Quando o
assunto é inseto, logo se pensa em insetos nocivos, como mosca do berne,
mosquito da dengue, pernilongo, barata, barbeiro da doença de Chagas. Mas inseto
é muito mais que isso. Existe cerca de um milhão de espécies descritas e o
número de espécies existentes no planeta, segundo diferentes autores, pode
variar de cinco a dez milhões. O bom é que a maioria das espécies conhecida é
benéfica. Só para dar alguns exemplos: o incrível avanço da genética nos
últimos anos se deve em parte aos estudos com a mosquinha da banana, a
Drosophila melanogaster, que possui cromossomos gigantes nas glândulas
salivares; a maioria das plantas que floresce no mundo depende de insetos
polinizadores, como abelhas, vespas, besouros e moscas, para a produção do fruto;
os insetos saprófagos decompõem cadáveres de animais e plantas; os insetos do
solo promovem aeração e aumento da matéria orgânica; produtos derivados dos
insetos, como mel e seda, movimentam indústrias milionárias.
Além disso, acredita-se
que futuramente os insetos terão um enorme destaque na alimentação humana. Atualmente,
cerca de 30% da superfície terrestre é destinada à agricultura e à pecuária. Os
insetos podem ser criados sem necessidade de áreas específicas para isso e são
uma excelente fonte alternativa de proteína. Embora pequenos, são altamente
proteicos e podem ser criados em massa, devido à sua alta capacidade
reprodutiva e ao ciclo de vida curto. Aliás, a entomofagia, ou seja, o hábito
de comer insetos, é bem antigo e surgiu com os primeiros hominídeos. O povo
asteca já se alimentava com dezenas de espécies de insetos: assados, fritos, ao
molho, fervidos, secos. Hoje em dia são consumidos por diferentes povos em
diferentes regiões do mundo. Por exemplo, pupas do bicho da seda são comidas na
China e no Japão como biscoito e vespas adultas, na forma de churrasquinho.
Ovos de percevejo são o caviar dos mexicanos e os percevejos adultos servem
como condimento do alimento, torrados e moídos com pimenta. Lagartas de
mariposas são comidas normalmente no Zaire e dez delas são suficientes para
suprir as necessidades diárias de um adulto. Gafanhotos africanos cozidos em
água salgada são vendidos nos mercados de Marrocos. Tanajuras torradas são
usadas como tira gosto em Pernambuco. Larvas assadas de vespas são comidas com
farinha pelos índios brasileiros. Insetos enlatados são vendidos nos mercados
americanos, mas o preço é alto. As lagartas fritas são comidas como cereal e os
gafanhotos fritos são usados em pizza.
No entanto, muitas
pessoas possuem aversão a comer insetos (inclusive eu), o que é muito mais
cultural do que científico ou racional. Afinal de contas, outros invertebrados,
como ostras e scargots, escorregadios e gosmentos, fazem parte da dieta humana.
E a "carne" dos insetos tem os mesmos componentes das outras carnes,
mas com muito mais proteínas e vitaminas, representando uma poderosa fonte
alimentar para o mundo que passa fome.
Como tudo é
uma questão de hábito, pesquisas mostram que as pessoas podem comer insetos com
prazer, desde que apresentados de uma forma disfarçada. Estudantes de
entomologia comeram prontamente insetos cobertos com chocolate e também
brigadeiros com farelo de grilo. Por outro lado, comemos insetos- ou seus
fragmentos- diariamente, e nem sabemos. Alface e couve possuem pulgões
diminutos; o arroz é altamente infestado por insetos; a farinha de pão possui
pequeninos e inúmeros fragmentos de insetos; massa de tomate, catchup,
goiabada, sucos de tomate, maçã, manga e goiaba e outros produtos possuem
insetos triturados dentro de um índice aceitável pela saúde publica (isso
aumenta o valor nutritivo do produto).
Assim, como
todos nós já comemos insetos mesmo, e deveremos comer mais ainda em um futuro
próximo, segue uma receita picante de grilo recheado. Ingredientes: uns dez
grilos e amendoins. Retire a cabeça dos grilos e o final do abdômen. Remova o
intestino. Insira amendoins torrados no abdômen. Frite os grilos limpos e
recheados na manteiga ou no óleo. Polvilhe com sal e sirva quente. Importante:
retire as asas e as pernas antes de comer! Bom apetite...
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