Besouro nas flores de mataíba |
Eu sentada debaixo de uma árvore em Buenos Aires |
O menino Zezé, de uma família pobre e numerosa,
personagem principal do livro "Meu pé de laranja lima", encontrava
amparo e afeto conversando com sua árvore no fundo do quintal. Um dia perguntou
para o pé de laranja lima: -"Por onde você fala? " E ela respondeu:
-"Árvore fala por todo canto. Pelas folhas, pelos galhos, pelas raízes.
Quer ver? Encosta seu ouvido aqui no meu tronco que você escuta meu coração
bater". Quando se despedia, o menino dava um abraço apertado no tronco da
árvore:-"Adeus, amiga! Você é a coisa mais linda do mundo!"
Concordo com o Zezé, as árvores são lindas. Existem
para serem abraçadas e admiradas. Para trazerem beleza ao mundo e serem amigas
do homem. Sábias são as pessoas que conseguem ouvir o silencioso sermão das
árvores, que se deixam ficar debaixo delas, sentindo sua paz e tranquilidade e
esquecendo as ansiedades da vida. Que
sabem contemplar a beleza e a majestade
de um ipê rosa florido ou de uma laranjeira de flores brancas cujo perfume nos
leva para uma infância de pés descalços.
Rubem Alves, em seu livro "O amor que acende a
lua", explica que as árvores vivem para viver pois viver é bom. Com as
raízes mergulhadas na terra, não fazem planos de viagem, são felizes onde
estão. E as pessoas seriam mais belas e felizes se fossem como as árvores. Cita
o exemplo de São Francisco que, de acordo com relatos, pregava aos peixes e às
aves. Mas o autor conclui que na verdade, São Francisco deve ter ouvido a
pregação das árvores. Por isso ficou tão manso, tão tranquilo, tão perto de
Deus. Ele tinha a beleza das árvores. Estava reconciliado com a vida. Então os
pássaros fizeram ninho nos seus galhos e os peixes comeram dos seus frutos que
caíam na água...
Gosto de árvores e de caminhar debaixo delas. Tenho
uma especial, a sibipiruna que plantei em frente à minha casa. Com cachos de
flores amarelas miúdas, que formam um tapete quando caem no passeio e com folhas
miúdas que caem em profusão, como uma chuva fininha. É bom olhar seus galhos
balançando ao vento e acompanhar suas transformações. Como o Zezé, sinto até vontade
de conversar com ela. Outra árvore especial na minha vida é a mataíba, comum no
cerrado e que pode se apresentar na forma de arbusto ou árvore. Durante dois
anos, no meu doutorado, observei a floração de inúmeras dessas árvores e
coletei seus visitantes florais, que iam
em busca do pólen e néctar de suas pequenas inflorescências brancas. Identifiquei, com auxílio de especialistas, 105 espécies de
abelhas, 35 de coleópteros, 37 de dípteros e 54 de vespas que se alimentavam
nesta planta e que potencialmente poderiam ser seus polinizadores. Sou grata à
mataíba por ter-me dado a oportunidade de entender melhor a complexidade das
interações insetos-planta e de poder, mais uma vez, maravilhar-me com a vida.
O Zé, meu marido, também queria ter uma árvore
especial. Quando criança, lá no Carmo, plantou uma moeda de 500 réis para
nascer uma árvore de dinheiro. Ele ia sempre conferir, mas não vingou.
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