As ruas
andam mais coloridas, e um tanto exóticas, com o novo visual das pessoas usando
máscaras para se protegerem do coronavírus. Tem máscara de todo tipo e
pra todo gosto: brancas, pretas, vermelhas, de bolinhas, estampadas, de flores,
listradas. Além do uso normal, também são colocadas no queixo, na testa, no
pescoço, dependurada na orelha e no cotovelo. E muitos se atrapalham com o seu uso,
como uma senhora que aparece em um vídeo na internet. Está com uma máscara de
listras azuis e comendo uma pratada de macarrão. Enrola o macarrão no garfo, enquanto
olha para o celular na mão esquerda. Distraída, abre a boca e enfia uma garfada
de macarrão na máscara! Pois é, até pra usar máscara é preciso ter estilo; tem
gente que consegue ficar elegante com
aquele paninho sufocante tampando o nariz e a boca. Já outros estão se
especializando em usar os olhos e as sobrancelhas para expressarem todos os
tipos de sentimentos, pois agora, mais do que nunca, os olhos são a janela da
alma. Nem adianta mais sorrir para as crianças na rua.
Outra consequência
da necessidade do uso de máscaras é a improvisação, como aconteceu no começo da
pandemia. Pessoas com máscaras exóticas e criativas foram fotografadas em um
supermercado e foi realizado um concurso para eleger a mais original. Nas
fotos, vê-se uma mulher que colocou um chapeuzinho de aniversário de criança
tampando a boca e o nariz; outro furou
dois buracos no local dos olhos em um saco de pão e enfiou na cabeça; um senhor
de blusa azul cortou uma garrafa Pet de forma estratégica e deu certinho. Já um
homem de macacão branco usou uma máscara de borracha na forma de uma cabeça de
cavalo. Uma mulher, na moto e carregando as compras, amarrou firmemente uma
bucha de lavar prato na frente da boca. Quem ganhou o concurso foi um senhor
corpulento que enrolou muito bem um saco cinza de supermercado em volta da
cabeça toda (por certo não curtiu o prêmio, morreu sufocado). Eu votaria na
máscara de cabeça de cavalo.
Bem, além do
visual inusitado com as máscaras, ando preocupada porque ouvi que estão
querendo imprimir dinheiro para fazer frente á crise econômica que estamos
atravessando. Uai, como diria o mineiro, é simples assim? Pode? E a inflação?
Sei lá, ando com medo é de voltarmos para a época do escambo. Eu mesma já estou
praticando. Dia desses, uma inquilina minha deixou o imóvel e não tinha como
pagar a reforma. Como ela tinha algumas coisas que não poderia levar, fiquei
com uma cama e uma mesa com quatro cadeiras em troca da reforma. Não sei quem
saiu ganhando ou perdendo, o tal de escambo é difícil.
Estou lendo sobre
isso no livro "Sapiens", de Yuval Noah, onde tem um capítulo muito
interessante chamado "O cheiro do dinheiro". O autor descreve desde a
época em que os caçadores coletores não tinham dinheiro e praticavam o escambo
simples, até o surgimento do dinheiro ,
capaz de converter quase tudo em qualquer outra coisa, tornando-se o mais
universal e eficiente sistema de confiança mútua já inventado. Gostei
particularmente de um trecho onde o autor explica as dificuldades e limitações
do escambo. Exemplifica assim: um agricultor produz as maçãs mais doces da
província. Trabalha tanto que os sapatos desgastam. Enche então uma carroça de
maçãs e vai para a cidade-mercado à beira do rio, tentar trocar com um
sapateiro as maçãs por um par de botas. O sapateiro fica hesitante porque não
sabe quantas maçãs pedir. A última vez que trocou maçãs por sapatos havia sido
há três meses atrás. Na época, pediu
três sacos da fruta. Mas eram maçãs ácidas e o sapato era feminino, não era uma
bota. Além disso, nas últimas semanas uma praga dizimou os rebanhos e o couro
estava escasso, os curtumeiros estavam trocando a mesma quantidade de couro
pelo dobro do número de sapatos. O sapateiro pensa que isso deveria ser levado
em conta, mas não sabe calcular. Além do cálculo, o escambo tem outros
problemas. Ambas as partes precisam querer o que o outro tem. E se o sapateiro
não gosta de maçãs e se o que ele quer mesmo é um divórcio? O agricultor até
poderia encontrar um advogado que gostasse de maçãs e fazer um acordo a três.
Mas e se o advogado estiver cheio de maçãs e estar precisando mesmo é de um
corte de cabelo?
Enfim,
difícil demais o tal de escambo, melhor mesmo o dinheiro. E quanto às máscaras,
ao lado da água e sabão, são as nossas armas mais poderosas nesta guerra contra
o coronavírus. Com elas venceremos.