Enzo e o seu pai |
Lia |
Maira |
Este
texto é um pouco pornográfico, mas é baseado em fatos verídicos. Envolve os
questionamentos de crianças que querem saber de onde vieram, de como foram
feitas e os apuros das mães para explicar. Mais precisamente, trata da
curiosidade do meu neto Enzo, americano, de nove anos e da solução encontrada
pela minha filha para explicar tudo.
Preocupada
com tantas perguntas, ela resolveu se aconselhar com uma amiga que tem filhos
da mesma idade e mora em uma fazenda de criação de porcos e ovelhas. Os seus
dois filhos estavam acostumados a ver os animais cruzando e os filhotes
nascendo. A amiga comprou o livro "It's not the stork" (não é a
cegonha) e leu para eles. Os meninos entenderam tudinho, sem dramas e sem
muitas perguntas.
Animada,
a filha comprou o livro, um bestseller sobre as diferenças entre meninos e
meninas, transformações no corpo, bebês, famílias e sexo, indicado para
crianças de quatro a seis anos e escrito por especialistas (isso de acordo com
as informações sobre o livro). Assim, quando o Enzo começou novamente com
aquelas perguntas difíceis, ela leu o livro para ele. Aliás, tentou. Foi lendo
e mostrando as ilustrações (ela nem tinha aberto o livro antes para ver como
era). Chegou a netinha Lia, de seis anos,
e ela continuou a ler, não tinha como parar. O Enzo ouvia todo concentrado. Nas
explicações sobre diferenças entre meninos e meninas, tinha esquemas de pênis e
vagina. Depois, o desenho do papai e da mamãe deitados na cama, abraçados,
cobertos com um lençol. De repente, o Enzo teve um insight, ficou vermelho,
começou a pular e a gritar várias vezes: -"The penis goes inside the
vagina!" Minha filha pensou que ele ia ter um enfarte e queria encontrar
um buraco onde se enfiar. A Lia foi mais direta ainda:-" Oh! Did the daddy
put his penis in your vagina?!?" Ela, a filha, sem saber o que falar ou
fazer, mandou que calassem a boca pra continuar a ler o livro, mas não foi
possível. Assim, a inocência deles foi perdida para sempre.
O
pior é que ela teve que contar para o marido o acontecido. Ele até recebeu a
narração dos fatos com serenidade. Apenas argumentou que o Enzo não precisava
saber disso agora, pois ele ainda acredita no coelhinho da Páscoa. É verdade.
Eu estava lá na última páscoa. A filha sempre coloca duas cestinhas de ovos
escondidas e uma trilha de ovinhos para levar até a cestinha. Faz isso depois
que ele e a Lia dormem. E o Enzo não queria dormir, pra pegar o coelhinho no
flagra...
Depois
disso, a conversa dos dois girava em torno de pênis e vagina. A filha implorou
para que não contassem nada na escola. A Lia seria até expulsa, falando desses
assuntos com a sua turminha de cinco e seis anos. Quando estive lá
recentemente, com um neto de 10 anos e outra netinha de seis, o tema ainda
estava no auge. Um dia a Lia brigou com a priminha, fechou-a do lado de fora da
casa e gritou (ela fala português também): "Ih, se você quiser um bebê o
pênis vai na sua vagina!' A priminha, que vive em outro mundo e não sabia nada
do livro, gritou de volta: "-Na minha não, na sua!"
No
meio de toda a confusão, os adultos ficam olhando angelicamente para cima,
fingindo não escutar e não ter nada a
ver com isso. E provavelmente preferindo explicar para as crianças que a
responsabilidade de trazer os bebês ao mundo é mesmo das cegonhas.