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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Ao Mestre, com carinho

          
             Recentemente, li no Jornal Correio o artigo intitulado “Ao Mestre, com desprezo?”, de Luiz Mário Moura. Abordava a atual propaganda do MEC, que incentiva a profissão de professor. O autor escreveu bem, ressaltando vários problemas dos profissionais da educação, como os salários aviltantes. Termina perguntando: ”como ser professor numa realidade destas?”
Acredito que tudo é uma questão de paixão. Como disse Rubem Alves, “o educador é como uma velha árvore, como um jequitibá, por exemplo. Viceja e floresce num lugar que lhe é próprio. Ninquém o plantou e nem o viu nascer. É mistério e profundidade. Exerce sua função com amor e paixão. Assim como o estudo da gramática não faz poetas, o estudo das ciências da educação não faz educadores. Educadores não podem ser produzidos, educadores nascem. O que se pode fazer é ajudá-los a nascer.”
Assim, para o professor que é educador, a sua profissão é gratificante. É saber que o sonho é possível, é ter esperanças em um mundo melhor, é ser gente formando gente, é tornar o ato de ensinar um ato de alegria. De ensinar a construir pontes ao invés de muros.
Fui professora durante toda a vida, sempre tentando ser uma educadora. Trabalhei desde a educação pré-primária até a universidade. Comecei numa cidadezinha do interior, numa classe com 40 crianças de seis anos. Todas chamando “tia, tia” sem parar, correndo pela sala, derrubando cadeiras, rabiscando o quadro, beliscando o colega. Aquela vontade de sair correndo e nunca mais voltar. Mas tudo era esquecido quando um aluno escrevia o nome pela primeira vez. Ou então, quando davam um beijo lambuzado e presenteavam com um desenho amassado, cheio de monstros e mal colorido, mas feito com carinho. Depois, as aulas de Ciências e de Biologia no Bueno Brandão e Museu. Turmas grandes e muitas vezes difíceis, alunos “tô nem aí”. Centenas de provas e trabalhos prá corrigir, diários prá preencher, noites mal dormidas, aulas a preparar, dinâmicas de grupo que nem sempre funcionavam. Necessidade de entender cada aluno como ser único e a total falta de tempo para isso. Mas valeu a pena e se pudesse, faria tudo novamente.
Depois, as aulas na UFU. Experiências marcantes, como a homenagem que recebi dos alunos em uma Semana Científica, quando cantaram para mim “Maria, Maria”, de Milton Nascimento. Pura emoção. Ou então, quando corrigia os trabalhos dos alunos e me deparava com alunos poetas. Como o André, que cursava Prática de Ensino e assim registrou no seu memorial as primeiras experiências como professor de Ensino Médio: “Percebi que adorava ser amigo da turma. Acho que era aquele cheiro de espinha e de piada boba apimentada com a safadeza ingênua das primeiras paixões. Uma época imortal que acaba passando e a gente só volta prá ela quando vira pai, professor ou redescobre algo verdadeiro perdido nos desamores da vida. Tenho escutado muito os Beatles para ver se redescubro algum amor perdido, mas só me lembrei de minha adolescência quando entrei em sala de aula. Deu vontade de mudar a vida sacudindo o mundo e por isto sou grato a meus alunos.”
Por tudo isto e muito mais, sobrevive a paixão que impulsiona os professores educadores. Aqueles que sabem, como disse Galileu Galilei, que “você não pode ensinar nada a um homem; você só pode ajudá-lo a encontrar a resposta dentro dele mesmo.”

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