Pai da nova geração: Chris com a filha Lia |
Pai da velha geração: Zé em 1973 com os filhos Luiz Cláudio e Vinícius |
Pai da geração mais antiga ainda: Padrinho Pereira (o primeiro, de branco)
A crônica de Antônio Prata publicada na Folha
e intitulada "Sua vez",
ilustra bem como os pais atuais estão participativos na criação dos filhos.
Ele
conta que estava sonhando. Vinha voando, planando devagarzinho, como naquele
banquete no final do filme do "Asterix, só que o banquete era no jardim da
sua avó. Voava em direção a um javali e quando estava quase dando uma dentada
no glorioso pernil do animal, uma dedada em sua costela o chamou de novo ao
mundo dos vivos: "Acorda, é sua vez, vai lá que ele tá chorando faz tempo."
Levou uma eternidade para entender que não estava voando, não havia javali nem
banquete, eram 4h da madrugada, seu filho estava chorando e ele precisava tomar
uma atitude. Respondeu sonolento e com ressaca das cervejas da noite anterior:
"Eu fui à uma!". Do outro lado da cama veio a resposta incontornável:
"Eu fui às três!". Não teve dúvida de que seria ele a deixar aquela
cama quentinha e sair tropeçando na noite escura. Talvez tivesse que fazer
mamadeira ou trocar a fralda. Acabaria com cocô nas mãos, nos braços e poderia
levar um jato de xixi na testa. Nessa hora, não se sentia mais uma pessoa boa,
um pai esforçado, um filho da revolução cultural dos anos 60 que acredita em
direitos iguais para homens e mulheres. Se sentia um monstro cujo objetivo era
continuar dormindo e só enxergava o travesseiro. Pensou em não ir, mas seria
divórcio na certa. Pensou em dizer que não iria porque trabalhava o dia inteiro
pra sustentar a família. Mas a mulher também trabalhava e não ia dar certo.
Pensou em agir como um homem dizendo que iria até a esquina comprar cigarro e
nunca mais voltaria. Mas para isso teria que abrir mão do seu bem mais precioso
naquele momento, a cama. Entorpecido pelo sono, pela ressaca e choro de bebê,
pensou em tantas pessoas que não teriam trocado uma fralda sequer. Sentiu
inveja dos colonizadores europeus. Do exército do Genghis Khan. Dos romanos e
gauleses. Homens num mundo de homens, para homens. Passou então a maldizer o iluminismo, a psicanálise, o século XX, os
hippies, a Yoko, a Leila Diniz, o parto humanizado, as peladonas de
protesto. Recebeu outro cutucão:
"Vai! É a sua vez!". E ele foi, praguejando contra a injustiça de um
mundo justo.
Pensei
no Zé, meu marido. Nunca ele se levantou à noite para cuidar de filho. Certa
vez, com um bebê e quatro crianças de um a seis anos, todas gripadas e de nariz
entupido, eu já tinha me levantado quinze vezes. Na décima sexta, dei uma
cutucada nele: "Vai, agora é você". Depois de uma eternidade, ele se
sentou na beirada da cama e por lá ficou. Dei outra cutucada e ele disse:
"Se eu me levantar depressa, fico tonto e caio" . Desisti de vez.
Bem,
o Zé ao menos tentou. Pior foi o meu padrinho Pereira. Fazendeiro bonachão,
quando minha madrinha cutucou-o para cuidar do filho que berrava, virou-se para
o outro lado da cama e disse: "Faz assim: você olha a sua banda e deixa a
minha banda chorar"...
Neste
mês de agosto, quando se comemora o dia dos pais, parabéns a todos os pais. Aos
que cuidam dos filhos à noite, fazem mamadeiras e trocam fraldas. E também aos
que não fazem isso, mas que conseguem ser bons pais, cada qual do seu jeito. Que
sejam sempre os heróis dos seus filhos e caminhem com eles ao longo da vida,
como na música do Fábio Jr: "Pai, você foi meu herói, meu bandido, hoje é
muito mais que um amigo; nem você nem ninguém tá sozinho, você faz parte desse
caminho,que hoje eu sigo em paz".