A balsa |
Singrando o Velho Chico |
O neto Théo, Júlia e o filho Luiz Cláudio na beiro do rio |
O
rio São Francisco esteve em destaque na mídia devido à novela "Velho
Chico" e ao fim trágico de um dos atores. Eu acompanhava alguns capítulos para
ver as cenas com o rio bonito, majestoso, largo e perigoso.
Gosto
desse rio e já passei por muitas aventuras ao atravessá-lo de balsa, para
chegar até a fazenda que temos na margem esquerda, no município de Buritizeiro.
A balsa pertence à essa prefeitura e carrega de uma vez até 10 carros. Navega
da margem direita para a esquerda nos horários ímpares (Ponto Chique para
Cachoeira do Manteiga) e faz o trajeto inverso nos horários pares. Assim, a
viagem deve ser programada de acordo com
esses horários, para ficar na fila. O drama é que a balsa quase sempre está
estragada, com problemas no motor, na hélice ou no casco. Ou então o rio está
raso demais e a balsa encalha, como aconteceu com a camionete do Zé, meu marido.
Ele ficou 2h encalhado olhando pro rio. Também há acidentes. Um dia a balsa
carregava um caminhão e ele caiu no rio. Na época da chuva, os carros atolam no
barreiro e todos têm que empurrar. E as
pessoas também atolam, eu e meus netos inclusive. Mesmo assim, é um alivio
quando a balsa está funcionando. Caso contrário, temos que dar volta pela
estrada chamada Poeirão (nem precisa explicar o porque do nome) ou atravessar
no barquinho do Di, que cobra R3,00 por pessoa e vai singrando corajosamente as
águas do Velho Chico. Nesse caso a camionete não atravessa, é preciso
descarregar tudo e colocar cada pacotinho no barco, uma luta. Há tempos, nem o
Di quis nos levar, pois ventava muito, o rio estava revolto e o barquinho
poderia virar (e mesmo se ele quisesse o Zé não iria, não quer morrer afogado).
Além
de tudo, a travessia é demorada quando o rio está muito raso. Os barqueiros precisam
ir sondando o leito do rio para passar nos locais mais fundos. Conversaram com
o Zé sobre isso, freguês assíduo da balsa e que sempre tem boas ideias. Concluíram
que era preciso mudar o sistema de impulsão da balsa, acoplando a ela um
rebocador, que mudaria a direção da
balsa nos trechos rasos. Mas, para isso, era preciso calcular qual o
peso da balsa quando estava vazia e quando estava cheia, para então saber qual
a potência do motor do rebocador. O Zé
armou a resolução do problema, usando o principio do empuxo de Arquimedes (peso
do corpo igual ao volume de líquido deslocado). Chamaram o João, gente boa, que
trabalha na nossa fazenda e tem muita disposição e vontade de aprender. Ele
usou uma vara, mediu a largura e o comprimento da balsa. Mediu o quanto ela
submergia quando estava vazia e quando estava com a lotação completa. O Zé fez
os cálculos e concluiu que a potência do motor seria de 200 cv. Levaram para o prefeito
de Buritizeiro, que engavetou o processo. Não adiantou a descoberta do
Arquimedes, nem a boa vontade do João, nem os cálculos do Zé. Faltou vontade
política, como, aliás, se vê muito por aí.
Mas o Zé continua a associar a teoria com a prática: há pouco tempo ,
ensinou os funcionários da fazenda a fazerem ângulos retos para construir um
galpão, usando o teorema de Pitágoras. Certa
vez, adaptou um freezer para usar
potencial hidráulico ao invés de energia elétrica. O freezer ficava no
meio do mato, perto da roda dágua e
fazia 60kg de gelo da noite para o dia, um espanto. Mas isso já é outra
história...
Enquanto isso, continuamos torcendo pra balsa não encalhar. Quem
sabe alguma fórmula do Einsten resolve o problema.