A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A marcha dos grilos canibais

           
     O biólogo molecular Fernando Reinach, Ph.D. pela Cornell University e pesquisador da USP, escreveu o livro “A longa marcha dos grilos canibais”. É uma coletânea de quase 400 textos abordando assuntos diversos como ambiente, sexo, comportamento, política. Todos baseados em artigos científicos recentes, publicados em revistas  de renome, como Nature e Science, traduzidos para uma linguagem acessível e bem humorada, porém respeitando-se o rigor científico.
Por exemplo, o texto que deu nome ao livro é baseado no artigo  “Cannibal crickets on a forced march for protein and salt”. Os grilos Anabrus, que vivem nos Estados Unidos e não voam, se organizam aos milhões, em fileiras de até 10km e avançam rápidamente, cerca de dois km por dia. São atropelados quando atravessam as estradas e os de trás param para comer os mortos. Os que param também são atropelados e comidos pelos seguintes. Descobriu-se que a motivação que inicia a marcha é a busca por comida, principalmente sal e água. Como o corpo dos grilos é formado principalmente por estas substâncias, ocorre o canibalismo. Mesmo assim, os grilos não abandonam o bando, pois seriam comidos por pássaros. Entre o medo dos pássaros, o medo do grilo que vem atrás e a vontade de comer o da frente, o jeito é caminhar cada vez mais rápido. 
 Os títulos dos textos são criativos, como “Caçar ratos é mais fácil que cassar ratos”; “O inimigo do meu inimigo é meu amigo”; “Uma vaca que não fica louca”. Outros instigam à leitura para saber como o autor vai conseguir ligar os fatos, como “A voz, o ciclo menstrual e as cartomantes” e “A dinâmica da obesidade e as armas nucleares”.
O livro mostra, entre outros, que mesmo o homem tendo domesticado centenas de animais e plantas para uso próprio, está longe de controlar a natureza, que possui vários recursos engenhosos e sofisticados. Por exemplo, elefantes machos  conseguem atrair as fêmeas por meio de  feromônio, usando apenas dois isômeros de uma mesma molécula. Bactérias são capazes de se intercomunicar, organizar estratégias de sobrevivência e ainda demonstrar alguma forma de altruísmo. Até morrem sem deixar cadáver, pois uma mãe simplesmente deixa de existir se partindo em dois filhos. Já as plantas podem fazer sexo a grandes distâncias, com o pólen viajando quilômetros antes de fertilizar outra planta. Há também casos de espécies que usam incríveis estratégias de sobrevivência. Como o cachorro, um parasita do afeto humano. Desde que o homem se espalhou pela Terra, os grandes carnívoros tem sofrido com nossa presença. A exceção é o cão, que entregou seu destino ao homem, seu pior inimigo, e teve a astúcia de desenvolver uma relação direta com nossa capacidade de criar laços afetivos(talvez por seu olhar meigo ou por sua capacidade de balançar o rabo).
 Outro ponto forte são as reflexões de como o conhecimento científico afeta nossas vidas. Por exemplo, cientistas suiços demonstraram que o cérebro, em suas escolhas, prefere utilizar informações obtidas em contato direto. Por isto os políticos andam pela rua cumprimentando os eleitores. Na falta do contato direto, a imagem da face passa a ser a principal fonte de informação. Daí os candidatos fazem plástica.
Ao lado de tudo isto, fica clara a mensagem que devemos ter muito cuidado com a Terra. Textos sobre este assunto e outros serão explorados na próxima crônica. Aguardem.

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