A finalidade do meu blog é divulgar as crônicas que escrevo para o Jornal Correio de Uberlândia, sobre assuntos diversos, principalmente casos da família, para que alcancem um público maior. É uma forma de compartilhar com os leitores um pouco da minha vida e de levar um pouco de alegria, pois os textos são leves e divertidos.
A cada dois dias tentarei colocar um texto novo, para manter o interesse dos meus leitores e também algumas fotos para exemplificar alguns textos. Obrigada pelo apoio.
segunda-feira, 25 de novembro de 2019
segunda-feira, 7 de outubro de 2019
A praça
Garrafas retiradas do jardim |
Dia da Cavalgada |
Um dos filmes mais conhecidos de
Alfred Hitchcock, o gênio do suspense, é "Janela Indiscreta". Nele,
um fotógrafo, que se recupera de sua perna quebrada, acompanha com um binóculo
a vida dos seus vizinhos do prédio, observando as suas janelas. Desconfia que
tenha ocorrido um assassinato e o filme se desenrola em meio a romance, drama e
suspense.
Ando
me sentindo como este fotógrafo. Sempre que posso, olho a vida pelas janelas do
meu apartamento na Praça do Rosário, no terceiro andar, bem no coração da
cidade. De uma das janelas da sala, vejo
a Av. Floriano Peixoto e acompanho os desfiles e passeatas. O Sete
de Setembro, as passeatas pró e contra Bolsonaro, a passeata LGBTQ+, os ternos da festa do
Congado. Em um dia de tempestade, estava eu olhando quando dois galhos enormes
do cedro da praça se quebraram. Caíram
em cima de uma fila de carros que passava devagar e um carro pequeno ficou
esmagado. Após longos minutos dramáticos, com a chegada do socorro, saiu do
carro um homem, sem ferimentos. Viveu de novo.
Da
outra janela da sala, vejo a praça em frente à sorveteria Bicota. Durante
algumas tardes, assisto às apresentações de um grupo de capoeira, com músicas
gostosas. Vejo os catadores de recicláveis tentando separar os materiais nos
cinco containers de lixo em frente. Os funcionários dos bares próximos
despejando centenas de garrafas de vidro nos containers, com um barulho
ensurdecedor. Os varredores de rua, toda manhã, sem nunca desistir, retirando o
lixo da praça que fica imunda nos finais de semana. Nas noites de quinta a domingo, aprecio a
multidão. Tem de tudo. Música ao vivo misturada com pessoas tomando sorvete nas
mesinhas. Jovens tatuados, de piercings, de preto, bebendo cerveja na garrafa. Casais
heterossexuais, homossexuais, indefinidos.
Pessoas bem vestidas e bonitas. Outras
com cabelos loucos e coloridos. No dia do Halloween, por exemplo, foi um
desfile de vampiros bem debaixo da minha janelas (mas também tinha alguns
vestidos com saias de bailarina e asas de borboleta). No meio da praça ficam os policiais, tentando colocar um pouco
de ordem. Dia desses, passou um carro
com música estrondosa. Sempre passam por aqui, fazendo as janelas do prédio
tremerem. Só que nesse dia o motorista deu azar, passou justo pertinho dos
policiais. Eles foram ágeis, pararam e levaram o carro, junto com o motorista
espantado. Tenho um neto de seis anos que gosta de olhar o agito também, mas
tem medo da polícia. Fica atrás da cortina, olhando de soslaio. Certa vez,
estava nessa posição quando meu filho chegou, deu uma espiada pela janela e
falou: "Oh, chegou a polícia civil!" E o neto, quase arrancando a
cortina de susto: "O que, a polícia me viu???"
Da
janela do meu quarto, vejo outro ângulo da praça: a Igreja do Rosário, com a
cruz lá no alto e a pracinha na frente (faço o sinal da cruz antes de olhar).
