vida é a arte do encontro, embora existam tantos desencontros pela vida”.
            Na outra semana após o brete, ele me perguntou “vamos ao Estádio do Sabiá, assistir ao jogo do Uberlândia?”. Desprezei os sábios conselhos da minha mãe e nem respondi. Lembrei-me então do Jô Soares, que comentou em um programa que os casamentos não dão certo porque as mulheres nunca falam o que os homens querem ouvir. O inverso também é verdadeiro. Por exemplo, por que será que o Zé não me pergunta: “quer passear em Roma comigo?”

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