A
ararinha-azul, Cyanopsitta spixii, é
uma das menores das treze espécies de arara encontradas no Brasil. Foi
considerada extinta na natureza em outubro de 2000, quando as últimas sumiram
do céu brasileiro, por maior que tivessem sido os esforços feitos pelo "Projeto
Ararinha na Natureza" para salvar a espécie.
Agora, a
revista Veja de 21 de novembro, numa reportagem intitulada "Olha elas aí
outra vez", traz uma ótima notícia:
as ararinhas-azuis estão de volta. Sairão da Alemanha e da Bélgica e
virão para o norte da Bahia, no primeiro trimestre de 2019, para duas áreas de
conservação que estão sendo criadas na caatinga, em Juazeiro e Curaçá. Elas se
livraram da extinção porque uma parcela das que foram contrabandeadas para a
Europa e Ásia, no famigerado tráfego de animais silvestres, acabou sendo resgatada
por ONGs de preservação animal e conservada em cativeiro. Hoje restam 158.
Isso é uma
história interessante, que daria um filme. Aliás, já deu. No longa metragem de
animação, "Rio", que foi indicado ao Oscar, a estrela é Blu, uma
ararinha-azul que caiu do ninho no Rio, foi capturada e levada para os Estados
Unidos. Voltou ao Rio, passou por uma série
de apuros, conheceu a fêmea Jade e viveram
felizes para sempre.
Também as
ararinhas-azuis de verdade terão que vencer uma série de obstáculos até poderem
viver na natureza, felizes para sempre. As primeiras cinquenta desbravadoras viajarão de avião de carga viva até Petrolina,
em Pernambuco, o local mais próximo da reserva. A viagem dura dez horas. Antes,
tomarão medicamentos para viajarem calmamente adormecidas em caixinhas, duas a
duas. No aeroporto, passarão oficialmente dos cuidados dos veterinários alemães
para a equipe brasileira. Daí, serão transportadas em camionete até Curaçá,
onde aprenderão a viver em liberdade. Parece fácil mas não é, será um longo
aprendizado. Por exemplo, precisam ser ensinadas a reconhecer e captar na
natureza as frutas, folhas e sementes de que se alimentam. Até agora, receberam
tudo pronto no bico. Também precisarão encontrar locais apropriados para fazer
o ninho. Para isso, faz parte do projeto plantar na caatinga, único bioma
exclusivamente brasileiro, pés de caraibeira,
árvore alta na qual os antepassados da ararinha-azul faziam ninhos.
Outro problema é que precisam saber reconhecer predadores, como serpentes e
macacos (caso contrário, logo estarão todas mortas). Assim, serão usados sons e
figuras de predadores, para causar medo e ativar o instinto de preservação. Outra
barreira a ser vencida é que as avezinhas são escaladoras, gostam de subir cada
vez mais alto nos galhos. Terão que aprender qual galho será capaz de
suportá-las, senão será tombo na certa. Além disso, precisam entender que são
bichos e não gente como a gente, pois animais criados em cativeiro se percebem
mais como humanos do que como seres da sua própria espécie. Mais uma barreira:
a população no entorno da reserva precisará ser conscientizada para participar
no processo de reintegração.
Entre tantos obstáculos a vencer,
talvez o maior desafio seja a reprodução. Além da necessidade de local
apropriado para nidificação, a gestação das ararinhas -azuis, de trinta dias,
produz apenas dois filhotes, uma baixa taxa de fertilidade, que contribui para a
extinção da espécie. As avezinhas até que se acasalam, mas como a população é
reduzida, a infertilidade é alta.
Com tanto
trabalho para se salvar da extinção uma única espécie animal, pode-se pensar
que tudo isso é um exagero. Mas cada espécie à beira de desaparecer é indício
de que uma parte do meio ambiente, essencial á sobrevivência de outras espécies
e do homem também, está desaparecendo.
Oxalá a ararinha-azul tenha sucesso na sua
reintrodução na natureza e volte a colorir com seu voo os céus do Brasil.