Assisto as apresentações dos ternos do
Congado. Os tambores retumbam dentro do meu quarto e escuto o leilão de prendas
de dez reais. É bonito de se ver as mulheres segurando fitas e dançando em
volta das bandeiras, os homens com chapéus enfeitados e chocalhos nas pernas, as
roupas de cetim em amarelo dourado, verde, azul e branco; os cantos pra Nossa
Senhora. Também observo casamentos aos sábados. Convidados bem arrumados,
noivas chegando em carrões antigos, madrinhas com vestidos da mesma cor, daminhas com vestidos rodados, um luxo.
Durante a semana, aparecem pessoas tirando fotos em todos os ângulos, com a
igreja ao fundo. Outras caminhando, passeando com cachorros, fazendo o sinal da
cruz. Aos domingos, com o sino tocando, o padre fica na porta da igreja
cumprimentando os fiéis antes da missa. Dia desses, à noite, vi uma limousine branca
imensa estacionando na praça. Um motorista elegante, de terno e quepe azul
escuro, abriu a porta para um grupo de mocinhas bem vestidas e tagarelas, que
entraram no carro e lá se foram, não sei pra onde.
Da
janela de outro quarto, quase toco o ipê rosa do jardim da frente do prédio. É
lindo acompanhar suas transformações ao longo do ano: o cair e o nascer das folhas, flores e frutos
e o tapete de flores rosa no chão. Pombinhas, bem- te- vi e periquitos pousam e
cantam em seus galhos. No banco de cimento redondo debaixo do ipê, acontece de
tudo. Pessoas sem teto colocam papelão e dormem. Casais trocam beijos
apaixonados. Jovens compram drogas. Outros bebem e jogam as garrafas no jardim.
Idosos de mãos dadas sentadinhos, talvez esperando a banda passar, como naquela
canção de Chico Buarque: "estava à toa na vida, o meu amor me chamou, pra
ver a banda passar, cantando coisas de amor". Debaixo do ipê tem um
jardim, que tento cuidar. Ando elaborando uma lista do que as pessoas jogam
nesse canteiro. Há itens como guardanapos e fraldas descartáveis; colheres,
canudinhos, copos e tampinhas de
plástico de todas as cores; isqueiros; garrafas pet; latinhas; garrafas de
pinga, de uísque, de gim, de vodka, de cerveja; palitos de picolé e muito mais.
Encontrei até um cobertor azul novo, de bebê, bordado com o nome "Bruno",
que vou reciclar. Por enquanto o jardim está resistindo, mas não sei até
quando.
Da
janela da sala de jantar, sempre que posso , olho o sol se pondo entre os
prédios, com as árvores da praça do Coreto enfeitando. E agradeço por mais um
dia.
E
assim, entre janelas, a vida passa. Com suas dores e suas alegrias. E com a cruz
da igrejinha e o céu azul ao fundo. E com cada por de sol lembrando que, por
mais bonito que seja, amanhã pode ter outro mais lindo ainda.
terça-feira, 23 de julho de 2019
Uma noite em Cachoeira do Manteiga
Margem do rio São Francisco em Cachoeira do Manteiga |
A poesia "Cidadezinha
qualquer", de Carlos Drummond de Andrade, é bem simples, mas expressa, com
ternura e um pouco de ironia, o que é uma cidade pequena:
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Êta vida besta, meu Deus!
Não
tem como ler essa poesia e não pensar em Cachoeira do Manteiga, um povoado na
beira do São Francisco, a quatro km da nossa fazenda. Tudo lá é devagar,
ninguém tem pressa e todos se conhecem. Todas bem moreninhas. Só tem uma rua
asfaltada, o restante é de terra empoeirada. No centro, uma igrejinha singela e
uma praça, onde as pessoas ficam sentadas nos bancos esperando o tempo passar e
a meninada brinca nos aparelhos de fazer ginástica. E uma quadra coberta, onde
tudo acontece: as peladas, as formaturas, a festa junina, os treinos de
futebol. O técnico é o Bill, um ceguinho que anda por todo lado com um guia.
