A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Retrospectiva


        Esta não é uma retrospectiva dos fatos que marcaram o mundo em 2010. É apenas aquela tentação de analisar a vida a cada início de ano. Saudade, nostalgia, lembranças. Da infância na cidadezinha de interior, quando eu chupava jaboticaba no pé e vendia manga na rua pra comprar picolé. Andava descalça na enxurrada, pedalava na bicicleta alugada, brincava de casinha debaixo da mangueira, colocava as bonecas de pano e de papelão pra dormir (essa derreteu no  banho). O curso primário no colégio das freiras. O pique-esconde no grande jardim, com perfume de magnólia e de hortência. Os passeios de carro, no Buik azul do pai, a 20km por hora. O vestido vermelho plissado, feito pela mãe para o dia de ano.
            Na adolescência, namorava escondido (o pai era uma fera),assistia missas infindáveis em latim, ficava “de mal” das amigas, dançava nas “horas dançantes”. Ajudava a mãe a arear panela, acender o fogão de lenha, fazer goiabada no tacho, limpar galinheiro, passar pano na casa, costurar, bordar e fazer tricô (sim, sei fazer tudo isso). Depois, a ida para BH, o curso Normal e o cursinho à noite. O começo do namoro com o Zé, meu professor de Química, que sempre ia com a mesma calça preta riscadinha de branco e sapatos desbeiçados. A ida ao Mineirão com ele, assistir ao jogo do Cruzeiro (arrependo-me até hoje: ele ficou  agarrado a um radinho de pilha, suando em bicas e desconhecendo totalmente minha presença). O casamento com o vestido de crochê que eu mesma fiz, a dama de honra bem mais alta que eu e as juras de unidos para sempre. A alegria do nascimento do primeiro filho, do segundo, do terceiro, do quarto, do quinto, do sexto. Anos e anos de mamadeiras, fraldas, choros, birras e noites sem dormir. Mas também de encantamento, aprendizagem, surpresas, recompensas e ternura.
     Tudo entremeado com a minha profissão de ensinar. Que saudades tenho dos meus alunos! Um dia ainda volto para a sala de aula. E as viagens, quantas recordações. A magia de Machu Pichu; o bando de avestruzes correndo na savana africana;o passeio de barco no rio Sena e a Mona Lisa sorrindo pra mim em Paris; os frondosos bosques de Viena; a revoada de pombos na praça San Marco, em Veneza; o coração disparado na montanha russa, na Disney. O por do sol em Trancoso e em  Morro de São Paulo. O mar, meu Deus, o mar. O encantamento com O Fantasma da Ópera e Mamma Mia. E ainda, como sobremesa da vida (melhor do que goiabada com queijo), os netos queridos, agora nove (a última, Lia, nasceu em fevereiro, nos States, e estava lá para carregá-la no colo). Enfim, a vida já me deu mais do que eu esperava. Lógico que passei por sofrimentos, sustos, raiva, doenças, frustrações e já trabalhei muito, muito. Como escreveu Augusto dos Anjos, “aquele que passou pela vida e não sofreu, foi espectro de homem, não foi homem. Só passou pela vida, não viveu”. No entanto, existem tantas coisas boas para experimentar, e a nossa passagem pela Terra é tão curta, que sofrer é uma perda de tempo.
     Assim, se o meu Anjo da Guarda anunciar que vou passar para outra vida (acredito em anjos), direi que estou pronta. Só pedirei mais um tempinho para aprender a dançar tango com o Zé (vai levar anos, ele é pesado e não tem a ginga dos dançarinos). E tempo também para assistir novamente a uma virada do ano em Copacabana, dessa vez tomando champanhe dentro de um navio.

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