A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

domingo, 7 de agosto de 2011

A vaca, o urubu e o Roque

O filho, Luiz Cláudio, com a turma e o Roque ao fundo, planejando pular a janela

Li uma crônica interessante, de Antonio Prata, na Folha de São Paulo. Ele conta que há tempos inventou e escreveu um texto sobre uma vaca que foi colocada em uma canoa para atravessar um rio, nas proximidades do mar. Na praia, olhando a cena , estava um casal de namorados. A canoa virou e a vaca foi arrastada para o mar. A namorada ficou indignada e revoltada com o namorado, pois ele não fez nada para evitar a tragédia. Terminou o namoro.
Dias depois ele, Antonio, recebeu um email do Sidney, de Jequiaçu, no Paraná. Sidney estava convencido de que o texto havia sido baseado em sua história verídica. Estava impressionado, sem entender como Antonio teve conhecimento do seu caso. Contou então que seu casamento terminou por causa de um urubu, como se segue.
Estava ele, Sidney, e a esposa Letícia, assistindo felizes ao “Caldeirão do Huck”, na sala do seu apartamento no 12º andar. De repente, o vidro da janela se estilhaçou em mil pedaços, que caíram no chão junto com um urubu ensanguentado. A mulher começou a gritar para Sidney fazer alguma coisa e quanto mais gritava, mais o urubu se debatia. Ele tentou pegar o urubu com duas almofadas e jogá-lo pela janela, mas ele se libertou e ainda soltou um terrível grasnado, parecendo balido de bode. Pensou que a mulher ia ter um treco. Então ele, que não mata nem barata, agarrou a ave hedionda com as próprias mãos e quebrou seu pescoço. A mulher encarou-o atônita por um minuto. Então, levantou-se, saiu pela porta e nunca mais voltou.
Até hoje Sidney não conseguiu entender como um urubu desgovernado quebrou a janela e acabou com seu casamento. E também como a história chegou aos ouvidos do colunista. Esse termina sua crônica afirmando que foi tudo coincidência e que espera que Letícia, a esposa, se recupere do trauma e volte para ele.
Lendo o texto, não pude deixar de pensar no Roque, o cachorro perdigueiro do meu filho (casado e pai de três meninos pequenos) e as confusões que ele aprontou. O Roque, um cão cativante e endiabrado, foi presente de um amigo. Chegou no apartamento na forma de uma bolinha branca  e fofa, de pintas pretas, sendo recebido com entusiasmo pelas crianças e com frieza pela esposa. Foi crescendo, crescendo, até dominar todo o apartamento. Bagunceiro e brincalhão, mordia as almofadas, babava por todo lado, dava saltos mortais em cima das pessoas, derrubava vasos, arrastava por quarteirões inteiros quem se atrevia a passear com ele na coleira. Passou a ficar preso na varanda, arranhando o vidro da porta e ganindo sem parar, enquanto aguardava com impaciência a chegada do meu filho, a paixão da vida do Roque. A cada dia, crescia a paixão entre eles. Mas também cresciam os problemas, em razão diretamente proporcional ao aumento do tamanho do cocô e do xixi do Roque. A esposa, tal qual a Letícia da outra história, estava quase dando um treco. Até o dia em que ela falou a célebre frase: “você decide: ou eu ou o cachorro” (felizmente não saiu pela porta e sumiu, como a Letícia; pelo menos deu uma chance). O meu filho sentiu uma dor no coração ao pensar que não teria mais os pulos alegres e as lambidas grudentas do Roque quando chegasse em casa. Sem saída, levou o “Roquinho”, como diz ele, para a fazenda. Hoje, o Roque está feliz, rolando na terra e correndo atrás das galinhas, perus e codornas. E o casamento continua firme e forte, mas sem o Roque.

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