Não sei como, ele apita as faltas direitinho, eu vi. Tem também o Clube
Náutico, onde ficam guardados muitos barcos de pescadores que vêm de longe
pescar no São Francisco, mas os peixes sumiram. E a padaria, que fica aberta só
até o pãozinho de sal acabar. A escola, a creche, um ou dois barzinhos que
vendem pinga, cerveja e salgadinhos .
Nesse
cenário, fomos curtir a noite do último Corpus Christi, em junho. O Zé, eu, minha
filha com o marido e os três filhos. Haveria missa na igrejinha, com o padre
que veio de fora. Depois, a procissão, passando pelas ruas de chão batido que
foi decorado com desenhos caprichados feitos de serragem, folhas e materiais
coloridos. A igrejinha estava lotada e haveria o batizado de um menininho de uns quatro anos, o Vinícius. O Zé, eu e os
netos fomos andando pelo corredor, procurando lugar pra sentar. Só tinha no
primeiro banco e lá ficamos. Acontece que era o lugar dos coroinhas e cantores
e ninguém teve coragem de falar, pois o Zé é fazendeiro conhecido na região. E
daí a missa não acabava. Uma moça leu um salmo enorme, ia passando folhas e
folhas. Tão grande que o Vinícius dormiu de boca aberta e dois netos, pesados,
foram caindo em cima de mim, de sono. Mesmo catequista, não tive outra saída e
disse para o Zé que ia sair. Ele ficou indignado, disse que ficaria até o fim
(claro, era conhecido e estava no primeiro banco, não era por fé não). Saímos e
ele ficou. Fomos comer coxinhas e pastéis no bar da esquina, uma delícia.
Mas a noite estava agitada na
Cachoeira. Havia cinco carros de polícia correndo pra lá e pra cá. O normal é
apenas um, quando tem. Requisitaram reforço policial porque um baderneiro
estava dando cavalo de pau com o carro e estragando os desenhos de serragem que o povo
tinha feito nas ruas. Quando o único policial foi prendê-lo, resistiu à prisão
e fugiu. Daí veio o reforço. Não conseguiram prendê-lo, mas como o irmão também
estava aprontando, levaram o irmão dele e a esposa ficou em prantos (tudo isso
nos contaram enquanto comíamos coxinhas e os carros corriam por ali). Brinquei
com o meu neto de seis anos, o Moisés, que tem muito medo de polícia. Disse-lhe
pra ficar esperto, pois se o Yuri (o irmão dele) aprontar, ele é quem vai preso.
Respondeu-me que isso é injusto e que ia sair correndo.
Nisso,
passou a procissão. E o Zé, todo concentrado, com a velinha acesa na mão. Não
viu nada, não sabia de nada, deve ter rezado muito...Nos juntamos a ele e fomos
rezando e cantando, passando pelos desenhos, alguns estragados pelo vândalo
fujão.
Voltamos
pra fazenda pra dormir em paz. De repente, olhei no espelho e vi que estava sem
a correntinha de ouro e o pingente que sempre uso. Num lampejo, lembrei-me que
a tirei do pescoço para desembaraçar e a deixei em cima da mesa do bar. O genro
se ofereceu pra voltar lá. Foi com o Yuri, de 10 anos. Voltaram sem ela. Mas o
neto, que tinha ficado escondido dentro do carro, com medo dos vários homens
que estavam no bar, disse que viu um de boné vermelho com a correntinha
enrolada no braço e que ele a escondeu. Valente e enfezada, peguei o carro e
voltei pra Cachoeira com o Yuri. Ele, escondido, mostrou-me o moço moreninho de
boné vermelho. Puxei uma cadeira e sentei-me diante dele (tipo estes filmes de faroeste).
Olhei-o bem nos olhos e disse-lhe que tinha esquecido a minha correntinha em
cima da mesa. Perguntei-lhe se ele não a tinha encontrado. Enrolou um pouco e
disse que ia me ajudar a procurar. E no mesmo instante a encontrou caída no
meio da terra. Assim a recuperei.
