O meu primeiro filho. Depois vieram mais cinco...
Certa vez, um menininho precisava fazer uma redação com o tema: " Mãe, só tem uma". Ele escreveu: "Cheguei em casa depois da aula, estava com fome. Queria chupar laranjas, abri a geladeira, olhei dentro e só tinha uma laranja. Daí, gritei para minha mãe: -Mãe, só tem uma!! Fim". Bem, o menininho poderia ter escrito que mãe é uma só porque só cabe uma mãe na vida de um filho, e olhe lá!
Também
não sei como escreveria uma redação com este título. Mãe é um ser difícil de
definir. Danuza Leão, por exemplo, escreveu que uma mãe tem que ser confortável.
E mãe confortável é aquela que tem vida própria: ou joga pôquer e ninguém vai
tirá-la da rodinha de sábado, ou tem um namorado que não vai deixar, nem morta,
para cuidar dos netos, ou tem um gato que não pode ficar sozinho. É
claro que o filho vai reclamar que não conta com ela para nada e vai acusá-la de ser egoísta. Mas,
se ele pudesse escolher entre uma mãe que sufoca e a que vive e deixa viver, por
certo escolheria a última. Aconselha a não dizer ao filho que gosta dele mais
do que tudo neste mundo. E a não ficar triste ao constatar que ele se importa
mais com seus próprios filhos do que com a mãe. Pois a vida é assim, e o amor
de cima para baixo - de mãe para filho - é muito maior do que aquele de baixo
para cima - de filho para mãe. O que é natural, não é bom nem ruim, nem justo
nem injusto: apenas é.
Por outro lado, se perguntarmos a
filhos como definiriam uma mãe, poderíamos ouvir respostas bonitas como
"mãe é muito mais que um parente, mãe é jeito de amar'; "mãe é ser ao
mesmo tempo a pediatra, a cozinheira, a professora, a brincadeira, o abraço; ser
mãe é ser mágica"; " ser mãe é um dom divino que Deus deu a cada mãe, por falta de tempo de cuidar de todos nós,
ele criou a mãe"
Mas também poderíamos
ouvir respostas como: "mãe é aquela que não tem tempo nem para comer, mas não se esquece de perguntar: -"E os
dentes, já escovou?"; "mãe é
aquela que padece no paraíso e inferniza a vida dos filhos"; "mãe é
tão chata que não deixa os filhos andarem desarrumados e em plena chatice dá
um beijo no filho na frente dos colegas da escola". Ou então: "mãe
é uma espécie esquisita que se alterna entre fada e bruxa com uma naturalidade
espantosa."
Eu,
particularmente, gostei de uma definição que encontrei: "ser mãe é
descobrir que o príncipe encantado, o homem dos seus sonhos, nasceu de
você". Não pela explicação em si, mas porque lembrou-me do meu netinho
Breno, de sete anos. Dia desses, quando fazia pouco tempo que o Zé, meu marido,
tinha falecido, o Breno e eu estávamos na cozinha picando tomates (ele é um bom
ajudante). De repente, ele disse: -"Que pena, vovó, o seu príncipe encantado morreu!"
Fiquei surpresa, perguntei qual príncipe encantado e ele respondeu : " O
vovô Zé! " Completou que agora eu
dormia sozinha, que eu devia estar triste e se eu queria que ele dormisse na
cama comigo. Quase chorei de emoção. Respondi que não precisava, quando a gente
é mãe e avó nunca está sozinha...
Enfim,
mãe é mesmo um ser estranho, que olha para a seu bebê querendo que ele não cresça nunca, não engatinhe,
pois isso não seria necessário, ela poderia carregá-lo no colo a vida inteira.
Que passa por experiências aterrorizantes, como ter um bebê engasgado no seu
ombro ou o filho partir para as drogas. Que passa por noites mal dormidas, que
sofre junto com os filhos adolescentes, com os filhos adultos, com os filhos já
velhos. Querendo que as dores deles sejam suas. Mas, maior que tudo, ser mãe é
fazer parte de um milagre, o milagre da vida. É saber que o nascimento de um filho anuncia
um futuro vasto do qual não fará parte
totalmente, pois os filhos são uma forma
de irmos mais longe no nosso tempo aqui na Terra. Ser mãe é ter o
desprendimento e a sabedoria de saber que os seus filhos não são seus , como na
poesia de Kahlil Gibran: " seus filhos não são seus filhos, são os filhos
e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de você, mas não de você. E embora vivam com você, eles não lhe
pertencem. Vocês são os arcos dos quais
seus filhos são lançados como flechas vivas. Você pode abrigar seus corpos, mas
não suas almas, pois suas almas habitam
na casa do amanhã, que você não pode visitar, nem mesmo em seus sonhos".
Concluindo,
parabéns para todas as mães: as carinhosas, as bravas, as chatas, as
preocupadas demais, as desligadas, as tias-mães, as pai-mãe, as de barriga de
aluguel, as adotivas, as que perderam seu filhos, as que cuidam de suas mães,
as que estão no céu junto ao Criador. Porque mãe é mãe e ponto final.
.