Monastério
O passeio de balão
A paisagem vista do balão
Fomos de avião de Istambul para a Capadócia, uma região da
Anatólia Central. As malas deveriam ir no ônibus da excursão, com o qual
visitaríamos vários locais. Acontece que o Arhmed, o primeiro guia, aprontou a
maior confusão quando foi buscar as malas no hotel. Ninguém quis entregar, apenas um grupo que
tinha chip dentro da mala (nem sabia que existia) e poderia acompanhar a viagem.
Daí, na troca desencontrada de informações e dificuldades da língua, justo a
minha mala e da minha amiga, companheira de quarto, ficaram esquecidas no
hotel. Nós duas tínhamos preparado tudo direitinho, as roupas combinando, cada
dia um conjunto. Ficamos três dias com a mesma roupa, até as malas aparecerem.
A minha amiga até queria usar a saia do avesso , pra variar...
Bem,
confusões à parte, levamos o dia todo para chegarmos na Capadócia, embora o voo
fosse de apenas uma hora. Desembarcamos em Kacire e fomos recebidos pelos guias
Maria, brasileira, e o esposo turco, Savas. Ela maranhense, bonita, agradável e
elegante numa calça preta de couro, blusa vermelha e chapéu. Fomos no ônibus
para o hotel Alf, em Havana, uma cidade com muitas fábricas de cerâmica. Esse hotel não era bom, era feito de pedras
para se harmonizar com as outras edificações. Os quartos tinham cheiro de mofo
e várias pessoas tiveram alergias e dor de cabeça. Aliás, sempre tinha alguém
sentindo alguma dor: no nervo ciático, na coluna, no joelho, no pé; dor de
barriga, dor de garganta (mas dor de dente, não). Também sempre tinha alguém
perdendo alguma coisa: celular, garrafinha d´água, óculos, sacola com todas as
compras do Duty Free...Mas o recorde penso que foi meu: perdi meu passaporte
português (mas encontrei), perdi a mala (mas apareceu) e perdi o voo de São
Paulo para Uberlândia (mas cheguei sã e salva).
Voltando à
excursão, saímos cedo no ônibus e atravessamos paisagens de origem vulcânica.
Muitas montanhas e rochas claras, bem bonito. Paramos em um mirante com vista
para o Parque Nacional de Goreme, uma vista de tirar o fôlego: centenas de
rochas claras, na forma de cones, torres e chaminés de fada, esculpidos pela
erosão, parecendo uma paisagem lunar. No meio delas, ao longe, viam-se vários
hotéis de pedras e casinhas escavadas nas rochas. Ninguém mora no local, é só
turístico e patrimônio da humanidade. Tiramos fotos e mais fotos. E compras,
nas lojas estrategicamente situadas nos locais turísticos.
Do mirante,
seguimos no ônibus para visitar o Monastério, o segundo lugar mais visitado da
Turquia (o primeiro é a Mesquita de Santa Sofia). O Monastério é um grande
museu a céu aberto, com casinhas nas rochas para as freiras, de um lado, e para os
monges, do outro. Igrejinhas dentro das rochas, com pinturas coloridas: Igreja
de São Jorge, de Santa Bárbara, da Maçã, escavadas entre o séc. VIII e XIII. O
guia ia explicando que os cristãos lá chegaram nos sec. II e III, eram
perseguidos e tinham que se esconder para rezarem. Falou dos governadores Augustus,
Maximiliano, Emiliano; de Constantino... Séculos e séculos de história, não é
possível aprender correndo atrás do guia, se desvencilhando das centenas de
turistas e tentando observar os monumentos. Confundi tudo. Mas me maravilhei
com a pintura da Santa Ceia, com os apóstolos com sandálias delicadas de
tirinhas amarradas. Entramos no ônibus e o guia continuou explicando: já passaram
13 nacionalidades na formação da Turquia; a terra vulcânica é muito bem aproveitada;
existe muito comércio de pedras preciosas, como
de turquesa; 36 sultões governaram a Turquia na era Otomana; passou a
ser República Tcheca em 1923; Capadócia significa a terra dos belos cavalos,
etc. Aliás, vimos muitos cavalos pelo caminho. Ovelhas também. Porco, nem pensar.