Pois
é, Carlos Drummond, mesmo nas cidadezinhas com bananeiras e laranjeiras e onde
a vida passa devagar, muitas coisas acontecem.
sexta-feira, 28 de junho de 2019
Prece fitness
Existe um
vídeo circulando na internet de um gordinho simpático conversando com Deus,
intitulado "Como emagrecer graças a Deus". De rosto redondo, cabelos e sobrancelhas bem
pretas, está de camisa amarela ajoelhado ao lado de uma cama, de mãos postas.
Fala com Deus de maneira fluente e espontânea, com voz clara e pausada. Olha
pra cima e pra baixo, fecha os olhos de vez em quando, sorri, mexe as mãos
várias vezes, dá umas risadinhas, pede perdão quando fala alguma asneira.
Achei a
"prece" dele criativa e divertida demais, assim como as expressões
faciais. Ele fala mais ou menos isso: "Senhor, estamos aqui mais uma vez
em prece. Eu estava querendo ser fitness, porque devemos ter cuidado com esse
corpo físico, essa máquina maravilhosa que o Senhor nos deu para evoluir. Não
sei se o Senhor tem acompanhado aí do céu, mas aqui na terra tem essa
exigência, a gente tem que ser fitness. Não estou querendo dar pitacos, afinal o
senhor é Deus e eu sou homem, mas acho que teve um erro de planejamento. Por
que o Senhor não fez as coisas mais gostosas serem as mais saudáveis? Por que a
vagem não tem gosto de lazanha? Por que a alface não tem gosto de nutella?
Pensa comigo. Pra mim, alface sempre foi algo de enfeite. Não, não, sei que é
um ser vivo, que brota, cresce, é bonito, foi o Senhor quem criou. Mas pensa
comigo. O strogonoff tem um valor evolutivo, o homem teve que pensar muito mais
para fazer um strogonoff do que para colher um pé de alface, então teria que
ter alguma vantagem.
Outra coisa,
não estou me metendo, o Senhor é Deus e sabe o que faz, é só uma ideia, uma
dúvida que vou lançar no ar. O corpo humano é perfeito? É perfeito, foi o
Senhor quem fez. Mas tem gente que engorda só de respirar. Eu sou assim, passo perto
de um fast food e engordo. Suspirei, engordei. Entra em mim por osmose, vem de
fora para dentro e me inflo de peso, enquanto o senhor me infla de fé. Mas aí a
roupa não vai cabendo...E tem gente que come como um desgraçado...Não, não,
como uma pessoa perfeita criada por Vós. Tenho um primo assim. O Senhor sabe, ele é uma criação sua. Um vara pau, um palito. Não malha, não faz nada, é a genética.
Acho lindo isso de genética.
Senhor, e
tem mais. O Senhor disse: "Ame o
próximo como a ti mesmo". Não disse ame a alface, ame as verduras, não foi
claro em suas instruções. E tem outra: o Senhor multiplicou foi o pão, o
carbohidrato, não foi a chia nem a quinoa, tem alguma dica aí.
Além de
tudo, eu quero estar cada vez mais empenhado em minha busca pelo bem, pelo
crescimento na fé. Olha o tempo que vou perder fazendo academia, andando como
um hamster, levantando peso quando poderia estar levantando vidas. Então
Senhor, já que podeis tudo, pois sois Deus, eu posso dormir e acordar fitness.
Não é vaidade, é uma coisa simples, não precisa ser uma beleza global, pode ser
um Fábio de Melo, um Tom Cruise, uma pessoa comum. O que eu quero é saúde.
Então é isso, Senhor. Estamos aqui só conversando. Gratidão por tudo. Assim seja".
O vídeo
termina com o gordinho fazendo abdominal em cima da cama, suando em bicas e com
caretas horríveis. Enquanto faz abdominais, conta que descobriu a Prece
Abdominal, uma maneira de falar com Deus, aproveitar o tempo e emagrecer. Depois
pede a benção a Deus e agradece por tudo.
No final está exausto e gemendo. Rola sem querer e cai da cama. Fim.
É isso aí.
