Nas piscinas de Pumakale
Na casa de Maria
A biblioteca de Celso em Éfeso
Logo após o passeio de balão, entramos no nosso ônibus e seguimos para Pamukkale. Foram dez horas de viagem, passando por cidades pequenas, com prédios baixos, padronizados, de cores neutras. O novo guia era o Ricardo. Claro, olhos azuis, tranquilo, de meia idade, falava sete línguas. Às vezes se confundia, como quando falou: "Atenção, damas e camelos!" Falando em línguas, li em propagandas e nas ruas várias palavras turcas parecidas com o português, como polis (policia); kursu (curso); pastaneleria(pastelaria); taksi (táxi); tunelli(túnel); sandiviç (sanduiche). Mas é impossível entender algum turco falando.
Confusões de línguas à parte, no caminho
fizemos uma parada. A Genoveva (minha
amiga que tem nome de santa) e eu, aproveitamos pra visitar o
Sultanhani-Kervansaray, uma construção enorme, quadrada, com portão gigantesco.
Uma antiga pousada para camelos e seus donos, um tipo de hotel do século XVIII.
Existiam a cada 30 Km, por toda a Turquia, pois um camelo só conseguia andar
esta distância em um dia.
Mas nós não,
e continuamos viajando. As paisagens ao longo da estrada eram maravilhosas.
Campos e campos de trigo; plantações de romã, de figo, de pêssego; oliveiras;
viveiros de morango. Tudo muito verde, com rebanhos de ovelhas no meio e
cavalos. Estradas em perfeito estado de conservação, sem buracos nem
solavancos. Torres de energia eólica, com os braços girando lentamente. Enquanto
isso, alguns dormiam de roncar dentro do ônibus e outros ouviam o Ricardo falar
dos mares, dos lagos salgados, dos rios, da indústria, do comércio, das
importações e exportações ...
Chegando, dormimos
o sono dos justos no Hotel Richmond, quatro estrelas. No dia seguinte, fomos visitar
o complexo Pumakkale- Hierapolis, um Patrimônio da Humanidade. De um lado, as
ruínas de Hierapolis, cidade construída durante o império romano e do outro, as
piscinas termais- de origem calcária- de Pumakkale. Vimos o teatro, dos séculos
II e III, conservado e na forma de um semicírculo. Ao longe, via-se o local
onde está a tumba do apóstolo Felipe e onde ele foi martirizado. Depois, a piscina térmica de Cleópatra, com
sua estátua, árvores e colunas em volta,
onde as pessoas compram ingresso e podem nadar. Indo para o outro lado, mais
elevado, nos deparamos com uma sequência
de piscinas com chão branco de carbonato de calcio solidificado em mármore
travertino, com águas azuis e quentinhas. Centenas de pessoas descalças
caminhando entre elas e crianças nadando. Em volta, muitas rochas brancas, um
cenário incrível.
À tarde,
aproveitamos para nadar na piscina de água quente do hotel e no outro dia
seguimos para Izmir. Foram 3,5 h até chegar no alto de uma colina, na casa da
Virgem Maria, onde ela teria vivido com o apóstolo João. Uma casa de pedras com
dois cômodos, um altar, um local para comprar velas. Uma fila enorme de pessoas
entrando na casinha por uma porta e saindo por outra. Algumas se emocionavam e
choravam. Do lado de fora, muito verde, paz e tranquilidade. Uma oliveira onde
as pessoas tiravam fotos, fontes de água benta, um local para acender as velas.
Um muro onde os visitantes amarravam papéis com pedidos e agradecimentos à
Virgem. Muito a agradecer mesmo, só de estar ali já era uma uma benção.
Na sequência,
rumamos para Éfeso. Almoçamos no caminho por 10 dólares, comida à vontade e saborosa. Paramos em uma fábrica
de couro que era um luxo, um deslumbre.
Nem sabia que existia tanta coisa bonita em couro...Fizeram um desfile para
nós, serviram vinho e chá, convidaram dois do grupo para desfilar. Em seguida,
abriram as portas de uma loja imensa e nos perdemos entre tantas peças
coloridas, de qualidade e caras. Na promoção, uma blusa de couro preta de homem
saia por 300 dólares. Pechinchando, talvez um pouco menos.
Chegamos em Éfeso,
uma cidade que foi fundada quatro vezes. A primeira, por
mulheres Amazonas, 2.000
a.C. , num local onde hoje está o túmulo de São João Evangelista. A segunda,
por atenienses, 1.500 a.C; a terceira, por Lisímaco, um general do Alexandre, o
Grande, 280 a.C., hoje o sítio arqueológico e local turístico que visitamos. A
quarta cidade durou até 1.300 d.C e foi importante para o cristianismo. São
Paulo viveu dois anos nesta cidade e nela escreveu muitas cartas. Era a quarta
maior cidade do mundo naquela época: Roma, Alexandria, Antioquia e Éfeso. Ao
longe, avistamos , no alto de uma colina,
as ruinas desta quarta cidade, onde São Paulo teria ficado preso.