É proibido comer carne de porco na Turquia. Mas, boi e vaca, será que não existem por lá? Não
vi nenhum.
Paramos em
uma fábrica de joias. Serviram vinho e chá de romã e mostraram joias com a pedra
sultanita, que muda de cor conforme o ângulo. Os sultões presenteavam suas
amadas preferidas com esta joia. Alguns homens da excursão aproveitaram a
história, compraram joia para a esposa e se declararam para elas, ao som dos
aplausos da plateia. Também visitamos uma fábrica de tapetes. Maravilhosos,
tecidos à mão. Nos sentamos em um grande salão, bebemos chá e vinho e
desenrolaram, com grande habilidade, dezenas de tapetes para ver se alguém
comprava.
Depois,
paramos em um restaurante imenso com comida gostosa: abobrinha e pimentão
recheado, carneiro, coalhada seca, doces divinos...O melhor é que foi grátis. Aliás,
as bebidas eram pagas: uma cerveja, 160 LS (liras turcas; 40 reais) e uma coca,
50 LS (12 reais). Ganhamos o almoço como cortesia da empresa de turismo, se
desculpando por causa das confusões do guia Arhmed.
Do almoço, saímos direto para jeeps quatro por
quatro, para participar de um safari. Quatro pessoas em cada veículo, podendo
ser com emoção ou sem emoção. O motorista, um turco bonito que com certeza já
tinha feito plástica no nariz, não explicava nada, pois só falava turco. E o safari não era para ver bicho não, só se
fosse gato, pois havia gatos em profusão em todo local turístico, comendo
salame que as pessoas levavam. Era para ver "three points: first, second,
third", andando em estrada
lamacenta, esburacada e escorregadia, debaixo de chuva forte e frio intenso (pra
andar em estrada lamacenta, ando na Bahia mesmo, quando vou na casa da filha). No " first
point", não deu nem pra descer do jipe. No "second point",
paramos em um mirante e tiramos fotos de uma paisagem bonita, com rochas
vulcânicas brancas. No "third point", paramos em um local alto pra
tomar café, todos tiritando de frio. Não gostei deste safari... Talvez seja
porque pedimos sem emoção.
Á noite,
fomos para uma casa de festas, com bebidas á vontade e alguns aperitivos. Teve
várias apresentações de danças. Uma
bailarina, que dançava muito bem e com um gingado especial, era bem desinibida
e sabia se entrosar com a plateia. Chamava pessoas que estavam assistindo, para
dançarem a dança do ventre com ela . Demos boas risadas ao ver como os homens
eram desengonçados para imitá-la. Foi a atração do show.
No dia
seguinte, acordamos às 4:00 h para o
famoso passeio de balão (por 275 dólares). Muitos carros levando turistas, mas
tudo bem organizado. Primeiro esperamos ao lado do nosso balão até ele ficar
cheio. Usam o gás propano. Uma moça, a baleeira, e um ajudante, ligavam e
desligavam o fogaréu . Dentro do balão o ar precisa estar mais quente do que o
ar externo, para ficar mais leve que o ar e subir. Tudo pronto, entramos 20 no
cesto e lá ficamos, apertadinhos. Subir na cesta é difícil, quase como ficar no
alto de um muro pensando se pula ou
não. É muito lindo olhar as terras
vulcânicas esbranquiçadas, lá do céu, parecendo paisagem lunar. O sol nascendo,
cerca de 130 a 150 balões colorindo o céu, cidades pequeninas passando devagar,
gratidão por estar ali naquele momento. Depois de uma hora , a baleeira foi diminuindo
o fogo e não sei como, a cesta com todos
nós pousou exatamente em cima de um tablado
puxado por uma camionete que estava seguindo o balão. Aterrissamos em um
local com barro e tivemos que andar bastante até chegar no carro. Valeu o passeio, as emoções , a beleza e a
paz lá no céu.
No próximo e
último capítulo, tem muito mais: visita
à casa de Maria, às ruínas de Éfeso e à uma ilha grega.