Cada um reza como sabe. Mas que seria bom emagrecer pela graça de Deus, lá isso
seria.
quarta-feira, 29 de maio de 2019
Não é bem assim
Luiz Cláudio puxando o cavalo com a Maíra, Vitória e Breno |
Zé na varanda olhando o gado e a chuva chegando |
Fazenda lembra leite e queijo
fresquinhos, gado no curral, cheiro de mato, canto de passarinhos, jabuticaba no pé, comida no fogão de lenha,
céu estrelado. Natureza, paz e amor. Mas não é bem assim.
Por exemplo, só a viagem para chegar até a fazenda pode se transformar
em uma epopeia. Como da última vez que fui com o Zé (meu marido) dois filhos,
dois netos, três cachorras e uma
tranqueira. Começou com o planejamento:
quem vai, no carro de quem, quantos cabem, sai e volta qual dia, quanto de
bagagem (item que inclui desde pneu de
trator até veneno de rato). Os filhos médicos só poderiam sair a tarde e o Zé não concordou.
Nunca transitaria á noite nos buracos enormes, tipo cratera, que existem na BR
365 nas proximidades de Pirapora, perigoso
demais. Fomos e o Zé ficou, justo quem mais precisava ir. Iria à noite,
de ônibus, pois assim passaria pelos buracos de manhã. Levamos a bagagem dele,
só ficou um saquinho com os seus remédios pra ele levar. Fomos bem, no carro
Kia de sete lugares, com a cachorras perdigueiras Dama e a Fiona quietinhas
dentro da gaiola, a Duda latindo esporadicamente e o Breno, de dois anos,
puxando o cabelo e dando uns beliscões na Maíra, de oito. Chegamos às 22 h na fazenda
Água Verde, onde dormimos para continuar a viagem para a fazenda Olhos Dágua no
dia seguinte. Arrumei as camas, ajeitei a casa, as crianças e as bagagens. Os
dois filhos saíram de madrugada, em outro carro, para uma fazenda onde eles têm
um reflorestamento de eucaliptos, dormiriam por lá. Fiquei sozinha com os netos e com a
incumbência de buscar o Zé na rodovia às seis horas, quando o ônibus passaria
na porteira da fazenda. Acordei os netos
e peguei a estradinha de terra. Esperamos um bom tempo e ele não chegou. Daí
consegui receber uma mensagem do filho (lá não tem sinal de celular), avisando
que não precisava esperar porque o ônibus havia batido! Felizmente complementou
que o Zé estava bem. E só, mais nada. O
Zé chegou às 11h, de carona, nem sei como. Desceu do carro abatido e mancando.
Perguntei: "Nossa, Zé, você machucou? " E ele: "Não, é a
gota". Puxa vida, foi a primeira vez em 30 anos que ele foi de ônibus, o
ônibus desta linha nunca tinha batido, bateu em outro numa reta com asfalto bom
e a gota ainda atacou o joelho dele! Muito azar, e tudo porque se negou a ir de
carro conosco. Ainda por cima, levou o saquinho de remédios errado, trocou
tudo.
Continuando
a saga, fiz almoço com o que tinha e fiquei por ali com os netos para o Zé
dormir e descansar antes de seguirmos para pegar a balsa, atravessar o São
Francisco e chegar ao destino final. Coloquei o Breno e a Maíra em cima de um
trator velho. O Breno esbarrou o braço em uma caixa de marimbondos atrás do
banco e foi um ataque em massa. Ele despencou, aos gritos, lá de cima. Eu fui
muito ágil e consegui aparar a queda. Mas só no bracinho ele levou 27
ferroadas. Eu levei várias também. A Maíra correu como nunca e levou só uma,
mas gritou como se fossem 50 (um perigo, se o Breno fosse alérgico, teria
morrido). Coloquei-o debaixo do chuveiro e dei novalgina, fazer o que . Com o
berreiro, o Zé nem dormiu. Resolvemos seguir viagem e pegar a balsa das 15h. Colocamos as tranqueiras no carro novamente e
lá fomos, com o Breno apaixonado e choroso,
mostrando com o dedinho o local das ferroadas, coitadinho. Tivemos
que parar em uma cidadezinha pro Zé comprar os remédios, demorou muito e quase
perdemos a balsa. Durante a travessia, quando estávamos quase na outra margem,
olhei para o horizonte e vi uma tempestade escura chegando. Tão rápida quanto
pude, coloquei os netos dentro do carro e a cachorrinha. Mas a chuva foi mais
rápida e como era uma chuva de pedras, levei umas boas pedradas antes de conseguir
entrar no carro.
