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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A tromba do elefante

          
            Na Tailândia, um elefante fêmea de 48 anos, Motola, voltou a caminhar depois de 10 anos. Ela perdeu a pena dianteira na explosão de uma mina terrestre e agora recebeu uma perna mecânica, conseguida com fundos arrecadados por defensores dos direitos animais. Fiquei feliz por ela.
Comecei então a pensar nos elefantes. Doze toneladas e quatro metros de altura de pura maravilha da natureza. O maior vertebrado terrestre. Com pele grossa (daí o nome paquiderme), orelhas grandes que abanam para refrescar o corpo, patas grossas parecidas com pilares de sustentação, grandes almofadas nos pés, dentes incisivos superiores transformados em presas (ou marfim), olhos pequenos e dóceis. Com cérebro complexo e boa memória, capazes de comportamentos notáveis, como demonstrar sofrimento pela morte de parentes: acariciam o corpo com a tromba e tocam suavemente o cadáver com as patas.
Mas o mais espetacular no elefante é a tromba. Um apêndice versátil, sem ossos, que funciona como um nariz, uma mão, um pé extra, um dispositivo de sinalização, uma ferramenta para recolher alimento e água (jogam na boca ou sobre o corpo). A tromba também tem funções sociais. Serve para acariciar, fazer investidas sexuais, tranquilizar o companheiro, trocar cumprimentos e abraços. Quando está levantada, é sinal de aviso ou ameaça. Abaixada, é sinal de submissão. Entre os machos, pode se tornar uma arma durante a luta. Se há intrusos por perto, podem bater nos mesmos ou agarrá-los e atirá-los no ar. Podem também usá-la como periscópio e pelo cheiro, determinar a presença de amigos, inimigos e de fontes de comida. Equipada com cerca de 50.000 músculos, pode arrancar e empurrar com força de toneladas. Mas é também capaz de operações delicadas, como pegar um amendoim e colocá-lo na boca.
Richard Dawkins, biólogo e influente cientista da evolução, em seu livro “A escalada do monte improvável”, explica que foram necessários milhões de anos para se criar esta maravilha da evolução. A tromba dos elefantes começou como um simples nariz. Os ancestrais desses animais devem ter incluído uma série contínua de intermediários com narizes mais ou menos alongados, parecidos com antas, macacos narigudos ou elefantes marinhos (nenhum desses animais é parente próximo do elefante). Assim, a partir de um ancestral de nariz curto, surgiram outros com narizes cada vez mais longos, músculos cada vez mais espessos e nervos mais intricados. É provável que a tromba tenha se tornado progressivamente mais eficiente em seu trabalho, a cada centímetro aumentado.
E aí vem o homem e mata brutalmente os elefantes, para a retirada do marfim, terminando com milhões de anos de evolução. Existem grupos criminosos por trás deste comércio violento. Além da matança, exploram os laços de família do sofisticado sistema social dos elefantes: atiram primeiro no elefante jovem para atrair a mãe aflita, depois a matam e retiram suas presas. Todo o enorme corpo fica lá, estirado no chão, numa poça de sangue. Na África, foram 700 mil elefantes mortos de 1979 a 1989, mesmo em áreas protegidas. Muito triste.
Mas felizmente existe o outro lado, pessoas lutando para proteger os elefantes, como as que conseguiram a prótese de uma perna para Motola. E tem povos que gostam tanto do animal, que o tratam como deus: na Índia, Ganesh, o Deus da sabedoria, tem cabeça de elefante.

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