Luiz Cláudio com a família e participando do triatlo em Santos |
O meu filho Luiz Cláudio, atualmente médico ortopedista, triatleta,
pai, esposo e treinador de cachorro
perdigueiro, é uma pessoa muito persistente.
Tudo começou em 1983, quando ele estava com 11 anos.
Gorduchinho e com os joelhos um pouco tortos, entrou na natação do UTC. Ia
empurrado e desanimado. Um dia, o Zé, meu marido, prometeu-lhe uma moto se ele fosse campeão
mineiro. Virou outro. Passou a treinar todos os dias de madrugada movido pelo
sonho da moto XLX250. Aos 14 anos, foi campeão mineiro de nado borboleta em BH
e depois participou do campeonato brasileiro no Rio, ficando entre os primeiros.
O pai, que não pensava que ele seria campeão, enrolou um ano mas deu a moto.
Lembro-me de um triatlo no qual ele participou no Parque
do Sabiá, aos 16 anos. Participantes do
Brasil inteiro, uma multidão. Os nadadores tinham que atravessar a lagoa dando uma volta em torno de uma boia e subir
em um tablado do outro lado. Tinha um barquinho salvando quem estava se
afogando e eu, da ponte, de olho no
barco, com medo do filho se afogar. Os nadadores que não foram atropelados no
começo, nadavam em uma formação em V, com um atleta liderando a competição. A
turma começou a torcer. Só quando o herói subiu no tablado,
reconheci o Luiz Cláudio! Quase morri de emoção.
Depois, na época do vestibular, ele decidiu fazer
medicina na UFU. Disse que ia passar no primeiro lugar e passou mesmo, na UFU e
na UFMG, aos 17 anos. E quando terminou a residência na USP de Ribeirão, passou
em primeiro lugar no exame nacional da
SBOT.
Agora, aos 43 anos, resolveu ser triatleta. Nada, corre e
pedala de domingo a domingo. Treina de madrugada, antes de começar a operar. No
sábado pedala 160 km e no domingo também. Começou a treinar em fevereiro do ano
passado e já perdeu 26 kg, vai sumir. Em julho, participou do "Troféu
Brasil de Triatlo" em São Paulo e ficou em terceiro lugar. Nas três etapas
seguintes, já ficou em primeiro lugar. No momento, anda treinando para o
Ironman em Zurich e desconfio (mas tenho medo de perguntar) que pretende se
classificar para o campeonato no Havaí, coisa de loucos.
Bem, no meio de tudo isso, aconteceu o seguinte. O Luiz
Cláudio tem um cachorro perdigueiro, o Cookie, uma de suas paixões. É criado no
apartamento, na cobertura ( destrói tudo). Ele o está treinando com uma coleira
de adestramento, ou seja, dá uns choquinhos nele quando desobedece e dá ração
quando obedece. Os comandos são para sentar, esperar, ficar junto, dar a pata. Funciona,
mas tem hora que dá tudo errado. Por exemplo, dia desses fomos para a fazenda
com o Cookie. Foi só descer da camionete e ele, como bom perdigueiro, estraçalhou duas galinhas e rolou na bosta das
vacas, ficando irreconhecível. Mas o pior mesmo foi que ele engoliu uma ruela
curva especial, de meio centímetro, do câmbio dianteiro da bicicleta de fibra
de carbono, caríssima e importada. O fato aconteceu no apartamento, enquanto o
filho dava a manutenção. Sem ela, acabou-se a bicicleta, não é vendida
separada. Ele procurou a ruela por todo
lado. Como não a encontrou e o Cookie estava por perto, chegou á conclusão
óbvia.
Quando ele me contou isso, perguntei brincando: "-E
aí, você procurou no cocô do Cookie? " E ele respondeu sério: "É,
encontrei no décimo cocô...Quem procura, acha." Deus meu, ele passou três
dias procurando onde o Cookie fazia cocô e remexendo os montinhos com um
pauzinho. Isso é que é perseverança, o resto é bobagem.