Depois,
pegamos uma estradinha de terra, com o Zé todo feliz por estar chovendo na
fazenda. Quando chegamos, nem deu tempo de pensar: "até que enfim!",
pois a casa estava toda inundada, tinha goteira pra todo lado, descia água
pelas paredes. A casa da sede é agradável e bonita, a Globo até filmou lá o
curta metragem "Dia de Reis". Mas neste dia estava um caos.
Tudo
isso foi apenas para chegar. Teve muito mais. Por exemplo, a Dama tem medo de
boi e vaca. Encontrou alguns pelo pasto e saiu em disparada, desapareceu. Foi
uma tristeza geral e muita busca, até que um dia, como mágica, ela apareceu na
varanda, esfomeada. E a Fiona parece que pegou alguma virose por lá e morreu 15
dias depois que voltamos. Quando estava doente, nem tinha ânimo de sair atrás
dos ninhos de galinha de Angola que existem no condomínio onde meu filho mora.
Pois a Dama encontrou um ninho, pegou um ovo com a boca e levou para a Fiona.
Foi o último ovo que ela comeu. Coisas de cortar o coração.
Bem,
agora é tomar fôlego para a próxima viagem à fazenda. Sossego, só em sonhos.
terça-feira, 23 de abril de 2019
Experiências em Portugal
No restaurante em Lisboa |
Em Pinhão, no Vale do rio Douro |
Na Igreja de São Francisco, em Porto |
Em abril deste ano visitei Portugal na companhia das duas filhas. Foram 12 dias de aprendizado, com visitas a castelos, palácios, igrejas, museus, conventos, fortes e praças. Uma oportunidade de voltar ao passado e conhecer sobre as rainhas e reis portugueses, sobre as grandes navegações, os pontos turísticos, o modo de vida. De saborear o bacalhau gostoso regado a azeite, o vinho do Porto e os pastéis de Belém. E também de viver algumas aventuras.
Começamos
nossa viagem por Lisboa. Alugamos um carro e passamos por Sintra, Óbidos, Porto
e fomos até Pinhão, no vale do rio Douro, onde visitamos a igrejinha onde meu
avô Antônio foi batizado. Foi emocionante voltar à terra dos antepassados. Na
volta para Lisboa passamos por Fátima e sentimos a presença de Nossa Senhora
por lá, além de assistirmos a uma apresentação de canto gregoriano. Em Lisboa, nos encantamos com a grandeza do Rio
Tejo e com as suas duas pontes enormes. A 25 de Abril, com 22 km, é irmã gêmea da Golden Gate de São Francisco,
ambas suspensas, vermelhas e muito bonitas. É gostoso andar nas margens, junto
com centenas de turistas, e apreciar o rio. Há inúmeros outros pontos turísticos
, como o Arco da Rua Augusta, onde subimos e tivemos uma linda vista da enorme
Praça do Comércio. O Castelo de São Jorge, da época islâmica, bem no topo da
colina, de onde se tem uma vista perfeita da cidade. A Torre de Belém,
patrimônio da humanidade, construída em 1520 por D. Manuel I, com torres de
vigia e canhoneiras para tiros de artilharia. O Museu dos Coches, com inúmeras
carruagens com esculturas douradas, cheias de histórias, como a usada em 1729
para carregar a infanta portuguesa Maria Bárbara, filha de D. João V, quando
foi levada para se casar com o príncipe espanhol D. Fernando. Os bairros
históricos, como o Baixa Chiado, Bairro Alto e Alfama, com muitos restaurantes e
cafés aconchegantes e nostálgicos, com pessoas cantando fado e com fogo de
labaredas altas pra diminuir o frio. Carros elétricos amarelos, repletos de
turistas, percorrendo os trilhos e as
ladeiras.
