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quinta-feira, 16 de maio de 2024

Mãe é mãe


                                              O meu primeiro filho. Depois vieram mais cinco...

              Certa vez, um menininho precisava fazer uma redação com o tema: " Mãe, só tem uma". Ele escreveu: "Cheguei em casa depois da aula, estava com fome. Queria chupar laranjas, abri a geladeira, olhei dentro e só tinha uma laranja. Daí, gritei para minha mãe: -Mãe, só tem uma!! Fim". Bem, o menininho poderia ter escrito que mãe é uma só porque só cabe uma mãe na vida de um filho, e olhe lá! 

            Também não sei como escreveria uma redação com este título. Mãe é um ser difícil de definir. Danuza Leão, por exemplo, escreveu que uma mãe tem que ser confortável. E mãe confortável é aquela que tem vida própria: ou joga pôquer e ninguém vai tirá-la da rodinha de sábado, ou tem um namorado que não vai deixar, nem morta, para cuidar dos netos, ou tem um gato que não pode ficar sozinho. É claro que o filho vai reclamar que não conta com ela  para nada e vai acusá-la de ser egoísta. Mas, se ele pudesse escolher entre uma mãe que sufoca e a que vive e deixa viver, por certo escolheria a última. Aconselha a não dizer ao filho que gosta dele mais do que tudo neste mundo. E a não ficar triste ao constatar que ele se importa mais com seus próprios filhos do que com a mãe. Pois a vida é assim, e o amor de cima para baixo - de mãe para filho - é muito maior do que aquele de baixo para cima - de filho para mãe. O que é natural, não é bom nem ruim, nem justo nem injusto: apenas é.

            Por outro lado, se perguntarmos a filhos como definiriam uma mãe, poderíamos ouvir respostas bonitas como "mãe é muito mais que um parente, mãe é jeito de amar'; "mãe é ser ao mesmo tempo a pediatra, a cozinheira, a professora, a brincadeira, o abraço; ser mãe é ser mágica";  " ser mãe é um dom divino que Deus deu a cada mãe,  por falta de tempo de cuidar de todos nós, ele criou a mãe"

            Mas também poderíamos ouvir respostas como: "mãe é aquela que não tem tempo nem para comer,  mas não se esquece de perguntar: -"E os dentes, já escovou?";  "mãe é aquela que padece no paraíso e inferniza a vida dos filhos"; "mãe é tão chata que não deixa os filhos andarem desarrumados e em plena chatice dá um beijo no filho na frente dos colegas da escola". Ou então:  "mãe é uma espécie esquisita que se alterna entre fada e bruxa com uma naturalidade espantosa."

            Eu, particularmente, gostei de uma definição que encontrei: "ser mãe é descobrir que o príncipe encantado, o homem dos seus sonhos, nasceu de você". Não pela explicação em si, mas porque lembrou-me do meu netinho Breno, de sete anos. Dia desses, quando fazia pouco tempo que o Zé, meu marido, tinha falecido, o Breno e eu estávamos na cozinha picando tomates (ele é um bom ajudante). De repente, ele disse: -"Que pena,  vovó, o seu príncipe encantado morreu!" Fiquei surpresa, perguntei qual príncipe encantado e ele respondeu : " O vovô Zé! "  Completou que agora eu dormia sozinha, que eu devia estar triste e se eu queria que ele dormisse na cama comigo. Quase chorei de emoção. Respondi que não precisava, quando a gente é mãe e avó nunca está sozinha...

            Enfim, mãe é mesmo um ser estranho, que olha para a seu bebê  querendo que ele não cresça nunca, não engatinhe, pois isso não seria necessário, ela poderia carregá-lo no colo a vida inteira. Que passa por experiências aterrorizantes, como ter um bebê engasgado no seu ombro ou o filho partir para as drogas. Que passa por noites mal dormidas, que sofre junto com os filhos adolescentes, com os filhos adultos, com os filhos já velhos. Querendo que as dores deles sejam suas. Mas, maior que tudo, ser mãe é fazer parte de um milagre, o milagre da vida.  É saber que o nascimento de um filho anuncia um futuro vasto do qual  não fará parte totalmente, pois os filhos são uma forma  de irmos mais longe no nosso tempo aqui na Terra. Ser mãe é ter o desprendimento e a sabedoria de saber que os seus filhos não são seus , como na poesia de Kahlil Gibran: " seus filhos não são seus filhos, são os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de você, mas não de você.  E embora vivam com você, eles não lhe pertencem.  Vocês são os arcos dos quais seus filhos são lançados como flechas vivas. Você pode abrigar seus corpos, mas não suas almas,  pois suas almas habitam na casa do amanhã, que você não pode visitar, nem mesmo em seus sonhos".

            Concluindo, parabéns para todas as mães: as carinhosas, as bravas, as chatas, as preocupadas demais, as desligadas, as tias-mães, as pai-mãe, as de barriga de aluguel, as adotivas, as que perderam seu filhos, as que cuidam de suas mães, as que estão no céu junto ao Criador. Porque mãe é mãe e ponto final.

 


 

 

 

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