Diego e sua medalha de prata
Duas
reportagens publicadas na revista Veja, sobre as Olimpíadas Rio-16, me chamaram
a atenção. A primeira é um depoimento de Majlinda Kelmendi, 25 anos, ouro no
judô e primeira medalhista olímpica da história de Kosovo, país em guerra com
a Sérvia por sua independência. Majlinda
contou que foi a primeira vez que participou, com uma delegação de apenas oito
atletas, com o seu país reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional. As
crianças de Kosovo a veem como heroína e essa adoração é emocionante, pois quem
vem de onde ela veio não tem muitas oportunidades na vida. Tinha apenas oito
anos quando a guerra começou. Disse: " Foi desse país que saiu uma campeã
olímpica e isso é gigantesco pra todos nós. Sou apenas uma atleta, mas sinto
que estou ajudando meu país como um todo.
O esporte é a melhor arma da diplomacia ".
A
segunda reportagem é sobre o brasileiro Diego Hypolito, 30 anos, que foi medalha
de prata na ginástica artística. Na Olimpíada em Pequim era o favorito, mas
perdeu a concentração, desequilibrou-se e caiu sentado. Sentiu-se um lixo. E na
Olimpíada em Londres, durante a apresentação ele tombou de cara. Entrou em
depressão profunda e foi internado em clínica psicológica. Recuperou-se
lentamente e passou por 10 cirurgias, devido a lesões nos joelhos, pés e ombros
e ficou cinco anos parado. Não dirige mais devido às dores que sente no corpo.
Afirma que treina com dor e vai além do limite do seu corpo. Apesar de tudo,
com sua garra e determinação, subiu ao pódio na Rio-16 e levou a prata. E
chorou muito, tanto que a reportagem é intitulada "Chorão, sim, e
daí?" '
Majlinda
e Diego mostraram que só se consegue subir ao pódio com muito trabalho, treinos
desgastantes, sacrifícios pessoais, dores no corpo e vontade de vencer. Sabem
que participar dos jogos olímpicos é uma forma de fazer parte da máquina do
mundo, e sem dúvida o mundo é competitivo. E apesar do espírito esportivo, a
Olimpíada premia os vencedores, os ganhadores de medalhas. De preferência, de
ouro. Como disse José Simão, cronista da Folha: "E chega de levar bronze!
Bronzeado a gente já é! Bronze a gente pega na praia de Ipanema!"
Mas
mesmo de bronze, era uma glória (aliás, a medalha parecia bolacha e os atletas mordiam nela!) . Por exemplo, dois técnicos mongóis ficaram
indignados porque o atleta de luta olímpica que eles treinaram sofreu uma penalidade
e perdeu o bronze. Em protesto, invadiram o tapete e tiraram a roupa, ficando
de sunga, enquanto parte do público aplaudia e a outra vaiava. Por outro lado,
também teve comportamento nobre que mereceu medalha de honra, como a recebida
pela fundista da Nova Zelândia que parou de correr para ajudar a atleta dos EUA
que caiu na pista.
Apesar
das Olimpíadas mostrarem que os melhores é que vencem e que é preciso muito esforço
para subir ao pódio, muitas escolas básicas e de natação premiam todos os que
participam de determinada competição. A preocupação é que a criança ou
adolescente não sinta nenhum sentimento de exclusão ou de derrota, para não
diminuir sua autoestima. Mas penso que ser o último a chegar , apesar de
doloroso, pode mostrar que a criança não é boa naquele esporte e precisa se
direcionar para outro. Ou então, que precisa se esforçar muito mais. Além do
que, pessoas com autoestima elevada demais se julgam superiores às outras.
Enfim,
depois de assistir a vários atletas se superando, fico com a frase: "quem
disse que ganhar ou perder não importa, com certeza perdeu."
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