Na famosa Avenida Liberdade, no Cine São Jorge,
assistimos o filme Rômulo e Remo, sobre a criação de Roma. Era um festival de
filmes italianos. O diretor estava presente, apresentou o filme e foi muito
aplaudido. Nossa, nunca vi tanto sangue e tanta luta, com espadadas e facadas!
Queria sair no meio do filme, mas fiquei com vergonha do diretor.
Em
Sintra, ficamos em uma casinha branca com cortinas de crochê nas janelas. Visitamos
o Palácio da Pena, onde viveram com suntuosidade Don Carlos I, Dona Maria II,
Don Fernando II. E tantos outros, que acabei confundindo tudo (lembrei-me da
minha netinha Lia: ela fala que gosta só de princesas, pois as rainhas são
sempre malvadas). O Castelo dos Mouros, construído pelos muçulmanos que
conquistaram a península ibérica no sec. X, é impressionante e exige um
excelente preparo físico pra percorrer todas as suas muralhas. O Convento dos
Capuchos, que acabou sendo uma visita um pouco aterrorizante. Os jardins com
plantas medicinais eram interessantes, mas o convento era muito velho, com
quartinhos minúsculos, escuros e sombrios. Ficamos com medo de entrar e
desistimos, chocadas em pensar como deveria ser a vida dos monges que lá
moraram.
Em
Porto, fizemos um city tour de trem ao longo do Rio Douro e atravessamos a
ponte Luís I pra ter uma visão bonita, mas o frio estava de congelar. Na
Estação de São Bento, tiramos muitas fotos na frente das pinturas azuis nos azulejos
brancos, verdadeiras obras de arte.
Ficamos horas na Livraria Lello, folheando alguns livros da imensa e valiosa coleção, enquanto nos
escondíamos do frio e da chuva. Visitamos a Igreja de São Francisco, uma
maravilhosa igreja gótica do sec. XVIII, em barroco dourado. Descemos até as
catacumbas e vimos muitas gavetas de pessoas com sobrenomes em comum com os
brasileiros, como Freire, Mota, Guimarães, Carvalho, Silva, Souza. Somos mesmo
descendentes de portugueses.
Em
Pinhão, numa região linda, com muitos vinhedos e oliveiras e onde se produz
vinho e azeite de boa qualidade, alugamos uma casinha bem no alto. O problema
foi chegar até lá, numa estradinha estreita e tortuosa, de paralelepípedos, e
sem nenhuma proteção lateral. Deu muito medo.
Entre
as muitas coisas que aprendemos (além de ficarmos impressionadas com a
quantidade de brasileiros morando e visitando Portugal), vimos que existem
muitas palavras diferentes das nossas. Exemplos: moça é rapariga; ponto de
ônibus é paragem; shopping é fórum; trem é comboio; recepção é recessão; vários
restaurantes juntos é restauração; aberto é abrido; aluguel é aluguer; obrigada
é agradecida.
Enfim,
foi bom demais este tempo passado com as filhas, que moram tão longe, na Bahia
e na Califórnia. Andamos muito, conversamos, rimos, nos divertimos , rezamos o
terço todas as noites e estreitamos os laços mãe e filhas. Quem sabe um dia a
gente volta.
quarta-feira, 20 de março de 2019
Livros são asas
Podemos ir a qualquer lugar do
mundo nas asas das palavras escritas nos livros.