Andamos a
tarde toda pelo sítio arqueológico e vimos as três atrações principais: o Templo de Artemis, com a estátua da deusa; a Biblioteca de Celso, imensa, chegou a
guardar 12.000 pergaminhos, é toda de mármore e só tem a fachada, o restante
foi destruído; e o Grande Teatro, onde lutavam os gladiadores e comportava
25.000 pessoas. Há muitas outras ruinas,
algumas bem conservadas: as Termas Romanas, o Palácio da Justiça, o Caminho da
Vestais, o Templo de Adriano. O caminho de Mármore, com pedras enormes e
escorregadias. As casas da população nobre, com mosaicos, afrescos e pinturas. E
as latrinas públicas daquela época,
interessantes demais: um quadrado
grande, com uns 30 vasos enfileirados um ao lado do outro, acima de um pequeno
canal onde corria água e levava as fezes para o esgoto da cidade. No meio, uma
fonte, para abafar os barulhos característicos. O cemitério dos ricos, com
vários mausoléus. O que mais me impressionou foi o Grande Teatro. Ainda hoje é
usado para alguns shows, como o de Elton John. Enfim, um lugar fascinante pela
sua história e grandiosidade.
Cansados,
entramos no ônibus e dormimos em Kusadasi, no Hotel Signature, com uma linda
vista para o mar Egeu. Chegamos justo na hora do por do sol e foi lindo ver o
sol se pondo sobre o mar .
Continuando
a saga, fomos para a ilha grega Chios. Duas horas de ônibus por uma rodovia com
canteiros centrais com espirradeiras floridas na cor rosa. No porto de Çesme,
entramos numa balsa e navegamos 40 min pelo Mar Egeu e mais uma hora de fila no
controle da imigração. A guia grega, Despina, nos esperava. Tiramos fotos ao
lado de quatro moinhos de vento e almoçamos carne de porco (na Grécia pode). Fomos
para a vila de Mesta e a Despina foi
explicando sobre a Grécia: tem 11 milhões de habitantes, 2.000 ilhas e Chios é
a quinta em tamanho, com 55.000 habitantes. Falou dos filósofos gregos, da
mitologia, de Homero, do mar Egeu, da salada e churrasco grego, da produção de
azeite de oliva. Das estátuas gregas fortes, musculosas e com pênis pequeno,
que mostram força e virilidade sem destacar a parte sexual. Contou que Chios é a única ilha onde se
cultiva a mastica, exportada para 45 países e usada na fabricação de cremes,
pasta de dente e outros.
Chegando à
vila de Mesta, andamos pelas ruas labirínticas da época bizantina e visitamos
uma igreja ortodoxa cristã , com lustres de cristal imensos e com os Arcanjos
Gabriel e Miguel representados em muitos quilos de prata. Uma vila pequenina, do
sec. XIV, cercada por grandes muralhas e com 165 moradores. Desta vila,
partimos para outra, Pyrgi, chamada de Aldeia Pintada porque as casas possuem
arte em grafite preto e branco. Os moradores idosos deixam a chave do lado
externo da porta, porque têm medo de que aconteça algo com eles e ninguém os
encontrem. Depois disto, voltamos para o barco. As duas vilas são interessantes
sim, mas esse passeio não compensa, é muito longe e resta pouco tempo pra
conhecer a ilha.
No domingo
foi a volta para Istambul, levantamos às 5 da manhã, oito horas de ônibus.
Paramos em Bursa, a quarta maior cidade do país e com dois milhões de habitantes.
Visitamos uma das mais belas mesquitas da Turquia. E também o Mercado da Seda,
com 3 andares e mercadorias luxuosas, lindas e coloridas. No caminho até Istambul,
o Ricardo falou de diversos aspectos da Turquia: 84 milhões de habitantes , formada por diferentes povos, várias culturas e várias religiões. A taxa de
desemprego é muito alta; apenas 10% possuem curso de graduação e muitos
graduados estão desempregados; apenas 2 % do orçamento familiar é gasto em
educação ; 9 % falam outra língua; há muitas mulheres analfabetas; a inflação
disparou e está em quase 80%. Dados tristes para um país tão bonito e tão
hospitaleiro.
No último
dia, no ônibus, na ida para o aeroporto, a Synai fez uma oração agradecendo a
viagem e as amizades conquistadas. A Raquel cantou a Ave Maria. A Mônica,
Secretária de Cultura de Uberlândia, ressaltou a necessidade de conhecermos e
participarmos mais da vida cultural da nossa cidade. Em todos, ficou aquele
sentimento de despedida de uma coisa boa que ficou para trás.
Enfim, foram
muitas as experiências. De pessoas boas, fazendo gestos de bondade, como a
Lílian, que me emprestou o xale de cashmere , quando perdi minha mala e estava
com frio. A Pamela e o Vanilson, sempre tão solícitos e com vontade de ajudar.
De conversas agradáveis , como da Genoveva. Conversamos tanto que, em São
Paulo, de pernas pra cima e relaxadas porque chegamos ao querido Brasil,
perdemos o voo pra Uberlândia! Daí ficamos a tarde toda no aeroporto e
resolvemos classificar a turma da excursão. O motorista foi eleito o mais
bonito. Teve também o mais comunicativo, o mais atrasado, a mais charmosa, os
mais reclamadores, os mais comilões e daí por diante.
Depois de
tudo, termino com um trecho da Oração do Turista: "... e quando a viagem
terminar, dai-nos a graça de encontrar alguém que queira ver nossos filmes,
nossas fotos e ouvir nossas histórias, para que nossa vida de turista não seja
vivida em vão. Amém"