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sábado, 14 de maio de 2011

Um passeio na Bahia

Nora , filhas e netos na canoa para atravessar o rio, no caminho de Ambuba




Pensar na Bahia é pensar em praia, mar morno, coqueiros, água de coco, descanso, e paraíso. Mas pode ser bem diferente disso.
Tudo começou com um planejamento estratégico entre as duas filhas, a nora e eu para que os três priminhos pudessem se encontrar na praia de Algodões, na casa da filha. Poderíamos também aproveitar a alegria e o prazer de estarmos juntas. Assim, o Enzo, de nove meses, atravessou os States. Na parada em Belo Horizonte, na casa dos tios, recebeu uma dentada homérica na cabeça, do “amiguinho” que ficou fascinado com sua careca luzidia. O Miguel, de um ano e quatro meses, chegou a todo vapor de Macaé-RJ. Foram recebidos pelo sorriso matreiro do Yuri, de oito meses. A partir daí, começaram as confusões. O Miguel se empolgou demais com o mar morno e desenvolveu uma bronquite daquelas, o peito chiava como mil gatos. À noite, chorava e acordava a todos. Três bebês chorando e os adultos de olheiras, sonhando com uma soneca. Além disto, os pernilongos. Nuvens destes dípteros hematófagos. A salvação eram os cortinados. Todos nós escondidinhos, emaranhados no véu e um pouco sufocados.
No final de semana, o passeio em Ambuba, a comunidade quilombola do meu genro. Os três netos na canoa, colocando as mãozinhas na água. O camarão pitú cozido no fogo entre duas pedras, a casinha de barro na beira do rio, o almoço debaixo dos pés de cacau. Na trilha, cada mãe carregando seu filho, eu carregando as sacolas, o genro carregando um cacho de bananas e um facão de um metro. A nora, moça de cidade, entrou em pânico, com medo de cobra. O pior é que tinha mesmo uma enorme, estirada no meio da trilha.
Certa noite, aconteceu um dilúvio, ficamos com medo do tsunami. A energia acabou e surgiram goteiras por todo lado, na linda cobertura de piaçava, algumas bem em cima dos colchões. Sem energia, a bomba dágua não funcionava. Depois, outro drama: a filha foi levar a nora e o Miguel para Itacaré, na estrada de terra esburacada e lamacenta. Um riacho transbordou e o carrinho Gol não passava, mesmo minha filha sendo especialista em “reconhecimento de poças” (lagoas). Voltaram decepcionadas (menos o Miguel, que não sabia de nada). Acabaram indo os dois em uma Land Rover, a nora com um pouco de medo de ser sequestrada. Para completar, não se sabe como, o Miguel “assou o bumbum” e foi berrando no avião. Ele chorava de dor; a mãe e a aeromoça, de pena.
Na noite seguinte, outro susto, à luz de velas: o Yuri, que nunca ficou doente, acordou aos prantos e não conseguia respirar. Foi levado às pressas para o hospital mais próximo, em Maraú, meia hora de viagem. Era laringite estridulosa e crise de bronquite. Mais um doentinho fazendo inalações.
No final, a filha que mora nos States, eu e Enzo fomos pegar o voo em Ilhéus. Na parada em Itacaré, à noite, ela fanhosa, catarrenta, de nariz entupido e brigando com o cortinado, soltou a frase: “não aguento mais essa Bahia!” Mas o pior foi quando chegamos no aeroporto de Guarulhos-SP: o nome dela e do filho não estavam na lista de passageiros! Descobriram que a passagem deles era para a noite anterior. Lágrimas e desespero (teve que comprar outras passagens). E lá se foram, o Enzo com sinais da mordida na careca e picadas de pernilongo. Fiquei ali pensando que ser mãe é padecer no paraíso. Ser avó também.

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