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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Presentes

           
O ato de presentear é um dos mais antigos da humanidade. É uma forma de demonstrar carinho, interesse, expressar sentimentos, consolidar relações. Faz bem para quem dá e para quem recebe, sendo uma parte complexa e importante da interação humana. Mas nessa interação, surgem presentes de todo tipo e situações engraçadas. Como no caso do meu sobrinho, professor e pesquisador da UFMG, culto e distraído. Ele ganhou, no dia do seu aniversário, um lindo e enorme vaso de porcelana dos amigos que trabalhavam com ele. Quando chegou em casa, tarde da noite, viu que tinha esquecido o vaso na sua sala. Avisou à esposa que ia buscá-lo, pois ficaria constrangido, perante os amigos, se o vaso sumisse. Pegou um taxi e lá se foi para a Pampulha, bem longe de sua casa. Quando retornou, entrou em casa com cara de cansado e mãos abanando. A esposa, curiosa, perguntou: “E aí, onde está o vaso?”. E ele, batendo a mão na testa: “Nossa, esqueci dentro do táxi...”
Existem os presentes tradicionais, como flores, vinhos, cestas de café da manhã, chocolates. Outros mais criativos, como pacotes de aulas de dança, de massagens. Outros mais sublimes, como levar o velhinho de um asilo ao cinema ou as crianças de uma creche ao circo. Outros cheios de amor, como pacotes de carinho, abraços e beijos. Mas também existem aqueles que matam a pessoa de espanto ao abrir o presente e outros que matam de raiva. Sem falar nos presentes de grego (no paraíso, a serpente ofereceu uma maçã à Eva e deu no que deu). Outros, que você não tem a menor idéia do que fazer com eles, então vai passando pra frente. Faz um embrulho bem bonito, presenteia alguém e se sente feliz por ter encontrado uma utilidade pra ele. Até o dia em que, por um lapso, você acaba dando o presente para a mesma pessoa que lhe presenteou (aí, não tem perdão). Ou então, até o dia em que a pessoa descobre que você passou o presente dela pra frente. Acho que a minha norinha não me perdoa por isso. Ela trouxe um vinho delicioso do sul, para mim e meu marido. No dia do aniversário de um filho, embrulhei o vinho e dei para ele. A norinha estava na festa e reconheceu o vinho (por essas e outras é que existem tantas piadas sobre sogras).
Existem também os presentes que nos deixam sem fala, boquiabertos. Certa vez, uma aluna de Biologia, participante de convênio e natural de Angola, trouxe um presente da África para mim. Abri o lindo embrulho e meus olhos se esbugalharam de espanto, segurei um grito de terror na garganta. Era um colar de marfim, com bolas grandes esculpidas. Trêmula, toquei o colar com as mãos e senti o sangue dos elefantes mortos. Quase desmaiei (a aluna pensou que era de emoção). Até hoje, não sei o que fazer com ele (colocar no pescoço, só se for para me atirar no Ganges). Lembro-me de minha mãe. Ela ganhou de uma madrinha um broche de ouro trabalhado, precioso, cravejado de diamantes. A madrinha disse: “este você não dá, não vende, não empresta”. Ela ficou anos sem saber o que fazer, pois nem tinha coragem de usá-lo. Até que teve uma idéia brilhante: fez um sorteio do broche.
E assim, neste circuito de dar e receber, muitas pessoas descobrem que dar é melhor que receber. Como na oração de São Francisco de Assis: “Ó mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado; compreender que ser compreendido, amar que ser amado. Pois é dando que se recebe”.

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