Lia logo depois de colocar os brinquinhos
Estive
na Califórnia durante um mês, na casa da filha, e vivenciei cenas interessantes.
Por exemplo, lá as meninas não têm as orelhas furadas para colocar brincos
quando nascem, isso é cultura de latinos. Mas a Lia, minha netinha de quatro
anos, quando veio ao Brasil, ficou fascinada com os brinquinhos das primas.
Pediu para colocar nela também. Levei-a a uma farmácia e o funcionário sentou-a
em uma cadeira. Sem maiores preâmbulos, pegou uma maquininha e segurou a
orelha. A Lia ficou horrorizada e fugiu. Passado o susto, já nos States, pediu
novamente. A mãe levou-a a uma loja com centenas de brincos e com moças lindas,
vestidas de princesas. Sentou-se em um trono e uma princesa deu a ela um
ursinho macio para segurar. De mansinho, outras duas vieram por trás e furaram
as duas orelhas ao mesmo tempo, para evitar fuga com apenas uma orelha furada. Quando ela começou a berrar e o irmão a gritar
" sangue, sangue", enfiaram um pirulito na boca deles. A Lia saiu com
lágrimas nos olhos, mas de brinco e se deliciando com o pirulito.
Outra cena inusitada aconteceu numa
sauna. Abri a porta, não enxerguei nada devido ao vapor, sentei-me como pude (felizmente
no banco e não no colo de alguém). Ao meu lado estava um jovem com camisa,
calça, tênis e meia, fone de ouvido, suando ao som da música. Pensei que estava
no lugar errado, sai e perguntei. Não, lá é assim mesmo, depois vi outras
pessoas bem vestidas suando na sauna. E na piscina, mulheres com maiô de saia
rodada. Biquini fio dental, como aqui, nem pensar.
Também fui em um local com
massagistas asiáticos, todos de olhos puxadinhos. O interessante é que as
massagens são coletivas. Cerca de 30 pessoas ao mesmo tempo, na penumbra,
música suave, barulhinho de água, pés
mergulhados em água morna, corpo vestido
e coberto por toalhas felpudas quentinhas. Um asiático para cada pessoa,
massageando com força o nariz, os olhos, as orelhas, a nuca, o pescoço, tirando
os nós das veias, das artérias, espichando os dedos dos pés. A melhor coisa do
mundo, vontade de ficar lá para sempre. Ainda vou levar o Zé, meu marido, para
fazer essa massagem.Ele vai adorar.
Ah, tem ainda as manicures
vietnamitas. Pequeninas, vaidosas, de cabelos
bem lisos e tagarelando em vietnamita sem parar. Elas passam um esmalte que não
sai nunca, mas nunca mesmo, só se tirar a unha também.
Outra coisa: a meninada de lá não
briga como a meninada daqui. Por qualquer empurrãozinho em uma criança, os pais
falam "I´m sorry" mil vezes e
repreendem o filho. Minha filha fazia parte de um Clube do Livro e nas reuniões
levava o Enzo, então com três anos. Com o seu lado bem brasileiro, ele mordia
todas as crianças presentes. Ela foi convidada a se retirar do clube.
Enfim, existem por lá muitos
costumes diferentes. Nas eleições, ninguém pergunta para o outro em quem votou,
é falta de educação. Aqui, a gente espalha e ainda pede voto. Os cachorros são
um show à parte. No teatro, vi um cachorro grande, peludo, lustroso, com uma
bolsa dourada de lado, quietinho, assistindo ao balé "Romeu e
Julieta", bem ao meu lado. E não era cachorro de cego.
Mas o Brasil também tem cenas inacreditáveis. Como
José Simão escreveu na Folha , em um banheiro em Aracaju tem a placa "É
proibido lavar pés, cabelos, pano de chão, pratos com resto de comida e dar
banhos em crianças dentro da pia" . Não pode nada, mas pelo menos tem pia
no banheiro. Se fosse em São Paulo, nem pia teria, pois não tem água...
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