Stephen Hawking
Estava eu
envolvida nos meus afazeres domésticos, guando me deparei com a necessidade de guardar
o feijão cozido na geladeira. Procurei
um pote de plástico, de preferência daqueles de sorvete. Incrível como os potes
são dinâmicos, parece que têm vida própria. As tampas somem como por encanto ou
então aparecem várias tampas sem os potes. Ou de repente aparece uma tampa,
vindo não sei de onde, que se encaixa direitinho em um pote guardado há anos
sem a tampa. Ou, sem mais nem menos,
passam a existir apenas potes quadrados e tampas redondas. Um mistério. O pior
é quando a gente pega um pote de sorvete na geladeira pra esquentar um pouco de
feijão e o que tem dentro? Sorvete!
Consegui
guardar o feijão e continuei os meus inúmeros afazeres miudinhos. Fui trocar os
jornais com os quais forro o chão pra Duda, minha cachorrinha, fazer xixi. Sempre uso a "Folha de São Paulo" e como
geralmente dou uma olhada no que está escrito, vi um artigo intitulado
"Hawking deixou um último estudo sobre o "multiverso." Comecei a
ler com interesse. O estudo, resultado de 20 anos de pesquisa, foi enviado para
publicação dez dias antes dele morrer, em março agora (nem sabia que ele tinha
morrido) e indica um caminho para a busca de universos paralelos. O Big Bang
não teria criado apenas um universo, mas incontáveis. Alguns seriam bem
parecidos com o nosso, talvez com planetas semelhantes à terra e indivíduos
como os daqui; outros poderiam ser totalmente diferentes . Céus, se eu já me
sentia menor que um grão de areia no oceano, quando pensava no universo, como
me sentir agora, com infinitos universos? Comecei a divagar, pensando na
genialidade deste grande físico inglês, Stephen Hawking. Ele foi diagnosticado
aos 21 anos com esclerose lateral amiotrófica e lhe deram três anos de vida,
mas viveu mais de 50 com a doença. E ainda casou-se duas vezes, teve três
filhos, viajou pelo mundo todo e tinha muito senso de humor. Ao longo dos anos,
perdeu a voz e todos os movimentos do corpo, até se tornar basicamente um cérebro
brilhante em cima de uma cadeira de rodas. Ele tinha uma voz eletrônica e por
meio de um sintetizador escolhia as palavras na tela do computador, usando o movimento
das bochechas (e eu a, uma reles mortal, contrariada porque meus joanetes não
estão cabendo nos meus sapatos). Mesmo com tantas limitações físicas, foi um
dos cientistas que mais contribuiu com a física quântica, com os estudos sobre
a origem do universo e as radiações dos buracos negros (e eu, sem conseguir
encaixar uma tampa redonda num pote quadrado pra guardar o feijão na geladeira).
Enfim,
recortei o artigo sobre o Hawking e guardei, não poderia deixar a Duda fazer
xixi num artigo tão importante. E pra me
consolar sobre minha pequenez dentro destes
universos infinitos, fui ouvir a música "Detalhes" do Roberto Carlos:
"detalhes tão pequenos de nós dois, são coisas muito grandes pra esquecer
e a toda hora vão estar presentes, você vai ver..." Continuando, ele fala do ronco barulhento do
seu carro, da velha calça desbotada, dos erros do seu português ruim. Consolei-me
com essa canção tão bonita sobre coisas miudinhas e fui organizar a prateleira
dos potes plásticos, já que não tenho mesmo a genialidade do Hawking.
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