Minhas
viagens começaram com a cartilha "Lalau, Lili e o Lobo", quando
aprendi a ler, e com "A bonequinha preta", quando vibrei com as aventuras da boneca que caiu da janela no
cesto do verdureiro. Na adolescência, lembro-me de "Robinson Cruzoé",
o náufrago que passou 28 anos em uma ilha remota, uma história bonita de dor e
solidão. "0 velho e mar", mostrando
a luta pela sobrevivência, a solidão em alto mar e a captura do grande peixe. "Os
três mosqueteiros", repleto de aventuras eletrizantes, lutas de espadas,
intrigas e romance. O "Guarani", com Peri, o índio corajoso e
valente, e Ceci, a moça bonita de olhos azuis, ameaçados pela guerra dos
Aimorés. "Anna Karenina", com 864 páginas. Demorei, mas li toda a
história da aristocrata russa que viveu um romance de luz e sombras, com salões de
festas repletos de vestidos de renda, música e perfumes. Emocionei-me com
muitos outros romances, como "E o tempo levou", também enorme, mais
de 1000 páginas, contando a impressionante saga da bela Scarlett O`Hara , que viveu
uma conturbada história de amor nos tempos da Guerra Civil Norte Americana. E "Pássaros
feridos", com personagens sofridos e marcantes envolvidos em um amor
intenso e proibido, nas vastas extensões dos campos australianos.
"Gabriela, cravo e canela", com a mulata bonita, sensual e espontânea
apaixonada pelo árabe Nacib, na Ilhéus dos tempos dos coronéis. Outros, com
histórias fortes como "As vinhas da
ira", ao mesmo tempo um romance e um drama, sobre uma família de migrantes
que busca trabalho, comida e dignidade, no caminho para a Califórnia. Já
"Comer, rezar, amar" é um livro inteligente e irônico, com a as
experiências de Elizabeth Gilbert, que busca o prazer na Itália, a devoção na
Índia e o amor na Indonésia.
Além dos romances, outros que
nos ensinam muito. Como "Médico de homens de almas", sobre a vida de
São Lucas. "O homem que não queria ser papa", enfocando o dia-a-dia e
os dilemas do papa alemão Bento XVI. "1808", que mostra como uma
rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e
mudaram a história de Portugal e do Brasil. "O amor que acende a
lua", com textos tão bonitos como: "as árvores sabem que a única
razão da sua vida é viver. Vivem para viver. Viver é bom". Ou livros com muita sabedoria, como "O
arroz de Palma", no qual o Antônio, um cozinheiro de 88 anos, conta que
"família é um prato difícil de preparar. São muitos os ingredientes"
ou então: "um abraço de neto a cada 24h substitui perfeitamente qualquer
tipo de medicamento".
Também há livros que causam boas
risadas, como "As mentiras que os homens contam" e "Casos de
Minas". Deste, não me esqueço do caso do Altino, um ouvinte cativo dos
programas caipiras. Tinham acabado de lançar a água sanitária Super Globo e a
rádio fazia propaganda no intervalo das modas de viola. O Altino um dia entrou
no Bar Polar e gritou pro Mariano, que sempre o atendia: " "Vê aí pra
mim uma Super Globo bem gelada! Ligeiro, ando doido pra provar esse
negócio". O Mariano enrolou como pode mas não teve coragem de contrariar o
Altino, que encheu o copo e virou na boca, com vontade. Engoliu, fez uma careta
horrorosa e disse :"Quá, tanta propaganda, e nem por isso"...Passou
seis meses a leite e biscoito de polvilho. Perdeu o gosto por moda de viola e a
fé em qualquer novidade.
E os livros de suspense,
intrigas e assassinatos? É difícil não ir
direto ao final para descobrir quem é o assassino. Como em "Escrito nas
estrelas" e "Os cinco porquinhos". Nesse, nunca pensei que o
assassino seria aquele que o inteligentíssimo detetive Hercule Poirot descobriu.
Enfim, penso em Liesel Meminger,
a sofrida menina da época da Alemanha nazista, personagem de "A menina que
roubava livros". Ela aprendeu a ler com o livro "O manual do
coveiro", que o rapaz que enterrou seu irmãozinho deixou cair na neve. Em
tempos de guerra, sua vida foi salva diariamente pelas palavras escritas. Os
livros deram a Liesel a capacidade de sonhar com um mundo melhor.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2019
O tênis
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